Pragmatismo dentro de campo, explosão fora dele: o Grêmio, enfim, é campeão de novo

Maicon ergue a taça, gesto sonhado pelos gremistas há 15 anos
O que menos faltou ontem durante o dia em Porto Alegre foi gremista eufórico. E isso dava medo em outro tipo não tão comum, embora presente antes da final com o Atlético Mineiro: o gremista preocupado com o oba-oba, com o "já ganhou". Era inevitável: a vantagem de 3 a 1 obtida na ida, somada ao enorme jejum de títulos dos últimos anos formaram uma combinação absolutamente explosiva, capaz de dar à Arena sua lotação máxima e à Avenida Goethe uma festa de proporções enormes até mesmo em comparação com outras já realizadas por ali.

O contraste mais interessante desta final reside justamente aí: a euforia que tomou conta do Rio Grande do Sul nas últimas semanas em nada tinha a ver com a postura prussiana adotada pelos jogadores do Grêmio ontem, e em toda a Copa do Brasil. Em todas as fases, o Tricolor abriu vantagem no primeiro jogo e fez resultado suficiente para passar no segundo - seja quando o mata-mata começava na Arena ou fora dela. Algo notável para um clube tão traumatizado por derrotas em jogos decisivos nas últimas temporadas.

Muitos compararam as duas brilhantes atuações gremistas contra Cruzeiro e Atlético no Mineirão. Pois o jogo de ontem foi também quase um espelho da partida da Arena na semifinal. Dono de larga vantagem, o Grêmio começou um tanto nervoso, uma tensão relativamente normal, que logo foi controlada. O adversário estava mais organizado que no jogo da ida, outra coincidência notável. Mas em nenhum momento da noite o Galo deu as cartas. A partida sempre foi disputada dentro dos limites estabelecidos pelos gaúchos, o que mostra, além da organização e da confiança, a enorme maturidade do time de Renato Portaluppi.

Perfeito no combate a Pratto, Kannemann foi um dos nomes da final
Com três volantes e três atacantes de início, o Atlético apostava nos recuos de Luan e Robinho para fazer a ligação. Mas a dedicação gremista neutralizou este poder de fogo: criticado por torcedores pelo primeiro tempo discreto, Everton foi muito importante nos 45 minutos iniciais por ajudar a brecar um possível dois-um de Marcos Rocha e Luan em cima de Marcelo Oliveira. Este foi só um exemplo, claro: a vitalidade de Maicon e Walace, a segurança impressionante da dupla de zaga e a dedicação ímpar de Ramiro foram argumentos fundamentais para que o time gaúcho mantivesse o controle da situação com segurança e consistência.

O crescimento de Everton no segundo tempo se deu menos em função de algum tipo de orientação de Renato e muito mais por conta do espaço dado pelo Atlético. Cada vez com menos tempo e diante de uma necessidade ainda gigantesca de marcar gols, Diogo Giacomini foi abrindo seu time e perdendo a consistência inicial que equilibrou o duelo tático do jogo no primeiro tempo. Com apenas um volante e cinco homens de frente na parte do final do jogo, o Galo praticamente ofereceu o contragolpe ao Tricolor, sem conseguir sucesso ao tentar vazá-lo. Foi num desses contra-ataques, nem tão rápido assim, que surgiu o gol do título - jogada de Miller Bolaños, que também passou pelos pés de Luan e Everton e terminou no próprio Bolaños. O golaço espetacular de Cazares nos acréscimos possivelmente nem foi visto por muitos torcedores que ainda comemoravam a redenção do minuto anterior (uma pena, diga-se, pois foi antológico).

Trazido para decidir e dar títulos ao Grêmio lá em fevereiro, Miller Bolaños não se justificou em 2016, termina o ano na reserva, mas fez o que dele se esperava na decisão. A campanha gremista começou com um gol dele em Curitiba diante do Atlético Paranaense e terminou com um dele ontem. Mas, embora importante, não foi ele o jogador do momento decisivo. Claro que fazer o gol que simboliza o penta da Copa do Brasil entra para a história, mas a trajetória do Grêmio na competição conta, por exemplo, com o gol decisivo de Everton diante do Palmeiras, em São Paulo; o golaço de Luan na semifinal diante do Cruzeiro; os gols de Pedro Rocha contra o Galo; e o de Everton, em cruzamento de Geromel, talvez o verdadeiro gol do título.

Festa pelo penta varreu a madrugada em Porto Alegre
A desforra gremista também passa decisivamente por Marcelo Grohe. Falhar no gol de Cazares não é nada para um personagem que salvou um chute à queima-roupa de Júnior Urso no primeiro tempo do jogo de ida da final. Mas o principal lance dele na competição talvez remeta às oitavas de final: imaginem qual o cenário do Grêmio neste momento se ele não tivesse defendido a cobrança de Wéverton na decisão por pênaltis diante do Furacão? De ídolo instantâneo da zaga e um dos heróis da conquista, Kannemann se tornaria o vilão perna de pau que isolou o pênalti que eliminou o Grêmio da disputa, por exemplo. E Renato Portaluppi, por sua vez, começaria sua passagem pelo clube com uma eliminação logo na estreia.

Os detalhes no futebol realmente jogam fora ou abençoam trabalhos. O importante, no caso gremista de agora, é notar que desde o início ele teve um norte. Romildo Bolzan não se prendeu a atitudes populistas: preferiu sanar as finanças para tornar o Grêmio saudável, dispensando nomes caros e apostando na base. Tudo isso foi recompensado maravilhosamente ontem, e também na partida do Mineirão, quando justamente dois desses guris prestigiados fizeram os gols decisivos. A sorte também ajuda, claro. Mas explicar o título pela expulsão de Allione no Allianz Parque, por exemplo, é muito menos justo que citar quem realmente merece menção. E a diretoria do clube é, como quase sempre, a origem de todos aqueles que merecem os verdadeiros elogios.

Cada vez mais mito
A saída de Roger Machado em setembro não estava nos planos da direção gremista, e talvez tenha sido o maior erro conceitual de Romildo em sua gestão no clube. Mas a escolha de seu substituto se revelou a mais acertada possível: além da identificação com a torcida, Renato tinha dois bons trabalhos no clube anteriormente. O atual talvez seja o melhor ainda: ao manter o padrão de jogo dos tempos de Roger e corrigir problemas como a bola aérea defensiva e a postura em momentos decisivos, Renato transformou um bom time em um campeão nacional. Depois de entrar para a história do clube como o autor dos dois gols na final do Mundial de 1983, vira agora o treinador que conseguiu encerrar o jejum mais sofrido que o clube já viveu de grandes conquistas nas últimas décadas. A idolatria só aumenta.

Campeão fora de casa
A Arena viveu ontem sua primeira noite de título, mas os grandes momentos da trajetória gremista se deram principalmente fora dela. Em casa, o Grêmio venceu só um jogo, empatou dois e perdeu outro; fora, ganhou três e empatou um. O aproveitamento como visitante é o dobro de como mandante: 83,3% a 41,7%. Mas é mera coincidência: dono de grande posse de bola quase sempre, o Grêmio foi propositivo em todos os mata-matas, dentro ou fora de casa. Impôs-se aos rivais em todos eles, mesmo longe de Porto Alegre. Como três dos quatro mata-matas começaram fora de casa, a campanha ganhou este aspecto curioso - tanto que a única vitória em casa foi contra o Palmeiras, justamente o mata-mata que iniciou pela Arena. Jogar do mesmo modo dentro e fora de casa era algo que muitos reclamavam na época de Roger, quando a campanha no Brasileirão não decolou pela má campanha longe da Arena. Mais um mérito de Renato, portanto.

Campeão pela primeira vez
Brilhante em seus três anos de Grêmio, Geromel conquistou ontem seu primeiro título como jogador profissional, aos 31 anos de idade. As passagens por diversos clubes de pequeno ou médio porte na Europa explicam a curiosidade.

Fotos: Lucas Uebel e Emanuel Denauí/Grêmio.

Comentários

Chico disse…
PENTACAMPEÃO!
Chico disse…
MARACANAZO, MORUMBINAZO E MINERAZO. SÓ O GRÊMIO!

COMO DIRIA O LUAN: "SACHA É UM CUZÃO"!

SERÁ QUE O SACHA TÁ DANÇANDO AGORA?
CHICO disse…
PORTALUPPI:"QUEMNÃO ENTENDE DE FUTEBOL VAI PRA EUROPA, EU VOU PRA PRAIA". A IDOLATRIA SÓ AUMENTA.

MARADOUGLAS, O CRAQUE DO TRICOLOR NA COPA.

KANNEMANN E GEROMONSTRO ANULARAM O SUPER ATAQUE MINEIRO.

O GRÊMIO MAIS UMA VEZ DITOU O RITMO DO JOGO E, COMO FEZ CONTRA O CÚZEIRO, NÃO DEU CHANCES PARA AS GALINHAS.

ROMILDO E PORTALUPPI OS FIADORES DA CONQUISTA!

KANNNEMANN E GEROMONSTRO ANULARAM O SUPER ATAQUE MINEIRO
Franke disse…
O gol inacreditável do Cázares tem uma simbologia que, pra mim, aumenta o valor da conquista do Grêmio. Individualmente, acredito que o Galo tenha um elenco mais qualificado (ou pelo menos badalado) que o Grêmio. Mas, no coletivo, conseguimos ser bem superiores a eles nos 180 minutos. Ou, talvez, nos 178 minutos. Depois do gol do Bolaños, o time justificadamente relaxou, e nisso, nesse momento de abandono do jogo coletivo, se sobressaiu magicamente o talento de um dos ótimos jogadores do Galo. Foi simbólico do valor do título.
Franke disse…
Gol esse do Cázeres que eu chamo de gol parnasiano. Lindo, poético, exato e completamente inútil.
Vicente Fonseca disse…
Cara, essa do gol parnasiano é a melhor definição que vi pro gol do Cazares!

Quanto à questão coletivo x individual, já tive mais certeza a respeito de o elenco do Atlético ser o melhor do Brasil. Do meio pra frente, tenho convicção de que é. Mas do meio pra trás... O Grêmio, por exemplo, tem peças melhores.

Outra questão importante, que tenho sustentado este ano no Carta na Mesa, é a questão de supervalorizar grandes elencos e subestimar bons times, que ganhamos nos últimos anos devido aos Brasileirões longos. A gente muitas vezes olha demais pra banco de reservas e menos pra dentro de campo. No 11 contra 11, o Grêmio tem um time talvez até melhor que o Galo - a começar pelos zagueiros e volantes, por exemplo - fora o fato de ser mais bem treinado.
Chico disse…
O golo do cazares é que nem guria feia com olhos azuis, ou seja, não serve pra nada.