Luan é atacante



Esta é a única constatação que pode ser feita a partir do jogo de hoje. Na verdade, digo isso quase que semanalmente há um ano, desde que Dudu virou titular do Grêmio na Libertadores do ano passado e Luan passou de segundo atacante a meia aberto pelo lado. O Luan que irrita a torcida, que é mole, lento (de onde se tirou a ideia de que ele é veloz?), este Luan joga no meio-campo, perdido. O Luan perigoso, frio, difícil de ser parado, este é atacante. E foi assim, no ataque, que ele definiu o jogo de hoje à tardinha. Embora tenha sido escalado como meia, mais uma vez.

O São Paulo veio a Porto Alegre para perder de pouco. Hélio Vieira chegou a poupar alguns pendurados para a última rodada, dando como favas contadas a derrota. E mesmo que seu time tenha segurado o de Luiz Felipe durante 68 dos 90 minutos, todos sabiam na Arena que o gol era uma questão meramente de tempo. O Grêmio sempre teve muito volume e, principalmente, paciência. Algo a ser ressaltado é que, mesmo diante de um ferrolho dos brabos, mesmo com o gol que demorou a vir, o time nunca se desorganizou ou se irritou. Teve calma para impor seu melhor futebol e chegar à vitória ao natural.

Braian Rodríguez teve uma jornada particularmente infeliz. Não chegou a ir tão mal tecnicamente, mas perdeu gols que centroavante não pode, e quando levou a melhor acabou tendo impedimento marcado (nem sempre com correção). A entrada de Everton em seu lugar no intervalo deu uma jogada mais forte pelo lado esquerdo, já que a equipe atacou bem mais pelo direito no primeiro, com Galhardo subindo mais, já que havia espaço. O jogo foi de meia linha a noite toda: foram 15 chances de gol a zero, 20 chutes a 3. Jogo de um time só.

E definido por um atacante. O bom senso de colocação e cabeceio no primeiro gol e a frieza para definir a jogada no segundo indicam que Luan é bem mais centroavante que meia, inclusive (lembram do golaço no Maracanã, contra o Flamengo?). Fora da área, é um jogador dispersivo, pois é frio demais, gelado até. Só que para jogar no meio-campo, como ponta que sobe e desce, participando da criação e marcação, é preciso ter intensidade. Por isso jogadores como Everton e Dudu agradam mais a torcida. Cada vez que alguém for chamar Luan de "soneca", berrar que ele está fora do jogo, é dever notar: em 90% dos casos, ele está longe do gol, atuando numa função que não sabe. Hoje, quase foi substituído por conta disso.

É claro que o 4-2-3-1 de Felipão exige que o ponta volte para o meio também, e isso não significa que Luan não deva mais ser escalado. A questão é que ele volta demais, recua para longe do gol de uma forma que o torna improdutivo, pois não é um jogador de intensidade, e sim de drible curto e conclusão de área. Claro que ele às vezes deixa um companheiro na cara do gol com um passe infiltrado, mas isso não significa que seja um meia, mas sim um atleta de qualidade, que pode atuar ao lado de um centroavante. Talvez com Cristian Rodríguez, que sabe executar melhor esse vaivém e jogará pela esquerda, ele possa ganhar mais liberdade pelo lado direito e ficar mais perto do gol. Ou como reserva, entrando no segundo tempo num posicionamento mais adiantado. Perto dos volantes, só irritará a todos.

Ficha técnica
Campeonato Gaúcho 2015 - 1ª fase - 14ª rodada
29/março/2015
GRÊMIO 2 x SÃO PAULO-RS 0
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Luís Teixeira Rocha (RS)
Público: 16.055
Renda: R$ 353.798,00
Gols: Luan 23 e 25 do 2º
Cartão amarelo: Maicon, Ramiro, Massari, Guilherme e Balduíno
GRÊMIO: Tiago (5,5), Galhardo (6) (Fellipe Bastos, 14 do 2º - 5,5), Geromel (6), Rhodolfo (6) e Marcelo Oliveira (6); Ramiro (6), Maicon (6), Luan (6,5), Giuliano (6,5) e Yuri Mamute (5,5) (Pedro Rocha, 42 do 2º - sem nota); Braian Rodríguez (5) (Everton, intervalo - 6,5). Técnico: Luiz Felipe (6)
SÃO PAULO-RS: Vilar (6,5), Matheus Ferreira (4,5) (Vavá, 37 do 1º - 5), Júnior Sergipano (4,5), Teco (5,5) e Massari (4,5); Balduíno (5,5), Rafael Muçamba (5), Guilherme (5) e Dudu Mandai (5) (Chumbinho, 28 do 2º - 4,5); Jean Coral (5) (Thiaguinho, 9 do 2º - 4,5) e Matão (4,5). Técnico: Hélio Vieira (4,5)

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