Simplicidade e tranquilidade: a receita do Chile, o primeiro a convencer na Copa América



Tudo favoreceu o Chile em sua última partida da fase de grupos da Copa América, a começar pelas circunstâncias. Por conta da absurda falha do regulamento, o time de Jorge Sampaoli entrou em campo classificado, sabendo disso. Bastava empatar com a modesta Bolívia, relaxada por também ter jogado classificada, para a liderança do Grupo A vir. Somada esta tranquilidade ao ambiente positivo no Estádio Nacional e a simplificações promovidas por seu técnico, a seleção chilena foi a primeira a apresentar um futebol realmente de primeiro nível na competição até agora.

Antes mesmo do fim do jogo entre México e Equador, o qual definiu as classificações chilena e boliviana, o clima já era diferente em Santiago. Talvez o acidente de Vidal tenha unido ainda mais a equipe, ou feito o até então gelado público da capital do país abraçar de vez a seleção. O clima favorável já era sentido desde o hino, cantado com empolgação superior a outros jogos recentes. O gol de Aránguiz logo na largada, claro, só inflou ainda mais os ânimos.

Mas mais do que a tranquilidade de jogar classificado, sem tanta pressão, e a motivação ainda maior que em jogos recentes, talvez para dar resposta ao Caso Vidal, o principal foi que o Chile jogou de forma simplificada ontem. Quem lembra da Copa do Mundo (quem consegue esquecê-la?) com um pouco mais de detalhes vai recordar que em sua estreia, diante da Austrália, a seleção chilena atuou com um meio-campo idêntico ao de ontem. Díaz como primeiro homem, Aránguiz pela direita, Vidal pela esquerda e Valdivia adiantado, atrás de Alexis Sánchez e Eduardo Vargas. Este é o time que, no 4-4-2, está mais acostumado a jogar. Já há química nesta formação: Vidal e Aránguiz coordenam suas subidas (ou sobem juntos, dependendo da situação), Sánchez e Vargas se juntam a Valdivia na criação, os laterais compõem o meio quando a equipe avança...
Se perdeu com esse monte de setas? Imagina a Bolívia, que tinha de marcar essa movimentação toda em tempo real...
O raciocínio inicial de Sampaoli para a competição não estava de todo equivocado. Contra o Equador, a ideia era adiantar Vidal para próximo do ataque e aproveitar seu bom momento nesta função atuando pela Juventus. O camisa 8 era mesmo o jogador que chegava em melhor fase técnica de toda a seleção, mas convenhamos: com tantos bons nomes, o Chile não precisava jogar para ele. O forte deste time está na rotatividade, no coletivo, nas trocas constantes de posições entre todos os homens do meio para a frente. O que se viu ontem foi o Chile das eliminatórias, o Chile da Copa do Mundo. O Chile envolvente, ofensivo, moderno, coletivo. O Chile dos velhos tempos.

Vidal, talvez ainda abalado por todas as besteiras que fez extracampo, foi discreto. Aránguiz, por sua vez, foi o melhor em campo. Sem precisar jogar junto com Díaz na primeira linha de meio, teve liberdade de ir e vir e ajudou, com os companheiros, a confundir completamente a marcação boliviana. O golaço de Medel, o quarto da goleada de 5 a 0, foi o retrato do jogo: um zagueiro se desprende de trás, aproveita o espaço vazio e faz um golaço, com imensa categoria. Este é o Chile temível que pode ganhar a Copa América, que empolga sua torcida, que tem uma mecânica de jogo invejável, e não aquela equipe vulnerável e travada dos dois primeiros jogos.

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