Merecida vantagem rubro-negra e mais uma saga atleticana

É bonito ver o Flamengo jogar a Copa do Brasil. Nos últimos dez anos, tornou-se o time mais talhado para disputar esta competição. Em 2006, com um elenco só médio, foi campeão; repetiu a dose em 2013, e está perto de fazê-lo mais uma vez agora. O Rubro-Negro cresce no Maracanã. Mesmo sabendo que não tem time superior ao do Atlético Mineiro, tomou a iniciativa do jogo, foi melhor na imensa maioria dos 90 minutos, desdobrou-se e abriu uma vantagem que praticamente definiria o confronto, não fosse o adversário um time forte e acostumado a reverter desvantagens largas nos últimos mata-matas que tem disputado.

A equipe carioca tem todos os méritos na construção do 2 a 0, mas essa história começa com um equívoco de Levir Culpi. Sem Guilherme, lesionado, o time sabia de antemão que não contaria com o referencial técnico da histórica virada sobre o Corinthians. Maicosuel, de fato, é o substituto mais parecido com o que Guilherme havia feito contra o Timão: armar jogadas no espaço vazio e conduzir o time para o ataque, como um articulador de jogadas. A diferença é que, embora técnico, ele é mais lento. Isso tenderia a diminuir a dinâmica do ataque mineiro no Maracanã. E aí vem o erro de Levir: era jogo para Luan entrar desde o início.

Motivos não faltam: o camisa 27 vive uma excelente fase, tanto na armação quanto na movimentação e até na conclusão, antiga deficiência sua; dá velocidade a um ataque que precisava disso, já que Maicosuel é mais lento que Guilherme, e que Carlos acabou obrigado a cumprir tarefas defensivas de acompanhar os laterais cariocas; e, principalmente, porque seu substituto sinalizou um time que chamava o Flamengo para a pressão. Pierre é um ótimo volante, inclusive superior ao Josué dos dias atuais, mas era um jogador desnecessário no contexto inicial do confronto, mesmo fora de casa. Primeiro, porque o Flamengo sabidamente ataca melhor pelos lados que pelo centro. Segundo, porque sua colocação sinalizou a Luxemburgo que, sim, seu time é bem-vindo a ocupar o campo atleticano. E foi o que aconteceu.

Mesmo sem superioridade no total de posse de bola, o Flamengo foi sempre mais incisivo que o Atlético. Márcio Araújo dava trabalho com Léo Moura pela direita, Everton tramava bem pela esquerda, e Gabriel, como um autêntico armador, auxiliava os dois flancos. Do lado mineiro, sem Guilherme, Diego Tardelli tinha de voltar demais para armar jogo, facilitando o trabalho da zaga. Com Guilherme, o revezamento entre os dois nesta tarefa costuma confundir o rival, já que ambos exercem as duas funções. Dátolo, de quem nem falamos até agora, foi exatamente isso: um jogador nulo, pouco participativo, e que quando participava costumava errar.

Com a saída de Eduardo da Silva, o Flamengo deixou de ter um homem de referência. Gabriel se soltou para o ataque pela esquerda, com Nixon fazendo o mesmo pela direita. Aberto, Gabriel desequilibrou o jogo de vez: sofreu a falta (talvez pênalti, lance duvidoso) que originou o gol de Victor Cáceres e sofreu o pênalti que resultou no 2 a 0, em cobrança de Chicão. No primeiro lance, um erro de marcação que permitiu o lançamento às costas de Marcos Rocha; no segundo, uma lambança coletiva, em que ninguém chegou para o desarme e Josué mergulhou para cometer um inédito pênalti de peixinho.

Não se trata de questionar a formação com dois volantes em tese, pois ela é na teoria mais equilibrada que o ultraofensivo time que Levir vem escalando. O caso é que é justamente esta equipe cheia de meias e atacantes participativos a que melhores resultados obteve pelo Galo nos últimos dois meses. Ontem, com Luan em campo após o 1 a 0, a equipe mineira cresceu de produção ofensiva, criou chances para empatar e por pouco não conseguiu. É o time que deve começar na semana que vem. Não vai ser fácil: o Flamengo tem tradição na Copa do Brasil e, por mais que seja menos time, joga de forma extremamente aplicada. Mas o Galo está acostumadíssimo a reverter desvantagens largas, especialmente de 2 a 0. Newell's, Olimpia e Corinthians que o digam.

Igualmente indefinido
Um Cruzeiro bem superior no primeiro, um Santos um pouco mais equilibrado no segundo, um gol de Willian, outro de Ricardo Goulart mal anulado. A vitória por 1 a 0 da Raposa a deixa mais perto da final da Copa do Brasil, mas não garante absolutamente nada. A disputa segue indefinida, e a necessidade mineira de escalar titulares no fim de semana, contra o Botafogo, pelo Brasileiro, pode pesar. Mas o Cruzeiro, por largar na frente e não ter tomado gols no Mineirão, é o favorito para chegar à decisão.

Em tempo:
- Com uma boa vitória por 2 a 1 sobre o Estudiantes, em La Plata, o River Plate está bem perto da semifinal da Copa Sul-Americana. Do outro lado da chave, o Atlético Nacional bateu o César Vallejo por 1 a 0 em Medellín. Hoje tem São Paulo x Emelec e Boca x Cerro Porteño.

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