Não foi final antecipada, mas o Atlético Nacional deu pinta de campeão contra o Central

Um dos melhores em campo, Guerra comemora o seu gol
Era fácil prever que Atlético Nacional e Rosario Central fariam o melhor duelo das quartas de final da Libertadores. Além de serem as duas equipes que mais qualidade de futebol apresentaram na competição, ambas têm por característica a ofensividade, a agressividade, o destemor em ir para cima do adversário. O difícil era prever quem passaria. Tanto que isso só se definiu mesmo nos acréscimos, em favor dos colombianos, que mostraram ontem que a fase de grupos não foi nada enganosa.

Pelo jogo da semana passada, tudo levava a crer que o momento mais positivo que viviam os argentinos acabaria pesando. Porém, no próprio jogo de Rosário houve um momento em que o Nacional conseguiu reverter uma forte pressão do Central e retomou o controle das ações. Mostrou maturidade e poder de reação dentro da partida. Mesmo sem ter conseguido chegar ao empate na Argentina, demonstrou que tinha condições de reverter a disputa em Medellín.

Ontem, o time colombiano mostrou que está de fato pronto para conquistar a Libertadores, se é que ainda pairava alguma dúvida. Porque ele reverteu uma situação altamente desvantajosa diante da outra equipe que, sabíamos, também mostrava estar pronta para ganhar o título continental. Com sua frieza impressionante, o Central abriu o placar cedinho no Atanasio Girardot, como fizera no jogo de ida e nas duas partidas contra o Grêmio. Era preciso fazer três contra o timaço de Eduardo Coudet, e não tomar mais nenhum. Tarefa que só cumpre quem está realmente preparado para os mais complexos desafios.

E o Atlético Nacional conseguiu. Novamente, se recuperou dentro do jogo, sem afobação ou nervosismo, sem abrir mão de seu plano de jogo. Partiu para cima sem medo, com qualidade para abrir espaços e encaixotar um time que nunca, nos últimos dois anos, se viu acuado, seja nesta Libertadores ou mesmo em âmbito local. Chegou aos 3 a 1 no último lance dos acréscimos, com o artilheiro Berrío em mais uma noite inspirada. Noite que teve gols marcados em outros dois momentos cirúrgicos pelo experiente Macnelly Torres e por Guerra, que teve nova atuação decisiva de Marlos Moreno, nova lição sul-americana de liderança do capitão Mejía, participação efetiva no ataque e na defesa de Bocanegra e Díaz. Só o goleiro Armani, por motivos óbvios, foi pouco visto. Isso diante de Cervi, Rubén, Montoya, Lo Celso e companhia limitada. Não é pouca coisa.

O melhor da Libertadores foi visto nestes dois jogos. Seja quem passasse, sairia do duelo favorito e classificado de forma merecida. As semifinais e a final só serão após a Copa América, muita coisa pode mudar até lá. O São Paulo, por exemplo, mudou muito de fevereiro para cá. O que ainda não mudou em 2016 é a excelência do Atlético Nacional. Nenhum dos demais candidatos que restam mostrou mais futebol que os colombianos até agora no ano. O Rosario Central era o único que realmente rivalizava.

Hijos de Osorio
Reinaldo Rueda e Edgardo Bauza já tiveram tempo e têm enormes méritos em levar Atlético Nacional e São Paulo às semifinais. Mas é inegável que há um pouco do dedo de Juan Carlos Osorio nos dois times. Especialmente no caso dos colombianos, que, com variações aqui e ali, mantêm o mesmo estilo e filosofia de jogo dos últimos três anos. É um trabalho de longo prazo feito em Medellín, o qual já resultou uma boa campanha nas últimas Libertadores e no vice-campeonato da Sul-Americana de 2014. Com o título do Santa Fe no fim de 2015, não é exagero dizer que o futebol de clubes da Colômbia vive um dos momentos mais positivos de sua história.

Drama copero
Claro, se não dá para jamais desprezar o São Paulo no duelo com o Atlético Nacional, o mesmo se pode dizer em relação ao Boca Juniors numa eventual final. Os xeneizes sofreram muito, mas eliminaram o ótimo Nacional uruguaio no drama dos pênaltis, na Bombonera. Vale lembrar: se a semifinal só será daqui a mais de um mês, até lá o Boca pode chegar mais forte do que está agora. Tem elenco, tem qualidade, um bom técnico, tradição e tempo para crescer. Chegou vivo mesmo sem apresentar o futebol de que é capaz. E, se deixaram chegar, que aguentem as consequências.

Não foi só o Gauchão
Se eliminar o Grêmio nas semifinais do estadual já foi uma boa credencial do Juventude para a Série C, a campanha na Copa do Brasil reforça essa tese. Ontem, o Papo eliminou o Coritiba em pleno Couto Pereira: depois de ganhar por 1 a 0 em Caxias, segurou um 2 a 2 que o leva à terceira fase, onde tem chances reais de passar diante de Operário-PR e Paysandu. E não foi o único sucesso do interior gaúcho ontem: o Ypiranga, levou 2 a 1 da Aparecidense, mas também garantiu classificação, mas com a difícil tarefa de agora encarar o Fluminense. Os dois clubes gaúchos abrem sua participação na terceira divisão em um confronto direto, segunda, às 20h30, na Arena do Grêmio.

Sete confrontos definidos
Dos dez jogos da terceira fase da Copa do Brasil, sete já estão definidos: Botafogo-PB x Ceará, Vasco x Santa Cruz, Cruzeiro x Vitória, Atlético Paranaense x Chapecoense, Fortaleza x América-MG, Fluminense x Ypiranga e Botafogo x Bragantino.

Foto: Atlético Nacional/Divulgação.

Comentários

Sancho disse…
I. Grandes vitórias do futebol gaúcho. Estamos, aos poucos, crescendo de novo. Se fôssemos mais para baixo, também, seríamos obrigados a fechar as portas! Vale lembrar que Brasil caiu na primeira fase, mas caiu de pé contra o Furacão. Dos nossos times, só Lajeadense teve resultado ruim.

II. A propósito, por que o jogo entre Papo e Canário é na Arena?

III. Assistir Nacional-Central (vi boa parte do segundo tempo, logo depois do 2-1), ontem, só aumentou minha impressão de que o Grêmio caíra na chave mais dura da Fase Final da Libertadores. Jogo entre dois timaços! E ainda fizeram um jogo daqueles com selo de autenticidade de Libertadores. Espetacular.

IV. Falando em Grêmio, ainda estou incomodado com o planejamento do semestre. Não fazia sentido colocar os titulares contra o Toluca, num jogo que valia nada. Foi só para pegar a chave mais dura. Eu me acalmei um pouco quando me lembrei do passeio que o São Paulo deu no Toluca. Não tínhamos bola para ir a lugar nenhum na Libertadores. O adversário que nos eliminou é o de menos.

V. Nós tínhamos bola para sermos campeões estaduais. Porém, subimos a Serra com time misto, e com a cabeça em Rosário. Deu no que deu. Entregamos o título de bandeja para o Colorado...
Vicente Fonseca disse…
Vamos lá, Sancho:

I - É verdade. Desde a subida do Juventude da D pra C temos visto bons resultados do interior: Novo Hamburgo na Copa do Brasil de 2014, Ypiranga e Brasil subindo ano passado... O Caxias é que não se ajudou recentemente.

II - O gramado do Alfredo Jaconi está sendo tratado e o Centenário não recebeu licença da CBF pra receber a partida - há obras em volta do estádio do Caxias.

III - Não é a chave com mais camisas pesadas, mas é a que tinha, sim, os dois melhores times da Libertadores. Os dois jogos foram espetaculares.

IV - Acho que o planejamento teve seus erros, sim, mas o Grêmio poderia ter ido mais longe - ainda acho um time melhor que o São Paulo. Até porque o Toluca que levou 4 a 0 no Morumbi estava seriamente desfalcado, o que não é o caso do time que tocou 2 a 0 no Grêmio na estreia. Nada justifica a atuação do Grêmio nos dois jogos contra o Rosario Central.

V - Como o Igor falou no Carta na Mesa, talvez o erro tenha sido adiar o jogo com o Juventude por causa da partida em Quito com a LDU. Eu já acho que dava pra mesclar titulares e reservas em todos os jogos, como fez o Aguirre no Inter do ano passado. Entrava com time relativamente forte em todos os jogos, todos os jogadores estariam atuando e se manteria a mecânica. Não tenho dúvida de que o Grêmio era o melhor time do Campeonato Gaúcho, e acho que o desempenho em comparação com o do Inter no Brasileirão que está começando tende a provar isso.
Sancho disse…
Aliás, há horas quero dizer isto que segue.

As formas de classificação para a Copa do Brasil e para a Sul-Americana estão invertidas. Esse torneio que serve de fase preliminar da Copa do Brasil deveria ser algo independente; chamar de "Seletiva das Copas", ou algo parecido.

Para não mudar a quantidade de clubes participantes, bastaria dividir os clubes em 8 chaves de 10 clubes, do que em 10 chaves de 8. O novo arranjo teria 4 etapas:

Primeira Fase (Classificatória) - 32 clubes
Segunda Fase (Quartas) - 64 clubes (48 + 16PF)
Terceira Fase (Semis) - 32 clubes
Quarta Fase (Finais) - 16 clubes

Os 8 campeões de chave se classificariam à Sul-Americana.

A Copa do Brasil seria concomitante à Sul-Americana e teria 16 clubes:

a. os 8 vice-campeões da Seletiva;
b. os 5 ou 6 clubes brasileiros da Libertadores; e
c. os 3 ou 2 clubes melhores classificados no ranking da CBF, dentre os 16 eliminados na Terceira Fase da Seletiva.

Tanto o melhor brasileiro da Sul-Americana quanto o campeão da Copa do Brasil garantiriam vaga na Libertadores; assim como também os 3 primeiros do Campeonato.
Vicente Fonseca disse…
Muito interessante, Sancho. E mais justo que o sistema atual, que em tese beneficia quem é eliminado.
Sancho disse…
De acordo. Há mais de uma solução satisfatória para o planejamento, o problema é achar que o estadual atrapalha. Já cansamos de ver elencos, tanto no Grêmio quanto no Internacional, que encararam esses torneios, às vezes, mais a Copa do Brasil (hoje seria a Primeira Liga), de forma séria, planejada, e bem sucedida. Mas tem que, para começar, querer ser campeão em todos esses!