Faltou futebol. E também ar

A altitude de La Paz interferiu no desempenho do Internacional, claro, mas a derrota para o Strongest não se explica apenas por ela. Porque o Colorado perdeu quando ainda tinha fôlego, nos primeiros 15 minutos de jogo. Ninguém entra cansado em uma partida de futebol.

O que faltou ao time de Diego Aguirre ontem, então? Em primeiro lugar, futebol. A etapa inicial é fundamental quando se joga nas alturas, pois é nela que o time desacostumado às alturas ainda tem um certo fôlego capaz de competir com os bolivianos. E o primeiro tempo do Inter foi um desastre. Claro, se Nilmar fizesse aquele gol cara a cara com Vaca, aos quatro minutos, a história poderia ser bem diferente. Mas ele não fez, e foi o lance isolado de gol que o time gaúcho criou. De resto, só deu The Strongest.

A equipe da casa impôs um ritmo fortíssimo, e o Inter se perdeu. Chumacero abriu o placar aos 10 minutos, e com este gol o jogo se transformou num ataque contra defesa constrangedor. Sabedor do temor adversário de correr loucamente nas alturas, o Strongest tomou conta do jogo. Ramallo ampliou aos 14, dando pinta de goleada. Pablo Escobar, de passagem discretíssima pelo futebol brasileiro, era o dono do jogo. O Inter não tinha a bola como a escalação de Anderson pretensamente deveria lhe dar, não se defendia, não chegava sequer perto da área adversária. Até aí, tirando o caso de Anderson, tudo se explicava menos pela falta de ar, e muito mais pela falta de bola.

Ir para o intervalo com apenas 2 a 0 de desvantagem era até um prêmio. Mas era preciso reagir rápido, pois no segundo tempo, aí sim, o oxigênio ia escassear. O Internacional assim o fez: descontou logo aos três minutos, mais na sorte que na competência, mas teve seus 10 minutos de superioridade, quando poderia ter empatado. Mas a partir dos 20 minutos o ar rarefeito é que jogou. E, então, a altitude passou a explicar o fim da reação colorada e o recomeço do domínio total do Strongest, que passou a ganhar todos os rebotes, criou chances novamente, chegou aos 3 a 1 e só não foi adiante no placar porque faltou capricho nas conclusões.

O psicológico provavelmente influiu mais que a falta de ar - teoria de Fossati - mas, na prática, o Inter perdeu o jogo nos 15 minutos iniciais, quando ainda há fôlego suficiente para fazer um jogo decente. Só conseguiu reagir tarde, quando, ai sim, o altiplano jogou junto do Strongest. Explicar o que aconteceu ontem apenas pelo aspecto altitude é errado e temerário na avaliação do que foi de fato a partida, e do que são os dois times neste momento.

O Strongest, alertávamos, tem uma boa equipe. Sabe explorar bem tudo o que envolve o seu fator local. Há muito time boliviano que impõe uma correria louca em La Paz, achando que isso será suficiente para ganhar o jogo. O time de Néstor Craviotto não: sabe tratar a bola, envolver o adversário, e já demonstrou isso no ano passado. Tem condições de endurecer ao nível do mar, embora seja menos time que o Inter. Em 2014, quase chegou entre os oito melhores da América, e não à toa.

Quanto ao time de Diego Aguirre, seguem todos os alertas que o Gauchão já deixou: a defesa segue vazando muito, principalmente porque atua desprotegida. Léo e Fabrício fracassaram, Nílton não contou com companhia adequada à frente da defesa. Anderson decepcionou demais, mas a falta de ritmo pesou. Talvez o uruguaio Freitas ganhe chance em breve. Com 90 minutos de Libertadores disputados, já é preciso ganhar da Universidad de Chile quinta que vem, no duelo de lanternas do Grupo 4. E sem Nilmar, que, além de não jogar absolutamente nada, fez o favor de ser expulso quando o jogo já estava definido.

Racing arrasa
O Racing sobrou em sua estreia. Enfiou 5 a 0 no Deportivo Táchira, fora de casa - time que eliminou o sempre consistente Cerro Porteño na semana passada, na fase preliminar. Olho no campeão argentino, que tem bala para ir longe. Outra vitória importantíssima foi a do Santa Fé, no México, sobre o Atlas: 1 a 0. É o grupo do Atlético Mineiro, um dos mais equilibrados da Copa deste ano.

Excesso de 5s e 9s
Luiz Felipe parece perdido. A cada fracasso do Grêmio, muda o esquema. Agora serão três volantes e dois centroavantes diante do "poderoso" Passo Fundo. Na prática, teremos uma equipe fechada além da conta, que dependerá do sonolento Douglas para criar e que terá dois camisas 9, esquema que jamais deu certo, nem com Adriano e Ronaldo, que dirá com Lucas Coelho e Everaldo. Time lento, retrancado e sem alternativas. É preciso alguém ao lado de Felipão para lhe oxigenar as ideias. Urgente.

Majestoso
Corinthians x São Paulo, pela Libertadores. Pouca coisa pode ser mais fantástica que isso para iniciar uma fase de grupos da maior competição continente. Imperdível, às 22h, hoje, em Itaquera.

Em tempo:
- Em cinco jogos, o Inter titular segue sem nenhuma vitória na temporada 2015.

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