Com Falcão, o time do Inter vai ter o direito de jogar com a bola no chão

Falcão é o 11º técnico a comandar o Internacional desde 2010
A única semelhança entre os técnicos contratados pelo Internacional nos últimos quatro anos é a de que todos são nomes identificados com o clube. De resto, as variações no perfil são enormes: Fernandão sequer era treinador quando assumiu, quanto mais tinha um estilo de jogo definido; a seguir veio Dunga, prometendo comprometimento; para seu lugar, chegou o tampão Clemer. Só aí já contamos três treinadores que tiveram no Beira-Rio sua primeira experiência treinando um clube. Depois, fechando a gestão Giovanni Luigi, o campeão mundial Abel Braga, ofensivista, trazido para soltar um time preso em todo 2013.

Findados os quatro anos de Luigi, chegou Vitório Piffero, e a falta de convicção num perfil prosseguiu. Abel saiu em dezembro de 2014 mesmo dando ao clube sua melhor campanha desde o vice-campeonato de 2009. Veio Diego Aguirre, um treinador muito mais estrategista, de perfil bem diferente do antecessor. Ele caiu após a desclassificação na Libertadores para a chegada de Argel Fucks, o disciplinador, do jogo feio, mas prometendo resultados. Que o mantiveram no cargo até domingo, quando veio a quarta derrota seguida, para a chegada de Paulo Roberto Falcão, muito mais afeito a buscar o bom futebol que resultados a qualquer custo.

Tudo isso é prova de que o Inter não tem convicção alguma de futebol há tempos. Mais precisamente, desde que Luigi assumiu pela primeira vez como presidente, e quando Fernando Carvalho deixou o departamento de futebol. Em 2010, a campanha do bi da Libertadores foi interrompida com a demissão de Jorge Fossati e a chegada de Celso Roth, mas ainda assim se notava ali a manutenção de um perfil mais pragmático, embora com a troca de nomes. De 2011 para cá, não há ideia de para onde o barco está sendo levado. A política de futebol é imediatista e escrava dos resultados. Quando o técnico que chega é a antítese do anterior, já temos um sintoma claro de que isso está ocorrendo. Quando isso ocorre sistematicamente, temos a certeza deste problema.

No entanto, a chegada de Falcão pode trazer um benefício claríssimo ao Internacional: a de voltar a ser um time que busca jogar futebol. Com Argel, na maioria das vezes, no máximo praticou algum esporte parecido com isso. O time dos chutões, dos 36 cruzamentos em um Gre-Nal, da dependência total do pé calibrado de Vitinho, finalmente será arquivado. E isso tudo é uma excelente notícia. Os jogadores colorados finalmente terão o direito de jogar com a bola no chão. Nos poucos bons momentos de futebol da Era Argel, esse estilo de jogo esteve presente. O elenco não é brilhante, mas possui jogadores dotados de técnica do meio pra frente capazes de praticar um futebol bem superior ao que vem sendo apresentado nos últimos 11 meses.

Mas é preciso calma, não dá para se animar tanto com a chegada do ídolo. O motivo é óbvio: a manutenção dele no cargo dependerá muito mais de resultados que de desempenho. Na maioria dos clubes brasileiros é assim, claro, mas no Inter isso tem ocorrido de forma especialmente clara. Se Falcão permanecer no Beira-Rio por pelo menos um ano, já será de certa forma surpreendente. Não apenas porque ele não tem na carreira um trabalho tão longo assim desde sua passagem pelo América do México, entre 1991 e 1993, mas porque a própria direção colorada não tem por prática manter treinadores por uma temporada inteira que seja. Ainda assim, fazer esse Inter jogar mais do que vem jogando já será um bom motivo para sorrisos no Beira-Rio.

Foto: Internacional/Divulgação.

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