Como não fazer uma tabela de campeonato

A incompetência da Federação Gaúcha de Futebol em montar as tabelas de seu campeonato estadual é notória e antiga. Neste começo de semana estourou um problema que se visualizava desde que foi lançada a relação dos jogos rodada a rodada do Gauchão 2015, lá em dezembro do ano passado: como Porto Alegre poderia receber dois jogos ao mesmo tempo na última rodada da primeira fase?

O erro é prosaico, facílimo de evitar, mas mesmo assim foi cometido. Ora, é expressamente previsto em todo regulamento de qualquer campeonato sério (a Copa América deste ano, portanto, não é totalmente séria) que na última rodada as partidas têm de ocorrer todas no mesmo horário, para prevalecer o equilíbrio técnico e evitar marmeladas como o Argentina x Peru de 1978 ou Alemanha x Áustria de 1982. Pois o que a FGF faz? Marca o único jogo da Dupla Gre-Nal como visitante em Porto Alegre (fora o clássico entre Grêmio e Inter, claro) para esta rodada decisiva. Poderia ter sido em qualquer uma das 14 anteriores, mas não: foi na última, quando é impossível adiar jogos.

De cara, se percebe a lambança: enquanto o Grêmio está no Passo d'Areia enfrentando o São José, o Inter, a dez quilômetros dali, estaria recebendo o Passo Fundo no Beira-Rio. Não era difícil prever: a Brigada Militar iria alegar impossibilidade de trabalhar em dois jogos ao mesmo tempo, alertaria para os possíveis encontros com potencial bélico dos barrabravas nos ônibus e trens e recomendaria a mudança do local do jogo. Tudo ocorreu entre ontem e hoje. Daria para escrever os textos e manchetes sem sequer ser necessário que os fatos tivessem ainda ocorrido, tal a previsibilidade dos mesmos.

E quem saiu perdendo com tudo isso? O Zequinha, apenas. O equilíbrio técnico do campeonato é garantido por um lado, mantendo os jogos no mesmo horário, mas chutado pelo outro, já que o São José nada tem a ver com as rixas dos "torcedores" dos dois grandes. Assim, por conta da incompetência de quem formulou a tabela, sairá prejudicado numa partida decisiva, na qual ainda pode lutar por vaga, e terá de jogar num campo estranho ao seu: o Cristo Rei, em São Leopoldo.

Sempre a corda estoura do lado mais fraco, infelizmente. E raramente quem paga pela incompetência é o próprio incompetente, mas um terceiro que nada tem a ver com isso.

Outros erros da tabela de 2015
- Enquanto o Grêmio recebeu os dois clubes de Caxias do Sul na Arena, o Inter teve de viajar à serra para encarar a Dupla Ca-Ju. O normal é que cada dupla de rivais jogue uma vez em casa e outra fora nestes casos. Tal situação foi muito frequente nos últimos anos em relação a Santa Cruz do Sul: o Grêmio quase sempre jogava duas vezes lá, enquanto o Inter recebia Santa Cruz e Avenida no Beira-Rio.

- Novamente, quem disputa a Libertadores foi prejudicado pela FGF na questão de quilometragem. Somando as distâncias percorridas somente nas viagens de ida dos jogos fora de casa, o Grêmio percorreu 852 quilômetros na primeira fase do estadual, enquanto o Inter ficou quase o dobro do tempo na estrada (1.577 km). É muita diferença, o que denota falta de cuidado na hora de determinar quais jogos serão disputados em casa e fora por cada participante.

- Enquanto o Internacional teve três de seus sete jogos em casa marcados para os finais de semana, o Grêmio teve seis de seus oito realizados em sábados ou domingos. Deveria haver equilíbrio maior nesta conta.

Em tempo:
- Tais erros não significam que a FGF está deliberadamente prejudicando o Internacional e favorecendo o Grêmio, afinal, eles ocorreram inversamente em temporadas anteriores também. O que sobra, mesmo, é incompetência.

- Existe Trensurb até São Leopoldo. O encontro de torcedores nas estações férreas, portanto, segue sendo uma possibilidade tão perigosa quanto real.

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