Noite de grande futebol e uma unanimidade: Cruzeiro e Grêmio fizeram o melhor jogo de 2017 até agora

O legado da Copa do Mundo ao Brasil é altamente questionável, em quase todos os aspectos. Mas um deles parece inegável: o Campeonato Brasileiro melhorou bastante de dois anos para cá, pelo modo como as equipes passaram a atuar. Em 2015 e 2016 tivemos várias boas partidas (ao contrário de 2014, que foi um verdadeiro festival de times fechados e 0 a 0s e 1 a 0s), times interessantes e que passaram a valorizar o toque e a posse de bola como aspectos primordiais na criação de jogadas. Até equipes que não ganharam nada grande nos últimos 30 meses, como Santos e Atlético Mineiro, encheram nossos olhos muitas vezes por isso. Em 2017, há uma verdadeira sucessão de ótimos jogos sendo disputados por aqui. O de ontem, Cruzeiro 3 x 3 Grêmio, é provavelmente o melhor deles.

É verdade que houve erros defensivos de parte a parte, mas, ao contrário de alguns outros jogos deste Brasileirão, desta vez convém destacar as ótimas atuações ofensivas de mineiros e gaúchos. Por exemplo: se Geromel e Kannemann erraram além do que costumam, é impossível negar a ótima atuação do quarteto ofensivo do Cruzeiro. Thiago Neves, Rafael Sobis e Robinho deixaram cada um o seu golzinho, e o veloz Alisson deu enorme trabalho ao lateral Edílson, especialmente no primeiro tempo. De ataque até então pobre no Brasileiro (cinco gols em sete jogos), a Raposa desabrochou ontem, com três gols em jogadas muito bem construídas, que envolveram a normalmente sólida defesa tricolor.

Elogiar o Grêmio, por sua vez, já se tornou repetitivo. É impressionante a capacidade de articulação do time de Renato Portaluppi. Maduro e desassombrado, o Tricolor suportou a normal pressão do time mandante nos primeiros 10 minutos para, como diante do Fluminense, controlar completamente o meio-campo e o jogo no Mineirão. Fez mais um gol na jogada ensaiada do escanteio (o quinto em 45 dias), ampliou sua vantagem e parecia encaminhar mais uma vitória avassaladora fora de casa, não fossem as cochiladas defensivas e, principalmente, a grande capacidade de reação da equipe de Mano Menezes.

Vale destacar, mais uma vez, a postura de protagonista que o Grêmio exerce desde que Renato chegou, em setembro do ano passado. Com raríssimas exceções, o time gaúcho jamais joga fechado, de maneira covarde. Sofreu um empate num momento duro (comecinho do segundo tempo), mas não tremeu diante do Mineirão em polvorosa: voltou a colocar a bola no chão, fez 3 a 2 em mais um dos tantos golaços coletivos que tão bem sabe construir e, mesmo sofrendo um banho de água gelada com o novo empate cruzeirense, voltou a se adonar da partida e por muito pouco não a venceu. A cabeçada de Ramiro que não entrou após um passe genial de Luan foi um verdadeiro pecado. O contra-ataque de quatro contra um no primeiro tempo, iniciado numa espetacular chaleira de Pedro Rocha, também.


Os torcedores gremistas que lamentaram o empate o fizeram muito mais pelas circunstâncias favoráveis que o jogo apresentou em diversos momentos do que pela atuação do time em si. Mas é preciso ter os pés no chão, algo que a campanha espetacular da equipe em 2017 às vezes impede: empatar com o Cruzeiro, em Belo Horizonte, não é tarefa simples. O Grêmio chegou ontem a dez partidas invicto com seus titulares na temporada. Com seu time principal, tem 18 vitórias, 8 empates e só duas derrotas em 28 jogos no ano, um aproveitamento de 73,8% dos pontos disputados. A equipe marcou ao menos um gol em todos esses jogos. Somando 2016 nesta conta, já são 31 jogos seguidos nos quais o time marca ao menos uma vez - a última partida sem gols dos titulares foi o 0 a 0 com o próprio Cruzeiro, pela semifinal da Copa do Brasil.

O empate não foi o ideal na briga particular com o Corinthians, mas o 0 a 0 do Timão com o Coritiba, domingo, amenizou bastante o "tropeço" de ontem. Com 19 pontos, o Grêmio tem quase 80% de aproveitamento, pontuação de campeão, e é um dos poucos times que jogou três vezes em casa e cinco fora no campeonato. Ultrapassar o Corinthians seria ótimo, claro, mas o principal é manter um rendimento compatível com a ponta, mais que assumir a primeira posição agora. O campeonato é longo, e não de tiro curto.

O mesmo vale para o Cruzeiro, mas na outra ponta. O 14º lugar no qual o time entrou em campo ontem é ilusório - não apenas pelo bom potencial técnico que há na Toca da Raposa, mas porque o equilíbrio é imenso. Claro que é preciso evoluir: diante de uma equipe que joga o fino da bola em termos coletivos, ficou evidente que o Cruzeiro ainda precisa crescer muito para brigar por grandes títulos. Mas o modo corajoso e sanguíneo como a equipe encarou o melhor time do país no momento merece muitos elogios.

Fotos: Daniel Coelho Teobaldo/Ag. Press Digital/Grêmio.

Comentários

Chico disse…
O jogo mais difícil do Tricolor na temporada.

Muito acertada a decisão de colocar o Everton no lugar de Maicon.