O que acontece com o Equador na Copa América?

A participação do Equador nesta Copa América é decepcionante. Claro, o regulamento ainda permite a classificação da seleção para os mata-matas. Uma volta por cima ainda é possível, embora complicada. Mas é inegável: para uma seleção que disputou três das últimas quatro Copas do Mundo e segurou a França com dez homens no Maracanã, perder seus dois primeiros jogos é um rendimento muito abaixo do esperado - ainda mais com o banho de bola sofrido diante da modesta Bolívia, ontem, em Valparaíso. E o pior: em se tratando de Copa América, ele em nada surpreende. Para quem acompanha um pouco mais de perto o futebol equatoriano, é sabido que no torneio continental a equipe exibe desempenhos normalmente muito abaixo do que costuma demonstrar nas eliminatórias.

A evolução técnica do país é nítida nos últimos 20 anos. O período coincide, curiosamente, com o fim da carreira do até hoje maior jogador da história do Equador, o meia Alex Aguinaga - embora nada tenha a ver com ele. Até a virada do século, o Equador era, ao lado da Venezuela, o único país sul-americano que nunca havia disputado uma Copa do Mundo. Com uma campanha espetacular nas eliminatórias para 2002, conquistou esse direito pela primeira vez. Foi o maior desempenho da história da seleção: vice-líder na disputa de pontos corridos, ficou apenas atrás da Argentina, e à frente de equipes como Brasil, Paraguai e Uruguai.

Ali, começava a ficar claro o porquê do sucesso equatoriano: além da melhor condição técnica de seus atletas, o segredo dos bons desempenhos passa muito por Quito. E aí começamos a entender um pouco desta discrepância: naquelas eliminatórias, o Equador fez 20 dos 27 pontos que disputou em casa. Nas de 2006, foi além: 23 dos 27, com sete vitórias e nenhuma derrota em nove jogos. Um aproveitamento esplêndido, de 85,2% dos pontos. Fora de casa, míseros 5 pontinhos, com 18% de rendimento.

Na Copa América, por outro lado, dê-lhe fracassos. Nos últimos 20 anos, somente em 1997 a equipe passou da primeira fase. Neste período (sem contar 2015), foram disputadas sete edições da competição: em três a equipe ficou na 12ª (última) e em uma na 11ª (penúltima) posição. Se perder para o México nesta quinta-feira, o Equador ficará com a pior colocação da Copa América pela terceira vez seguida. No ranking geral de pontos do torneio entre 1995 e 2011, o país está empatado na lanterna com a Venezuela, com apenas 15 pontinhos. No das eliminatórias, por outro lado, é o 5º por aproveitamento (como o Brasil não disputou as de 1998 e 2014, ficou atrás no geral pontos). A discrepância é enorme, e a origem está em Quito.

O recorte que escolhemos, de 1995 a 2011, não foi à toa: neste período, o Equador não disputou nenhuma Copa América em casa. Nas últimas cinco eliminatórias, o aproveitamento da seleção em seus domínios é de impressionantes 74,4%. Fora, baixa para apenas 24,8%. Em nenhum outro país a diferença de rendimento é tão grande - nem na Bolívia, famosa por "só ganhar em La Paz". E notem: o aproveitamento na Copa América neste período é de 22,7%. Bem semelhante, certo?

O Equador, portanto, ainda não aprendeu a jogar fora de Quito, e aí está uma boa explicação para seus fracassos repetidos na Copa América. A hipótese que temos para essa enorme diferença de rendimento entre jogar em casa e fora está num fracasso ocorrido dentro do Estádio Atahualpa, em 1993. Naquele ano, o Equador sediou a Copa América, e vinha fazendo a melhor de todas as campanhas da competição, uma façanha imensa para uma seleção tida como a segunda menor da América do Sul. Depois de sobrar na primeira fase e patrolar o Paraguai nas quartas de final com um convincente 3 a 0, a equipe foi derrotada em plena Quito pelo México por 2 a 0, uma das maiores tragédias esportivas do país. A partir daquele momento, parece, ganhar em casa virou lei no Equador. Em 47 jogos em casa nas eliminatórias depois daquele episódio, foram 30 vitórias, 11 empates e apenas 6 derrotas. O que falta, claramente, é aprender a jogar longe de Quito. Já se deram conta de que nas Copas do Mundo a participação equatoriana é igualmente fraca no geral? Não é mera coincidência.



A classificação para as quartas de final ainda é possível, embora muito remota. Se vencer seu último jogo, o Equador irá a 3 pontos e garante o 3º lugar de seu grupo. O difícil é que nas outras chaves os 3º colocados não façam 4 pontos. Vale secar a Colômbia diante do Brasil, torcer para que Paraguai e Jamaica empatem (ou os jamaicanos vençam por pouca diferença) e, claro, fazer sua parte diante do México, na próxima quinta-feira - embora não deva ser fácil, pelo bom enfrentamento que os astecas fizeram no jogaço contra o Chile, ontem à noite, em Santiago. Aquele mesmo México que frustrou o título de 1993 pode ser, quem sabe, o adversário da virada equatoriana em sua história de fracassos fora de casa. Seria uma linda história.

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