O peruano Melgar quase conseguiu um milagre inédito na história dos mata-matas sul-americanos



Depois de levar 5 a 0 na partida de ida, em Barranquilla, poucos acreditavam que o Melgar, clube peruano de Arequipa, pudesse chegar à segunda fase da Copa Sul-Americana. A prova é que o Estádio Monumental, com capacidade para 40 mil torcedores, recebeu pouco mais de 5 mil ontem para ver o jogo de volta contra o Atlético Junior, da Colômbia. Pois quem foi à cancha quase testemunhou uma virada épica.

A história dos mata-matas sul-americanos (e europeus, e brasileiros, e por todo o mundo) está cheia de episódios assim. Portanto, apesar da distância enorme de gols entre os dois times, e da atuação terrível no jogo de ida, talvez o torcedor do Melgar tivesse mesmo motivos para acreditar: a fase da equipe no certame local é ótima. O jogo fora da curva foi o disputado na Colômbia mesmo.

Logo aos três minutos de partida, o centroavante Cuesta já abria o placar, dando indícios de que a noite seria longa para o Junior. Na base da empolgação, arriscando tudo, a equipe da casa pressionou muito nos 20 primeiros minutos, em busca do 2 a 0 cedo. Conseguiu o gol pouco antes do intervalo, novamente com Cuesta. Os colombianos, porém, ajeitaram as coisas, reforçando a marcação com o volante Cuéllar no lugar do meia Barrera. Estancaram a pressão, ensaiaram contragolpes perigosos e mantiveram os peruanos longe de sua área até os 25 minutos da etapa final. Foi quando começou a pressão final, e quase definitiva.

Aos 29, de falta, Quina fez 3 a 0. Eram 20 minutos para marcar dois gols. Difícil, mas possível. Enchiqueirados atrás, os colombianos levaram o quarto gol aos 36, com Acasiete. Teriam de resistir a todo custo, pois mais um gol peruano levaria a decisão incrivelmente para os pênaltis. Foram os 14 minutos mais longos da história do Atlético Junior, provavelmente.

A derrota por 4 a 0 classificou os colombianos pelo placar da ida. O confronto, porém, entrou para a história. E teria sido ainda mais histórico se o Melgar revertesse o placar: nunca, em torneios na América do Sul (ver quadro abaixo), uma vantagem de cinco gols na ida foi revertida. Fica o aviso para todos: quem estiver goleando no jogo de ida, que mantenha o ritmo e amplie o placar até onde der. Faz parte da nossa tradição acreditar sempre em viradas malucas.

Algumas das viradas mais espetaculares que ocorreram (ou quase) na história das competições sul-americanas

Boca Juniors x Olimpia (Libertadores, 1989): antes de obter aquela virada histórica sobre o Inter no Beira-Rio, o Olimpia quase sofreu uma na Bombonera naquele ano. Nas oitavas de final, os paraguaios venceram o Boca por 2 a 0 em Assunção e repetiam o placar na Bombonera. Permitiram o empate dos argentinos, mas fizeram o 3 a 2. Porém, levaram três gols nos 20 minutos finais. A derrota por 5 a 3 levou a decisão para os pênaltis. Aí, enfim, o Olimpia se deu melhor e garantiu a classificação.



Olimpia x River Plate (Supercopa, 1990): no ano em que foi bicampeão da Libertadores, o Olimpia protagonizou uma façanha também na Supercopa. Na primeira fase, levou 3 a 0 do River em Buenos Aires, mas foi atrás do placar em Assunção e devolveu o escore. Levou a melhor nos pênaltis e seguiu adiante na competição.

San Lorenzo x Sportivo Luqueño (Copa Conmebol, 1993): os argentinos levaram 3 a 0 no Paraguai no jogo de ida das quartas de final, mas devolveram a diferença e fizeram 4 a 1 em Buenos Aires - na época, não havia saldo qualificado. Nos pênaltis, San Lorenzo classificado.

Sporting Cristal x Nacional-EQU (Libertadores, 1993): depois de levar 3 a 0 em Quito, o Sporting Cristal precisava de uma goleada sobre o Nacional equatoriano em Lima para chegar às quartas de final. Fez 4 a 0 e passou de fase.

Grêmio x Palmeiras (Libertadores, 1995): o mais célebre duelo envolvendo clubes brasileiros. Pelas quartas de final, o Grêmio aplicou 5 a 0 no Palmeiras no Olímpico. Saiu à frente no Palestra Itália (chegando ao 6 a 0 no agregado, portanto), mas foi vendo o time paulista desconstruir gol a gol sua vantagem, até chegar ao 5 a 1. A tentativa de reversão parou por aí, mas assustou, e muito, o Tricolor.

Rosario Central x Atlético Mineiro (Copa Conmebol, 1995): na decisão do torneio, o Galo fez 4 a 0 no Central no Mineirão. Porém, sofreu goleada idêntica na Argentina e acabou perdendo o título nos pênaltis. Esta ainda é a maior diferença já recuperada na história dos mata-matas de torneios sul-americanos.

Cerro Porteño x Estudiantes-VEN (Libertadores, 1999): semelhante ao confronto entre Cristal e El Nacional. O Cerro levou 3 a 0 na Venezuela, mas devolveu com juros a goleada: aplicou 4 a 0 no Estudiantes de Mérida e seguiu até a semifinal da Libertadores.

Palmeiras x Vasco (Copa Mercosul, 2000): outro duelo que entrou para a história. A final previa três partidas em caso de paridade. Como cada um ganhou uma das duas primeiras, um terceiro jogo foi disputado no Palestra Itália. O Vasco tinha a vantagem do empate, mas levou 3 a 0 logo no primeiro tempo. Porém, buscou o 3 a 3 no segundo, com dois gols de Romário e um Juninho Paulista, este o do 3 a 3, aos 41 da etapa final. Como se não bastasse isso, Romário ainda fez seu terceiro gol na noite aos 48, dando aos cariocas uma histórica virada de 4 a 3 fora de casa, buscada em pouco mais de meia hora, e garantindo o título e o eterno apelido de "time da virada" ao Vasco.



Fluminense x LDU (Sul-Americana, 2009): um ano depois da emocionante final da Libertadores, Fluminense e LDU se encontraram por outra final continental, desta vez da Copa Sul-Americana. O enredo se repetiu, com título equatoriano dramático no Maracanã. Em Quito, goleada da Liga por 5 a 1. No Rio, o Flu quase conseguiu o milagre: chegou ao 3 a 0, insuficiente para levar a disputa para os pênaltis.

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