Recado dado, mas nem todos querem entendê-lo

Sempre que entra o ano novo a gente tem esperança que as coisas que andavam erradas mudem para melhor. Se no âmbito geral já vemos sofrendo as desilusões dos aumentos na conta de luz, do abuso que é o preço da gasolina, da alta e dos alimentos e tantos outros produtos básicos, no futebol a coisa também vai de mal a pior: os estaduais seguem maiores do que deveriam, e quem os comanda segue tendo o cérebro do tamanho de uma cabeça de alfinete.

O primeiro clássico do Allianz Parque ter torcida única seria uma vergonha não apenas para o Palmeiras, mas principalmente para todo o futebol paulista e brasileiro, e uma vergonha para a polícia de São Paulo, que se mostra, como quase todas Brasil afora, sem qualquer capacidade de enfrentar uma situação que deveria ser corriqueira. Nem vou usar o argumento de que mais torcida adversária não aumenta em violência em clássicos, e sim o contrário, pois a história já nos deu inúmeros exemplos de que torcida única não resolve nada. Só não vê quem não quer, ou quem se faz de burro. Este levantamento feito pel'O Lance é definitivo.

É assim desde sempre em país bagunçado como quiosque de beira de praia: quem grita mais alto leva. Menos mal que, desta vez, ganhou quem estava do lado da razão. Com todos os defeitos que possui como dirigente, Mário Gobbi deu uma bola dentro: ameaçou não colocar o Corinthians em campo se não houvesse ingressos para a sua torcida. Seria um desastre financeiro a quem mais interessa que o Paulistão dê dinheiro: a Federação Paulista de Futebol. O clássico seria um fracasso, melaria a imagem do campeonato e, caso o Timão fosse excluído, não apenas o certame perderia o interesse (que já não é grande) de 40% dos torcedores do estado como abriria um precedente perigoso para a FPF: o dos grandes se rebelarem e acabarem com o estadual em São Paulo. É melhor ceder enquanto é tempo, constatou a federação.

É isso que os clubes precisam entender: quando fincam pé num propósito, não há quem os segure. Afinal, campeonato sem time não existe. Flamengo e Fluminense já deram no Rio mostras de que estão perto de perder de vez a paciência com este modelo de estadual que por lá vigora, o qual, supremo absurdo, ninguém pode criticar ou sofrerá sanções. Talvez todos estes despropósitos das federações neste começo de ano tenham tido ao menos um ponto positivo: mostrar aos clubes que eles podem, sim, mudar esse panorama arcaico. Resta saber se eles querem romper com tudo isso. Tenho lá minhas dúvidas.

Em tempo:
- Como será o clássico Corinthians x São Paulo, em Itaquera, daqui a alguns dias? Lembrando: vale Libertadores, não um estadual ultrapassado.

- É início de fevereiro, mas a Recopa já está sendo decidida. No jogo de ida, ontem, River 1 x 0 San Lorenzo, no Monumental de Núñez. Partida de volta quarta que vem. E, para vergonha de toda a América do Sul, o clássico de ida teve torcida única.

- Fim de semana de vários clássicos pela Europa. Destaque óbvio para Atlético de Madrid x Real Madrid, que vale a briga pelo título na Espanha. Na França, Lyon x PSG tem semelhança importante, embora a rivalidade não seja a mesma.

- Dia de ver Réver estreando pelo Inter. Ele disse bem: não é o salvador da pátria. Porém, com muito mais qualidade que qualquer um de seus colegas, já ajudará bastante enquanto Aguirre não ajustar a formação defensiva do meio.

- Erazo pronto para a estreia no Grêmio. E esquema com dois centroavantes removido para Moreno ter Everton e Luan lhe auxiliando pelas pontas. Menos mal.

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