A fase do Vasco é: começar um jogo decisivo tomando gol do Zé Love. De bicicleta



Três dias depois de vencer um clássico pela Copa do Brasil no qual era o franco-atirador, o Vasco entrou no gramado do Serra Dourada esbanjando confiança. Tudo o que a equipe de Jorginho mais precisava era disso: lanterna do Campeonato Brasileiro, iniciava o returno com a necessidade imperiosa de fazer campanha de G-4 para se safar de um rebaixamento tido para muitos como já consumado, mesmo que ainda falte um turno inteiro para o torneio acabar. Encarar o Goiás, rival direto, com torcida dividida mesmo longe do Rio, era o cenário ideal para uma recuperação também no Brasileiro, o certame que realmente interessa, diante das circunstâncias. Era.

A fase vascaína é tão complicada que a equipe começou a partida perdendo logo de cara, tomando um gol de bicicleta de um atacante que já virou motivo de chacota por ter recusado o Milan em 2011, incapaz de reconhecer sua qualidade, no mínimo, limitada. O lance ocorreu aos quatro minutos, e não surgiu de jogada trabalhada, escanteio ou falta perigosa, mas sim de uma improvável cobrança de lateral. Ou seja: foi quando as equipes normalmente se estudam em um jogo decisivo como esse que o time carioca levou essa pancada duríssima, antológica. Era o começo de mais uma noite trágica, a 13ª de 20 (65% dos jogos, portanto) que a equipe já viveu neste Brasileirão 2015.

O descontrole foi geral. Vendo a instabilidade emocional do Vasco, o Goiás se transformou numa espécie de Barcelona do Cerrado, mesmo sendo uma equipe muito limitada (nome por nome, inclusive, inferior à cruz-maltina). Muitos times neste Brasileirão já foram Barcelonas na vida do Vasco. Érik infernizou a zaga que havia parado Guerrero com extrema segurança na quarta-feira, Bruno Henrique passou a noite inteira por Christianno como se ele um fosse um dos jooões russos de Garrincha. Nada disso é um elogio exagerado aos goianos, claro: é apenas um modo de dar a dimensão do terror que se instala na equipe de São Januário quando esta perde o controle de tudo.

Jorge Henrique foi o símbolo disso: quarta-feira, foi um dos protagonistas do clássico. Marcou o gol da vitória sobre o Flamengo, saiu justamente vibrando com os companheiros junto à torcida, exaltou a grandeza do Vasco e prometeu dar o sangue para tirar o time da situação difícil no Brasileirão. Três dias depois, é expulso ainda no primeiro tempo (embora de forma exagerada, pois Bruno Henrique valorizou demais). O contraste é o resumo da equipe carioca: um time que se impõe nos clássicos, vai bem nas competições paralelas, mas é um desastre na mais importante de todas. Dos míseros 13 pontos que ganhou neste Brasileiro, o Vasco obteve seis (quase a metade, portanto) diante dos rivais Flamengo e Fluminense. Nos demais 18 jogos, fez sete, um ridículo aproveitamento de 13,0%. A única vitória foi sobre o Avaí, em São Januário, por um magro 1 a 0 - de resto, quatro empates e 13 derrotas.

Como não basta mais fazer a sua parte, secar é preciso. Ontem, dois resultados foram péssimos: o do Serra Dourada, claro, pois além de perder o Vasco viu um rival direto vencer; e o de Florianópolis, onde o Figueirense fez um favor à turma de cima e virou para cima do Sport, 2 a 1. A distância para a saída do Z-4, que era de sete, subiu para nove pontos. O terceiro rebaixamento em oito anos, situação mais humilhante de um gigante brasileiro desde as sucessivas quedas do Fluminense na segunda metade da década de 90, é cada vez mais real.

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