No drama dos pênaltis, os gremistas reviveram dois episódios inusitados de 1997

Walace e Otávio foram dois dos que erraram pênaltis ontem
O torcedor gremista que acompanhou os anos 90 certamente se lembrou ontem de duas decisões por pênaltis dramáticas vividas pelo clube em 1997. Na primeira delas, pelas oitavas de final da Libertadores, o Tricolor disputou uma vaga nas quartas de final contra o Guaraní, do Paraguai. Depois de vencer nos acréscimos por 2 a 1, a equipe de Evaristo de Macedo venceu nas penalidades pelo mesmo placar. As três primeiras cobranças foram convertidas, e as outras sete foram desperdiçadas, numa sequência de erros raramente vista em um torneio de alto nível.

Outra decisão que remeteu à de ontem foi pelas semifinais do Gauchão daquele ano, quando Grêmio e Brasil de Pelotas tiveram de bater cada um 11 pênaltis para definir o vencedor. Como tiveram dois jogadores expulsos ao longo dos 90 minutos, os times tiveram de colocar não apenas os goleiros para cobrarem, mas inclusive foram forçados a repetir batedores, após chegar ao fim da lista. Ao final de 22 batidas, uma vitória por 9 a 8 e a vaga assegurada na decisão.

Ontem, Grêmio e Atlético Paranaense quase chegaram a estes dois exageros de dramaticidade. Após as três primeiras cobranças serem convertidas, os dois times erraram nada menos que seis batidas consecutivas, até Hernâni empatar e forçar as alternadas. A disputa não chegou a ir até o 11º pênalti, mas só parou no oitavo, após cinco erros paranaenses e quatro gaúchos - 9 dos 16 pênaltis não entraram na Arena, sendo seis por méritos dos goleiros Marcelo Grohe e Wéverton e três por erros de pontaria.

Como em 1997, seja de qual decisão estejamos falando, o Grêmio levou a melhor. Mas isso, em relação a ontem, só ocorreu por um demérito inicial. A sorte de Renato Portaluppi é que seu time trazia uma vantagem de 1 a 0 conquistada um mês atrás, quando as coisas ainda iam bem, mas o mau momento da equipe no Brasileiro tirava qualquer certeza de classificação. E o filme das últimas semanas se repetiu: um time que começou até bem, mas foi ficando ansioso com os gols perdidos e quase entrou em parafuso ao sair perdendo - como o Fluminense no domingo, o Atlético Paranaense só teve duas chances de gol, contra sete do Tricolor, e marcou logo em sua primeira investida.

Faltou ao Grêmio, mais uma vez, qualidade nas conclusões. A equipe chutou nada menos que 20 vezes a gol, e pela quinta vez seguida não saiu do zero. Mas a qualidade ofensiva tem caído não só vendo este número, mas o de oportunidades criadas, que é bem menor que nos bons tempos de Roger, quando a equipe criava geralmente de 12 a 15 ocasiões por partida. O Grêmio controlou o jogo inteiro, raramente foi acossado, teve 65% de posse de bola, imposição no campo de ataque, mas criou poucas chances claras para marcar. Ainda assim, foi sem dúvida quem mais mereceu passar de fase. Porque mesmo jogando pouco, foi melhor que o Atlético. E em Curitiba, vale lembrar, foi muito superior.

Mas também cabe lembrar outro aspecto: após a partida na Arena da Baixada, mesmo com a vitória de 1 a 0, houve quem reclamasse o fato de a equipe não ter vencido por diferença maior e matado o confronto ali mesmo. É um velho filme que o Tricolor insiste em exibir há pelo menos um ano: um time com muito volume, muitas conclusões, criação intensa, mas poucos gols marcados. Agora, que nem o número de oportunidades tem sido grande, os gols rareiam ainda mais. Pelo Atlético Paranaense foi possível passar assim, mas já nas quartas será preciso mostrar evolução. A boa notícia é que a classificação traz um pouco de tranquilidade ao ambiente. E tudo o que o Grêmio menos é hoje é um time sereno, seguro e confiante.

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

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