Dez motivos para o Chile tomar todo o cuidado com o Uruguai

O Uruguai fez uma campanha medíocre na primeira fase da Copa América. Não tem Luisito Suárez, ainda suspenso pela mordida em Chiellini (que hoje, por sinal, completa um ano). Cavani, por sua vez, está envolvido com problemas familiares sérios, e não se sabe até onde isso poderá atrapalhá-lo.

O Chile, por sua vez, foi a única equipe que de fato convenceu até agora. Apresentou um futebol exuberante diante da Bolívia, tem alguns de seus melhores jogadores em grande fase e parece estar conquistando de vez a confiança da torcida, que a cada jogo apoia com mais força a equipe rumo ao seu primeiro título na Copa América.

Ainda assim, mesmo diante de tantas perspectivas positivas, há razões de sobra para os chilenos frearem a empolgação antes do jogaço de hoje à noite. Mais precisamente dez razões - aqui listamos apenas os jogos decisivos, fora outras tantas vitórias celestes em partidas sem apelo de mata-mata. Afinal, como diz o ditado, se fores fazer uma festa em sua casa, jamais convide o Uruguai.

Argentina, a primeira vítima, há quase um século 
Data de quase um século a tradição celeste de calar estádios alheios. Na primeira edição da Copa América, a última partida do torneio, disputado em solo argentino, era entre a seleção local e o Uruguai. Um empate bastava ao time da Banda Oriental, e aos donos da casa só a vitória servia. No dia 16 de julho (data clássica que os uruguaios escolheram para calar estádios), o jogo foi interrompido logo aos cinco minutos no Estadio del Bosque, em La Plata, devido a graves incidentes nas arquibancadas. No dia seguinte, em Avellaneda, um 0 a 0 deu à Celeste o título da competição.

Paris conhece a Celeste Olímpica
Medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 no futebol masculino, o Uruguai obteve uma sensacional vitória por 5 a 1 sobre a França nas quartas de final da competição, sediada em Paris. Foi o primeiro grande título da base que seria campeã do mundo seis anos depois.
Uruguai campeão olímpico de 1924: goleada sobre a França, em Paris, no currículo
O bi olímpico já começa com anfitrião derrotado
Em 1928, a campanha do bicampeonato olímpico da Celeste teve início com mais uma vitória sobre o país organizador. Na fase preliminar dos Jogos de Amsterdã, o Uruguai derrotou a Holanda por 2 a 0, iniciando a trajetória rumo à sua segunda medalha de ouro.

A maior tragédia do futebol brasileiro
Os 7 a 1 para a Alemanha foram o maior vexame, mas a derrota na final da Copa do Mundo em casa, no dia 16 de julho de 1950, será para sempre a maior tragédia da história do futebol brasileiro. O 2 a 1 de virada para o Uruguai no Maracanã com 200 mil pessoas dificilmente será superado em termos de decepção algum dia. O curioso é que o Brasil havia enfiado 5 a 1 na Celeste, também em casa, um ano antes, pela Copa América. Eram motivos demais para o otimismo, que se reverteram numa imensurável decepção.

Alzamendi cala Núñez
Uma das vitórias mais simbólicas do Uruguai como visitante ocorreu em 1987. Diante da Argentina campeã do mundo, com Maradona em campo, a Celeste fez 1 a 0 em pleno Monumental de Núñez, com gol de Alzamendi. O detalhe é que o atacante foi o grande herói do River Plate, dono do estádio onde ocorreu o clássico, na final do Mundial Interclubes de 1986, contra o Steaua Bucuresti, em Tóquio, sete meses antes.

A gurizada charrua elimina o Paraguai
Vindo de uma eliminatória tenebrosa ao Mundial de 1998, o Uruguai fez uma renovação forçada para tentar chegar à Copa de 2002. O processo se iniciou na Copa América de 1999. Depois de uma primeira fase complicada, com uma vitória e duas derrotas, o adversário nas quartas seria o Paraguai de Arce e Gamarra, um dos favoritos ao título, por ter ido bem na Copa de 1998 e ser o dono da casa. A Celeste saiu perdendo cedo, gol de Benítez, mas chegou ao 1 a 1 com Zalayeta e calou o Defensores del Chaco ao ganhar dos guaranis nos pênaltis. O jovem time uruguaio chegou à decisão, mas acabou derrotado pelo timaço do Brasil, de Ronaldo e Rivaldo. Ah, e esta base chegaria ao Mundial do Japão e da Coreia do Sul, embora nele tenha ido mal.



Ducha fria na Venezuela
Em 2007, Venezuela e Uruguai se encararam duas vezes. Na primeira fase, um empate em 0 a 0 serviu a ambos: classificou a Celeste e deu aos donos da casa a liderança do grupo, um feito histórico para o futebol do país. Só que isso forçou um encontro de ambos nas quartas de final, e a história foi bem diferente: Uruguai 4 a 1, em grande atuação de Diego Forlán.



Calando um continente inteiro
Em 2010, o Uruguai foi por duas vezes o visitante indigesto. Ao bater por 3 a 0 a anfitriã África do Sul, ficou próximo da vaga nas oitavas de final e, de quebra, o pivô da primeira eliminação de um dono da casa na história das Copas. Mas o pior ocorreu nas quartas de final. Gana não era a sede da Copa, mas era a única seleção africana ainda viva, e recebia o apoio maciço do continente (e do Soccer City) inteiro. Prestes a ser o primeiro time da África a chegar a uma semifinal de Copa, acabou caindo diante do Uruguai de uma forma histórica. Todo mundo lembra, mas vale a pena ver os lances para recordar (palo, palo, palo, palo, palo!).



Mais um 16 de julho, desta vez em Santa Fe
Pela terceira vez, o Uruguai cala um estádio rival num dia 16 de julho. Pelas quartas de final da Copa América, a Celeste, embalada pela grande Copa em 2010, pegava a Argentina de Lionel Messi no Cementerio de Elefantes, em Santa Fe. Saiu ganhando cedo, sofreu o empate e teve o volante Pérez expulso ainda no primeiro tempo. Porém, numa demonstração de grande força, manteve o ritmo, seguiu jogando de igual para igual, levou a decisão para os pênaltis e ganhou por 5 a 4, pavimentando o caminho rumo ao 15º título continental.

O Chile também já foi vítima
Em 1920, o Chile já não tinha mais chances de ser campeão da Copa América em casa, mas o Uruguai sim. Precisava bater a equipe dona da casa para chegar lá. E conseguiu: 2 a 1 de virada, em Viña del Mar, gols de Romano e Pérez. Em 1926, nova vitória uruguaia na casa rival: 3 a 1. Em 1941, a equipe chilena vinha de duas vitórias seguidas, liderava o torneio, mas levou 2 a 0 da Celeste e acabou se perdendo e chegando em 3º lugar - o Uruguai foi vice, e a Argentina campeã. Em 1955, houve um empate em 2 a 2. A Roja obteve apenas duas vitórias em casa: em 1945 fez 1 a 0, em jogo de pouca importância para o torneio. Em 1983, ganhou por 2 a 0, mas a competição não possuía sede fixa - e o Uruguai acabou campeão.

Vale lembrar também que o Uruguai frustrou também a festa inglesa na abertura da Copa do Mundo de 1966. No primeiro jogo daquele mundial, a Celeste segurou um 0 a 0 com os donos da casa em Wembley, no único confronto que não acabou com vitória dos anfitriões naquela campanha. Não entra na lista porque não foi uma eliminação, e sim uma tarde decepcionante para quem jogava em casa.

Em 39 jogos contra anfitriões em fases finais de competições (descontadas as eliminatórias, portanto), o Uruguai ganhou tantos jogos quanto perdeu, algo raro: 15 vitórias, 9 empates e 15 derrotas. Em mata-matas, foram 15 disputas, com oito triunfos uruguaios e sete dos visitantes - mais triunfos que fracassos, portanto. A queda mais recente veio nas semifinais da Copa das Confederações de 2013, com vitória do Brasil, em Belo Horizonte, por 2 a 1.

O Chile é o favorito. Mas, como se vê, é bom que tenha bastante respeito com a camisa que estará do outro lado hoje à noite, no Estádio Nacional de Santiago.

Comentários

Sancho disse…
Dado tanto irrelevante quanto interessante: das últimas CINCO edições da Copa América (desde 1999), os anfitriões foram eliminados nas quartas-de-final em QUATRO. O Uruguai é responsável por TRÊS (PAR, 1999; VEN, 2007; ARG, 2011).

P.S.: O único anfitrião que se salvou foi a Colômbia em 2001 (campeão, venceu o Peru nas quartas-de-final).

P.P.S.: A Argentina foi responsável por eliminar o Peru em 2004.
Vicente Fonseca disse…
Baita!

Impressionante o retrospecto da Celeste.
Sancho disse…
Das 14 edições desde 1975, o Uruguai chegou entre os 4 em DEZ!
- campeão: 4 (83/87/95/11);
- vice: 2 (89/99);
- terceiro: 2 (75*/04); *empatado com o Brasil
- quarto: 2 (01/07).

Os quatro fracassos foram em 1979, 1991, 1993 e 1997.
Sancho disse…
Esse retrospecto desde 1975 (Top-4 10/14) é idêntico ao do Brasil (que ganhou 5 torneios). Para se ter uma idéia, a Argentina chegou entre os 4 primeiros em 6 dos 13 torneios que disputou (não foi à Colômbia em 2001); ganhando 2.