Mais que intensidade, os lados do campo é que são o segredo da melhora do Grêmio



Mais uma vez, falar em intensidade como a causa da vitória por 2 a 1 do Grêmio sobre o Atlético Paranaense é tentador, fácil demais. Afinal, a Arena viveu um dos jogos mais intensos, disputados, abertos e interessantes do Campeonato Brasileiro. No entanto, todas as boas atuações tricolores sob o comando de Roger Machado, mais do que intensidade, mostraram uma qualidade que andava há tempos faltando pro lado azul: triangulações pelos lados de campo. São elas, e não apenas aquela vontade a mais, que explicam as boas partidas que a equipe tem feito sob a batuta do novo comandante.

O diagnóstico do afunilamento é antigo, e tem origem numa perda não reposta pelo elenco este ano: Dudu. Com ele, o time tinha uma jogada forte pelos lados do campo. Para este ano, a ideia de Luiz Felipe foi compensar a perda de velocidade do ataque com a inclusão de vários meias de bom toque, como Giuliano, Luan e Douglas. Este grave defeito, porém, não foi corrigido pelo antigo treinador. No Campeonato Gaúcho, mesmo na fase boa, era sempre irritante ver as jogadas de ataque do Grêmio procurando o meio em vez dos lados. Tal fato se explicava também pela pouca participação efetiva de Matías Rodríguez e Marcelo Oliveira no apoio.

Em seus primeiros treinos no Grêmio, Roger reiterou a importância da intensidade também como uma forma de tranquilizar a torcida, que estava assustada após a apática atuação diante do Coritiba. Porém, um pedido repetido a cada treino foi pouco comentado: o "abre!", a cada tentativa de afunilamento das jogadas por parte dos volantes e meias. Era mesmo um vício a ser corrigido, que complicava a criação de jogadas, reduzia a velocidade de saída pro ataque e facilitava a vida dos adversários. Ele ainda poderá aparecer: no Morumbi, na derrota para o São Paulo, Roger se esgoelava à beira do campo, pedindo que a equipe procurasse as beiradas do campo. Foi o jogo no qual o Grêmio menos explorou os lados e, por isso, o pior jogo da equipe sob o seu comando.
No primeiro tempo, com Giuliano no meio, Luan foi atacante. Mas todos na frente se movimentavam e mudavam de posição o tempo todo, sinal de entrosamento no novo esquema
Já na estreia, contra o Goiás, o esquema 4-2-2-2 ficou definido, com meias e atacantes alternando quem sobe e quem volta para criar. A boa atuação no Serra Dourada passou muito pelas jogadas pelos lados, e diante do Corinthians já ficava evidente o crescimento ofensivo da equipe. No primeiro gol daquela noite, Walace, Pedro Rocha e Giuliano fizeram a triangulação no primeiro gol, um claro do fruto do trabalho de Roger, embora cedo demais para que ele se pudesse dizer consolidado.

Cedo naquela época, não mais agora. Afinal, o jogo de hoje, contra o Atlético Paranaense, é que foi o da consolidação da formação gremista, por vários motivos: foi uma vitória contra o então líder do campeonato, com uma ótima atuação da equipe (superior à da partida contra o Corinthians, pois a segurança defensiva foi maior) e, principalmente, porque teve a volta de Douglas. Minha dúvida era justamente essa: como o Grêmio jogaria com o 10 de volta? Não perderia a intensidade dos últimos jogos? Não voltaria a afunilar, já que ele é um clássico meia centralizado?

Nada disso. Douglas teve sua melhor atuação desde que retornou ao clube, por um motivo simples: jogou mais próximo dos companheiros. Levemente aberto pela direita, se encaixou no esquema proposto por Roger com facilidade. Pôde tabelar a tarde toda com Luan e Giuliano e fez Galhardo ter uma atuação muito sólida no apoio. Foi o melhor jogador em campo. E mais: com ele na articulação, Luan volta a atuar mais próximo à área, sempre com liberdade de movimentos, assim como Pedro Rocha, outro que teve bom rendimento. A mecânica de jogo, apesar do curto espaço de tempo, já é promissora. Vale ressaltar que o padrão de jogo se manteve mesmo que Giuliano, peça fundamental nesta engrenagem, tenha saído. No segundo tempo, Mamute passou para a direita, Luan recuou para a meia, e a dominação se manteve.
Com Mamute no lugar de Giuliano, Luan volta a jogar na mesma função dos últimos três jogos
O teste de hoje era forte, e o Grêmio passou com louvor. O Atlético Paranaense liderava o campeonato não por acaso: embora seja difícil prever que um grupo tão jovem vá disputar efetivamente o título, trata-se de uma equipe muito bem montada, que joga compactada e não tem apenas Walter: Nikão, Douglas Coutinho e Ytalo formam um trio entrosado, e o garoto Felipe, que entrou no segundo tempo, mostrou muita qualidade. É um time traiçoeiro, mas, principalmente, intenso e moderno, e exigiu tudo isso do Grêmio também.

Mas o time de Roger tem outra marca importante: se impõe dentro de casa. Teve duas atuações na Arena bem diferentes das dos tempos de Felipão, com imposição, pressão, faca nos dentes. Para uma equipe em busca de afirmação, que muitos ainda podem até desconfiar que possa ficar na metade de baixo da tabela do campeonato, ganhar em casa é fundamental. Vencer dentro da Arena com autoridade, exigir que o time corra o jogo inteiro, marcar forte, não se abalar com um gol sofrido, não deixar de agredir o adversário mesmo com vantagem, tudo isso ajuda a ganhar a confiança da torcida, e por isso é o que Roger mais repete a cada entrevista. Mas o segredo, mesmo, está nos lados dos campo. Esse detalhe não tem o apelo de levar gente pro estádio, mas é o que tem ajudado, e muito, a verdadeiramente mudar a cara do Grêmio.

Comentários

Chico disse…
Vitória importantíssima do Tricolor contra o patético.
Douglas, Luan, Giuliano e Rodholfo jogaram muito.
Ainda acho Mamute melhor que Pedro Rocha.
Tiago fez a grande defesa da partida.

Mais uma vitória do Corinthians pra botar do dvd do cúlorado.