Uma tarde de muito chuveirinho e pouco futebol

Grêmio ainda busca melhor forma de encaixar Barrios no time
Nem as vaias, nem o resultado: o que mais preocupa no empate do Grêmio com o Veranópolis é o modo como o time de Renato Portaluppi se portou com Lucas Barrios em campo. A figura do tal "fazedor de gols" é importante, mas, mesmo sendo ele um atacante de seleção nacional, não deveria moldar o modo de a equipe jogar. Não neste caso: o Grêmio é um time montado, com estilo de jogo competente e definido há dois anos. É Barrios quem deve se encaixar nesta engrenagem, e não o contrário.

Talvez seja só uma primeira amostragem, mas o que se viu na Arena foi, em grande parte da tarde, um modo de jogar completamente distinto do que o Tricolor sabe - e empobrecido, sobretudo: em vez de buscar a criação através de toques rápidos e envolventes, o Grêmio buscou durante quase todo o jogo a linha de fundo. Foram mais de 30 cruzamentos, um número acima do que se deve e muito superior ao que esta equipe está acostumada. Como se Barrios se resumisse a um trombador cabeceador, e como se ele não soubesse ser parceria qualificada para tabelamentos. O paraguaio sabe, e bem, jogar por baixo também.

É claro que pesou para o cenário a ausência dos dois criadores mais importantes da equipe: Miller Bolaños e Maicon. Luan, recuado, não rendeu o que sabe. Desta vez, curiosamente, foi pela ponta direita que ele jogou melhor, no segundo tempo - embora o golaço que tenha marcado tenha sido como centroavante, que é onde ele melhor se sai. Mesmo assim, foi mais uma tarde onde a equipe fez força para jogar. Em vários jogos do Gauchão já foi assim.

O Veranópolis, é verdade, não teve um volume que tornasse o empate o resultado mais adequado para a partida, mas mostrou ser um time organizado e muito bem treinado. No primeiro tempo, ocupou o campo gremista e não se furtou de jogar mesmo após sair à frente, no frango do goleiro Léo. Nomes como Eduardinho, Jadson e Gustavo fizeram ótima partida na Arena. Em nenhum momento o time da serra apelou para chutões: procurou sempre sair jogando, trocando passes, fazendo a bola fluir. A boa campanha no Gauchão não é à toa.

Na etapa final o cenário mudou com o gol logo cedo. O empate gremista assustou o time visitante, que se postou recuado demais e não teve grandes chances de contra-atacar. A entrada de Lincoln melhorou bastante o Grêmio, e a troca de Barrios por Everton caiu como uma luva, sinal de que a entrada do paraguaio na equipe ainda carece de ajustes importantes para funcionar bem. A virada parecia na fôrma, até que a saída de Michel para a entrada de Gastón Fernández matou a reação. Se as duas primeiras mexidas de Renato foram cirúrgicas, a terceira foi um exagero: muita gente empilhada na frente, o que obrigou o argentino a ser segundo volante. Não podia dar certo.

Nada disso significa que Barrios e La Gata não devem jogar, pelo contrário: é entrando no time que estas peças tão qualificadas vão se entrosar e achar seu espaço. Por sinal, é preciso levar em conta que o paraguaio atuou boa parte da tarde com dores musculares, o que ajudou a comprometer a qualidade de sua atuação. O que não dá é para Renato cometer o erro (muito comum) que vários treinadores cometem: tentar escalar os melhores, sacrificar o conjunto em função disso e transformar o luxo de ter vários ótimos jogadores em problema. O Grêmio é um time com identidade definida desde 2015, e não pode prescindir dela para buscar grandes títulos - até porque, além de ser o caminho mais curto, foi este estilo de jogo que lhe deu a Copa do Brasil no ano passado.

FICHA TÉCNICA
Campeonato Gaúcho 2017 - 1ª fase - 8ª rodada
Resultado de imagem para gremioGRÊMIO (1): Léo (4); Léo Moura (7), Rafael Thyere (6), Kannemann (7) e Marcelo Oliveira (5); Michel (6) (Gastón Fernández - 5), Jaílson (4) (Lincoln - 6), Ramiro (6) e Luan (7); Pedro Rocha (4) e Barrios (4) (Everton - 6). Técnico: Renato Portaluppi
Resultado de imagem para veranopolisVERANÓPOLIS (1): Reynaldo (6); Vinícius Bovi (6), Zé Roberto (7), Léo Dagostini (6) e Jadson (7); Mateus Santana (7), Jonatan Lima (6), Eduardinho (7) e Athos (6) (Willian Favoni); Gustavo (7) (Jean Carlos - 5) e Kayron (5) (Gil Mineiro - 5). Técnico: Tiago Nunes
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS); Data: domingo, 19/03/2017, 16h; Clima: parcialmente nublado, 25ºC; Árbitro: Roger Goulart; Público: 13.239; Renda: R$ 412.362,00; Gols: Gustavo 26 do 1º; Luan 4 do 2º; Cartão amarelo: Léo Moura, Kannemann, Gastón Fernández, Barrios, Zé Roberto, Jadson, Mateus Santana, Jonatan Lima, Athos e Gil Mineiro; Melhor em campo: Léo Moura; Nota do jogo: 5

ESTATÍSTICAS
Chances de gol: Grêmio 9 x 4 Veranópolis
Finalizações: Grêmio 8 x 7 Veranópolis
Escanteios: Grêmio 6 x 1 Veranópolis
Faltas cometidas: Grêmio 8 x 20 Veranópolis
Passes errados: Grêmio 46 x 54 Veranópolis
Desarmes: Grêmio 12 x 27 Veranópolis
Posse de bola: Grêmio 57% x 43% Veranópolis
Análise: os números refletem bem o que foi o jogo. Pelo número de desarmes e faltas, fica claro que o Veranópolis marcou muito o Grêmio. Pelo equilíbrio nas finalizações e até razoavelmente na posse de bola, vê-se que o time da serra também não abdicou de tentar o jogo. O Tricolor foi mais presente no ataque, mas criou menos do que deveria para vencer a partida. Ficou devendo de novo.

FUTEBOL DE BOTÃO

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

Comentários

CHICO disse…
TODO JOGO DO TRICOLOR NO GAUCHÃO É A MESMA COISA. O TIME FICA JOGANDO EM CÂMERA LENTA ATÉ LEVAR GOL E AÍ COMEÇA A JOGAR E, CONFORME O TEMPO VAI PASSANDO, VIRA UM DESESPERO.

JÁ TÁ NA HORA DA EQUIPE COMEÇAR A JOGAR. O QUE MELHOROU O TRICOLOR FOI BOTAR O RAMIRO NO MEIO.O QUE ACONTECEU COM BRUNO GRASSI?