A diferença entre campanha boa e de título: o Grêmio já conquistou seis pontos nos minutos finais

Contra o Figueirense, Grêmio venceu sexto jogo em sete na Arena
A ideia de que o Campeonato Brasileiro é longo, e os erros se diluem ao longo de 38 rodadas, serve normalmente para relativizar o peso de pontos perdidos de forma inesperada. Ela colide com outro chavão comum ao certame: o de que todos os jogos têm o mesmo peso e, portanto, são todos decisivos. No caso do Grêmio em 2016, este segundo mandamento vem sendo cumprido à risca, porque a equipe simplesmente se nega a ter de apelar para o primeiro. E isso faz uma enorme diferença na pontuação da equipe.

Contra o Figueirense, o Grêmio chegou à sua terceira vitória na qual o gol salvador chegou no fim do jogo. A tabela precisa de Pedro Rocha e Bobô, aos 47 minutos do segundo tempo, fez justiça ao time que foi melhor em campo, mas que quase saiu dele com apenas um ponto. Diante de Ponte Preta e Santos, a história foi parecida: Luan matou a Macaca aos 49, Marcelo Hermes fritou o Peixe aos 43. Jogos na Arena devem ser assistidos até o fim, especialmente se o time de Roger Machado estiver empatando ou perdendo - contra o Vitória, lembremos, Luan perdeu a chance do empate nos acréscimos, cara a cara com o goleiro. Seria o sétimo ponto arrancado no apagar das luzes.

O roteiro de hoje foi visto muitas vezes nos anos em que o Tricolor parou no "quase": time jogando bem, com grande público na Arena, vencendo com merecimento, mas por placar mínimo. Num lance isolado, cede o empate - e quase toma a virada num par de vezes, por pura desconcentração de seu sistema defensivo. Recompõe-se, arrisca tudo e vai para cima em busca do gol nos minutos finais. Contra o Atlético Paranaense (2013), o San Lorenzo (2014) ou o Fluminense (2015), a bola não entrou por detalhe - detalhes esses que talvez tivessem encerrado o longo jejum de títulos do clube. Neste Brasileiro,porém, a bola salvadora já entrou três vezes.

Vai dar em título? Ainda é cedo demais para saber. Nestes três jogos vencidos na reta final, o Grêmio conquistou seis pontos a mais do que teria se, como era mais comum em outros tempos recentes, não conseguisse chegar ao resultado. Teria, em vez dos 27 pontos atuais, apenas 21. Colocaria-se como candidato a G-4 mais uma vez, e não como postulante à liderança que é desde sempre, mantendo-se colado a Palmeiras e Corinthians. O Brasileirão de 38 jogos tem erros diluídos em detalhes, mas tratar cada partida como decisiva e buscar vencer todas elas, nem que seja no final, faz toda a diferença entre uma campanha boa e uma para título.

Pode-se questionar o fato de que o Grêmio perde gols demais, ou de que tem dificuldades para segurar vantagens. A equipe poderia também sofrer menos em partidas tidas como não tão complicadas, como duas dessas três onde o gol chegou no fim. Afinal, nem sempre vai dar para ganhar na marra, no drama dos acréscimos. Mas uma coisa é inquestionável: a fome de vitória desta equipe. Sabedor de que o título é o grande objetivo, e de que ninguém se contentará em comemorar uma vaga para a Libertadores, o Tricolor tem arrancado resultados a fórceps quando preciso, como em suas melhores épocas dos anos 80 e 90. Não é uma questão de comparação técnica, antes que os mais apressados venham atirar pedras: é uma comparação de postura. E isso, é claro, sobra num time que venceu seis das sete vezes em que atuou dentro de casa.

Foto: Lucas Uebel/Grêmio.

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