A aula tática de Osorio na Arena lembrou seus melhores dias no Atlético Nacional

Por enquanto, a única coisa que o São Paulo herdou de Juan Carlos Osorio foram os genes tipicamente (e de forma bem estereotipada) colombianos da irregularidade: uma equipe capaz de atuações desastrosas, como diante Santos, e taticamente perfeitas, como ontem, em questão de quatro dias. Vencer o Grêmio na Arena é tarefa que, no Brasileirão, ninguém ainda havia conseguido. O Tricolor Paulista conseguiu fugir da pressão, controlar o jogo o tempo todo e, mesmo jogando de forma reativa, ter mais chances, mais conclusões e mais posse de bola. Venceu porque foi superior, portanto.

Foi mais um jogo que prova como o Campeonato Brasileiro de 2015 evoluiu em relação ao dos últimos anos em termos técnicos e táticos. Se o Grêmio de Roger deu uma aula tática em Itaquera, o São Paulo de Osorio fez isso ontem em Porto Alegre. Aula tática não é nó tático: nem Tite quarta, nem Roger ontem, foram submetidos por seus adversários. Batidos em termos táticos, sim. No caso deste domingo, Osorio estudou o Grêmio, enxergou suas potencialidades e viu formas de anulá-las. Teve sua estratégia muito bem executada e saiu com os três pontos de forma justa, brilhante até.

Quando saiu a escalação dos times, era difícil compreender o que ele queria com um time com três zagueiros e três laterais esquerdos em campo. E, nos primeiros minutos, ainda se pôde ver Ganso atuando como falso nove. Mas tudo logo ficou muito bem explicado: nesta função, o camisa 10 não compromete por sua falta de combatividades, e poderia estar sempre pronto para iniciar os contragolpes (embora, ainda assim, tenha sido discreto). Mas posição "oficial" nem sempre é função, e todos tinham uma função a executar. Carlinhos, um dos laterais, atuou como apoiador pela esquerda e foi um dos melhores jogadores em campo. Michel Bastos, o outro (que, convenhamos, há tempos não é lateral) foi tão ponta (e direita) como Fernandinho no Grêmio.

No começo do lance do gol, Ganso recua para armar o jogo e percebe a projeção do volante-meia Thiago Mendes. Os dois pontas, Pato e Michel Bastos, já estão abertos, e Carlinhos, meia esquerda, está tão adiantado que nem aparece na imagem. O Grêmio, que tinha uma falta perigosa a seu favor no ataque, volta em desvantagem numérica para marcar. Uma aula de contragolpe
Quem simboliza tudo isso, porém, é Breno, zagueiro de origem. Ele foi primeiro volante, e o primeiro volante que conseguiu anular o visivelmente descontado Luan em todo o campeonato. Além disso, deu qualidade à saída de jogo da equipe, que já tinha o extremamente técnico Rodrigo Caio na zaga. A bola são-paulina saiu sempre de pé em pé, seja pela compactação extrema da equipe ou pela qualidade de seus atletas. Como o Grêmio também atua assim, em vários momentos as ações foram disputadas em poucos palmos de gramado, como um treino em campo reduzido. Altíssima intensidade de parte a parte.

O São Paulo de ontem foi o time taticamente mais bem montado que o Grêmio enfrentou neste Brasileirão. Fechou-se em duas linhas de quatro, com Breno entre elas. Jogava de forma tão compactada que parecia ter superioridade numérica em campo. Roubava a bola de forma a sempre ter alguém para puxar o contra-ataque - normalmente Thiago Mendes e Carlinhos. Fez dois gols no contragolpe, é verdade, mas jamais jogou retrancado. Valorizou a posse de bola tanto que o goleiro Renan Ribeiro participou ativamente de vários inícios de ataque. Era difícil para o Grêmio, acostumado a fazer isso, ter de correr atrás da bola quando mais precisava dela para chegar ao gol. O cansaço veio em dobro.

Um dos raros momentos da tarde em que Luan se desvencilhou de Breno: seu passe perfeito acaba com as linhas de quatro do São Paulo. Fernandinho se projetou muito bem, mas o goleiro Renan Ribeiro fez milagre e impediu o empate
O que Roger demorou a perceber é que a saída de bola do seu time ficou muito abaixo das necessidades para um jogo tão complicado. Geromel ontem fez mais falta por esta qualidade do que por suas virtudes defensivas. Erazo teve jornada quase comprometedora errando passes à frente da área, e Rafael Thyere mostrou insegurança, preferindo balões aos passes curtos, já que eles saíam invariavelmente fortes demais. Sem Maicon, o Grêmio encontrava dificuldades para armar jogadas de trás que começassem redondas, uma premissa básica diante de um adversário que se defendeu tão bem. Talvez o recuo de Giuliano para esta função e a entrada de Bobô ou Pedro Rocha em seu lugar pudessem ter sido testados no intervalo do jogo.

É difícil dizer que o São Paulo vai manter este nível por dois motivos: primeiro, porque ele é alto demais; segundo, porque Osorio varia a formação de acordo com o adversário, algo corriqueiro desde os tempos de Atlético Nacional. Eis a crítica que ele mais sofre: quinta-feira, com a Chapecoense, tudo pode mudar, pode dar errado, ele pode ser chamado de Professor Pardal de novo. Para o Grêmio, por sua vez, e apesar da frustração, a mecânica de jogo precisa se manter. Não é porque Roger foi taticamente superado pela primeira vez que as coisas devam ser revistas.

O pior de ontem para o time gaúcho, bem mais que o desempenho, foi sem dúvida o resultado: se o título ficou quase impossível, a Libertadores passa a ter certa briga. O São Paulo, com quatro pontos a menos, virou adversário de novo, o que não seria caso fosse vencido (a distância iria para 10). Tendo Atlético Paranaense e Palmeiras fora de casa, uma sequência dura, era um resultado fundamental a ser conquistado principalmente pela tranquilidade definitiva dentro do G-4.

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