Atuações geniais e números implacáveis: o espetacular começo do Santa Cruz de Grafite

Grafite se prepara para marcar o golaço da noite no Arruda
A contundência dos resultados talvez assuste, mas não dá para dizer que a largada do Santa Cruz no Campeonato Brasileiro seja algo surpreendente. A fase do tricolor pernambucano é avassaladora há anos, e encontrou em 2016 seu ápice: campeão estadual em cinco dos últimos seis anos, promovido de divisão três vezes no período, começou esta temporada ganhando os dois títulos que disputou em âmbito estadual e regional. Era esperado que começasse o campeonato voando, mesmo sem ter um elenco dos mais badalados. Surpreenderá se mantiver este ritmo absurdo. O que surpreende neste momento, mesmo, é a grande forma do maior condutor desta campanha.

Diante do Cruzeiro, Grafite não fez nada de extraordinário dentro do nível que vem apresentando: simplesmente manteve a média. Marcou dois gols, como diante de Vitória e Fluminense, nos quais mostrou uma qualidade ímpar na hora de criar definir a jogada - especialmente o segundo, onde encobre o goleiro Flávio com imensa categoria, embora no primeiro tenha criado sozinho tudo, e ainda batido o pênalti. Com 6 gols em três jogos, ele atinge a melhor marca da história do Brasileiro por pontos corridos nesta altura da competição. Sozinho, Grafite tem 60% dos gols do Santa Cruz, o melhor ataque da competição. E, também sozinho, marcou mais gols que todos os times da Série A, à exceção do próprio Santa (onde é sócio majoritário nesta conta) e do Palmeiras, que fez 7, só um a mais.

Ainda assim, não dá para resumir o Santa Cruz a Grafite. Numa conta simplista e grosseira, sem os gols dele, o time pernambucano ainda assim terá duas vitórias e uma derrota no campeonato, e dividiria a liderança com o Palmeiras. Um número capenga, mas que deixa claro que há bom trabalho dos demais envolvidos nesta campanha. O ponta esquerda Keno vem sendo um excelente parceiro para o centroavante, colaborando com gols e assistências desde a primeira rodada. Arthur, pela direita, também o deixou o seu ontem. O goleiro Tiago Cardoso, lá atrás, vem sendo sinônimo de segurança. Até o veterano Léo Moura parece recuperado de seus anos mais decadentes, esbanjando disposição, fôlego e qualidade, como no lance que redundou na assistência para o segundo gol de Grafite. Fernando Gabriel, pelo meio, é que decepcionou ontem - mas fez gol na estreia e tem bom entrosamento com os demais colegas de frente.

O que também não chega a surpreender é a má largada do Cruzeiro. A decepção pela perda do título mineiro foi enorme, e o elenco ainda está se adaptando ao português Paulo Bento. O que parecia um ano mais modesto, mas seguro, com a formação de um grupo lá em janeiro, se transformou em uma necessidade de trocar o pneu com o carro andando, e logo na largada da competição prioritária da temporada. Talvez o único bom sinal deste começo fraquíssimo de Brasileirão seja justamente o autor do gol de ontem: o uruguaio Arrascaeta, de desempenho abaixo do esperado em 2015, mas que, todos sabemos, é de quem mais a Raposa pode tirar algo de criativo no panorama atual. Paulo Bento faz bem em apostar nele, e foi retribuído com um golaço de falta ontemno Arruda. Ainda assim, é temerário incumbir o jovem charrua de uma responsabilidade tão grande quanto reabilitar um time gigante em péssima fase num torneio tão complicado.

Foto: Antônio Melcop/Santa Cruz.

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