A noite do ano

A noite de hoje, 27 de maio de 2015, nem aconteceu, mas já entrou para a história de Internacional, Santa Fe e da Copa Libertadores da América. São muitos os ingredientes que garantem isso: é jogo decisivo, vale vaga na semifinal, o Beira-Rio estará lotado e chove. E não é qualquer chuva: chove muito em Porto Alegre. O cenário está montado para um confronto de contornos épicos.

Digo, de antemão, que dificilmente a definição do classificado será tranquila. Para ficar mais claro: aposto que, qualquer que seja a equipe que estará à beira da eliminação aos 44 do segundo tempo, ela terá chances de reverter tudo com um gol nos descontos. Isso garantiria uma boa dose de emoção ao confronto.

O gol de Mosquera foi pior do que parece. Claro: o Internacional é melhor tecnicamente e, jogando no Beira-Rio lotado, tem totais condições de fazer 2 a 0 nos colombianos. Mas muitas ponderações precisam ser feitas. A primeira: dois gols, mesmo que venham no primeiro tempo, não garantem absolutamente nada para o Inter antes de a partida acabar. Tal situação ainda deixará a equipe de Bogotá a um golzinho de sua classificação. A "tranquilidade", portanto, só viria com um 3 a 0. E o Santa Fe pode não ter uma defesa espetacular, mas ela não sofreu três gols em nenhum jogo desta Libertadores - e olha que a equipe já pegou adversários bem fortes, como Colo-Colo, Atlético-MG e Estudiantes. E mais: a equipe de Gustavo Costas costuma marcar gols fora de casa - só não o fez diante do Galo.

O Estudiantes dá ao Inter duas lições neste sentido. A primeira vem de 2010: o Inter pariu uma bigorna para fazer 1 a 0 no Beira-Rio, mas saiu levando 2 a 0 cedinho em La Plata. Passou a noite toda eliminado, mas jogando por uma bola, um golzinho que lhe classificasse, e Giuliano o conseguiu, na fumaceira dos 43 do segundo tempo. Outra vem das oitavas deste ano, quando o Santa Fe foi à Argentina enfrentar o mesmo adversário, saiu perdendo do mesmo modo que o Inter cinco anos atrás, e conseguiu seu gol a dez minutos do fim. Para não correr qualquer risco, portanto, o Colorado precisa não de dois, mas de três gols, e diante de um adversário que é perigoso nos contragolpes e terá, no Beira-Rio, muito mais espaço que teve para jogar em velocidade do que em Bogotá. A tarefa é árdua, mais do que aparenta.

A pressão, portanto, terá de ser feita desde o início. Espero um primeiro tempo avassalador do time de Diego Aguirre. O Santa Fe seguramente está ciente disso. Mas o Inter precisará ser perfeito: além de massacrar os colombianos nos primeiros 30 minutos de jogo, não pode dar um rebote sequer a Omar Pérez, pois uma bola que o carequinha pegar poderá ligar um contragolpe letal. E mais: é altamente recomendável que o Inter vá para o intervalo parcialmente classificado. O estilo de jogo de Aguirre exige muito fisicamente dos atletas, e o segundo tempo tem cobrado seu preço neste sentido - a equipe caiu de rendimento contra o Atlético-MG e em Bogotá, por exemplo. Ter de correr atrás do prejuízo nos 45 minutos finais, pela lógica matemática e pelo aspecto físico, será muito complicado.

Sobre a chuva, é difícil falar qualquer coisa agora. Não sabemos se estará caindo a mesma água deste momento às 19:30. A drenagem no Beira-Rio é ótima, mas, quando a precipitação é forte, mesmo assim poças podem se fazer presentes. Gramados encharcados significam normalmente menos gols, o que é ruim para quem precisa fazê-los - no caso, o Inter. Mas, também, complicam a vida de quem é mais leve e tem o contragolpe como arma - no caso, o Santa Fe. Não é bom para ninguém, em suma.

Já dissemos aqui que o duelo com o Atlético-MG havia habilitado o Internacional para ganhar a Libertadores. Portanto, é com tranquilidade que afirmo que o Colorado pode passar de fase hoje. "Pode passar" não significa "vai passar", mas que tem condições para tal. E, se passar, terá superado o seu obstáculo mais complicado de todos nesta caminhada. A noite é imperdível.

Belo Horizonte
O retrospecto histórico é favorável, o 1 a 0 em Núñez foi excepcional, mas o Cruzeiro precisa tomar cuidado. É um time experiente, copeiro, bicampeão brasileiro, já ganhou duas Libertadores, mas nada disso o torna imune à euforia. O Mineirão vai hoje estar provavelmente mais preparado para uma festa do que para uma batalha, por mais que a torcida azul saiba distinguir bem as duas coisas, com quase 50 anos de experiência de Libertadores. Mas o River é forte: pode muito bem ganhar o jogo, e se o fizer só não se classifica se for por 1 a 0. A noite mineira oferece seus perigos, sim. Por isso, como a de Porto Alegre, é igualmente imperdível.

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