Sem equilíbrio, nem padrão de jogo, o Palmeiras complicou de vez suas chances na Libertadores

Cuca chega com a missão de formar um time no Palmeiras
Não que não soubéssemos disso, mas ontem ficou escancarado: o legado que Marcelo Oliveira deixou no Palmeiras (enquanto time, não em relação a títulos) foi absolutamente nulo. A estreia de Cuca foi a de um treinador que ainda busca conhecer o elenco e começar a encontrar um modo de jogar para seus comandados. O problema é que ela não se deu no Paulistão, e sim num jogo decisivo de Libertadores. O preço pago, claro, foi alto.

É inacreditável, mas o Palmeiras tem um grupo formado há mais de um ano, uma vantagem imensa em relação à maioria dos grandes clubes brasileiros, mas segue sem um time, um conjunto, um padrão de jogo. Diante do Nacional, Cuca pensou em velhas soluções arquivadas por seu antecessor. Uma foi pensada corretamente: Zé Roberto como meia central, algo que não se vê desde o começo de 2014 no Grêmio, era uma alternativa natural para o time valorizar a posse de bola e segurar a pressão uruguaia no Parque Central. Mas isso também significava a volta do inconfiável Egídio à lateral esquerda, o que deu ao ponteiro Barcia a possibilidade de ser perigoso a noite toda em Montevidéu.

Apesar disso, o pensamento para o jogo foi correto. A ideia era evitar que o Palmeiras oscilasse entre os dois extremos de postura que tem apresentado: o time covarde e inofensivo que tomou um baile do Rosario Central no segundo tempo do jogo da 2ª rodada ou o maluco e irresponsável que atacou o tempo todo, mas vazou atrás diante do próprio Nacional na partida seguinte. Embora mais compactado e seguro defensivamente, o que atuou na etapa inicial de ontem, no Parque Central, foi o primeiro deles.

O Nacional só não amassou mais o Palmeiras no primeiro tempo porque o jogo foi picotado: parou muito, com faltas em excesso e uma carga de tensão enorme, típica de Libertadores. Mesmo assim, o time de Montevidéu teve quatro chances claras e cinco arremates, contra nenhuma chegada perigosa e nenhuma conclusão palmeirense. A postura desagradou tanto o elenco que os jogadores se reuniram logo após o fim do primeiro tempo, ainda no gramado, cobrando-se pública e mutuamente. Cuca, como um psiquiatra que ainda busca conhecer o paciente, só observou, sem interferir no papo dos atletas.

Zé Roberto jogou centralizado, como há tempos não atuava
Vendo que sua equipe não conseguia articular nada, o treinador já chamou Robinho para um papo alongado durante a etapa inicial. Escalou-o no segundo tempo, junto com Gabriel Jesus, cometendo o erro de tirar Allione e manter o apagado Dudu em campo. Na primeira jogada de ambos, Robinho lançou o garoto cara a cara, mas a conclusão por cobertura foi fraca. Dois minutos depois, num contra-ataque, o ótimo Nico López fez aquele que seria o gol da vitória do Nacional. No fim, com a entrada de Barrios, o time paulista atuou num 4-2-4 abertíssimo, sem contenção, nem criação. Faltou equilíbrio pelo lado contrário. E, claro, não deu certo.

Foi justamente em seus únicos minutos de equilíbrio de postura em campo que o Palmeiras sofreu o gol. No entanto, Cuca não pode abrir mão de seguir por esse caminho. Não é uma tarefa fácil: um dos problemas de se encontrar uma formação sólida no Verdão é justamente aquela tida no ano passado como uma de suas qualidades: o elenco vasto. O problema (e já dissemos aqui muitas vezes antes) é que o grupo tem jogadores em excesso, mais do que deveria, mas ninguém que realmente decida. Os antecessores de Cuca nunca conseguiram definir uma escalação (ou pelo menos 15 ou 16 frequentes titulares) muito por conta disso. E o novo técnico, vimos ontem, já começou tateando para ver como iniciar essa busca por um time confiável.

Se teve o azar de estrear em uma partida decisiva, Cuca pelo menos tem a sorte de dispor de 20 dias só de Paulistão para começar a formar um Palmeiras mais forte e entrosado. Ainda assim, a situação é difícil: em três semanas, sua equipe dificilmente chegará a Rosário no mesmo nível de coesão do Central, adversário que obrigatoriamente tem de ser batido para que as chances de classificação se mantenham. Claro, uma vitória na Argentina pode mudar toda a realidade da tabela e afirmar o time antes do esperado. Mas a tendência é que este Palmeiras de 2016 deva ficar de fato forte, mesmo, é no Campeonato Brasileiro. Na Libertadores, a falta de convicção de Marcelo Oliveira e da própria direção em relação ao antigo treinador complicaram a situação, que já não era fácil - pois a chave, sabíamos desde o sorteio, era extremamente competitiva.

Fotos: César Greco/Agência Palmeiras.

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