A maioridade do São Paulo

Há quem tenha achado o jogo do Beira-Rio ruim, pelo simples fato de que não houve tantas chances claras de lado a lado, especialmente no primeiro tempo. Depende do ponto de vista: se houve menos emoção do que muita gente esperava, também é verdade que os 34 mil torcedores que foram ao estádio viram uma partida extremamente disputada, equilibrada, corrida (muito por causa da arbitragem, que deixou o jogo fluir sem marcar faltinhas), e entre dois bons times. Muito melhor para o São Paulo, que obteve um feito que ninguém antes havia conseguido neste Brasileiro: ganhar do Internacional no Beira-Rio.

Falávamos que vencer o jogo desta quarta daria a "maioridade" ao Inter no Brasileiro, a certeza de que ele disputará mesmo o título, digamos assim. Quem obteve a sua maioridade, no entanto, foi o São Paulo. Não é segredo para ninguém que Muricy Ramalho tem nas mãos um ótimo time, e a atuação segura desta noite foi a prova. O Tricolor Paulista foi muito sólido na defesa, apresentou aproximações de qualidade, típicas de um time bem treinado, foi voraz na marcação e rápido na transição. Sofreu certa pressão na etapa final, mas teve quase o mesmo número chances de gol do que o Inter, sempre levando perigo em contragolpes puxados por Ganso, Kaká, Pato e as subidas dos seus laterais.

Ainda assim, o Inter não fez um mau jogo, longe disso. Perdeu porque errou mais do que o São Paulo. O começo foi de tentativa de pressão, sempre pelo lado esquerdo, com Alex e Fabrício fazendo a ótima dupla de sempre. O time paulista segurou o ímpeto gaúcho com uma atuação perfeita dos zagueiros Edson Silva e Rafael Tolói pelo alto, e a partir dos 15 minutos passou a jogar com a bola, e no campo de ataque, tentando também propor o jogo. Kaká, Ganso, Pato e Alan Kardec formam um ótimo quarteto, mas faltava a eles mais velocidade. Isso só acontecia quando Álvaro Pereira saía de trás, voando pela ala canhota. No Inter, não aconteceu quase nunca, pois Aránguiz teve partida apagada, longe de seus melhores dias.

O gol são-paulino não foi reflexo ou fruto de uma superioridade, mas do mérito de marcar adiantado. E surgiu de um velho erro do Inter: a saída de bola. Juan, que é quem melhor faz isso na zaga, deu na fogueira, Paulo Miranda roubou, Kaká carimbou, Álvaro Pereira chutou e Ganso matou no rebote. A diferença do jogo foi basicamente essa: o Colorado cometeu um erro num jogo de xadrez, em um local onde não poderia. O São Paulo, atrás, foi sempre perfeito: simples para afastar, qualificado para sair e com sorte quando o Inter levava vantagem, como na cabeçada de Wellington Paulista na trave.

O segundo tempo começou com pressão rubra, mas a saída de Alex diminuiu a qualidade do passe, e o Inter parou de chegar. Foi o melhor momento do São Paulo no jogo, com um contra-ataque atrás do outro, mas nada de matar a partida. O Colorado melhorou com Valdívia no lugar de Ygor, troca ousada de Abel, veio para o abafa com Wellington Paulista na vaga de Bertotto, teve oportunidades não só no chuveirinho, mas trabalhadas, mas não deu. A eficiência são-paulina falou mais alto.

O sentimento de frustração ficou evidente. A noite era para o Internacional bater um grande adversário, pular para a liderança e se credenciar de vez como postulante ao título. O que ocorreu foi que o gol enervou o Beira-Rio, que passou a se irritar bastante em parte do segundo tempo, especialmente com Rafael Moura. O torcedor colorado quer demais o Brasileirão, que não vem há 35 anos, e é normal que se frustre demais quando uma derrota assim ocorre. No fim das contas, foi tudo ao contrário: o São Paulo obteve uma grande vitória, que lhe coloca de vez na briga de cima e o credencia como um dos melhores times do campeonato. E o Inter, que podia abrir oito pontos para o Tricolor Paulista, o vê encostar, a apenas dois de distância. Sábado, contra o Atlético-MG, é a chance de uma nova história.

Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2014 - 16ª rodada
20/agosto/2014
INTERNACIONAL 0 x SÃO PAULO 1
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Grazianni Rocha (RJ)
Público: 34.262
Renda: R$ 982.625,00
Gol: Ganso 35 do 1º
Cartão amarelo: Fabrício e Hudson
INTERNACIONAL: Dida (5,5), Wellington Silva (5,5), Ernando (5,5), Juan (4,5) e Fabrício (6); Ygor (5,5) (Valdívia, 26 do 2º - 6), Bertotto (5,5) (Wellington Paulista, 35 do 2º - 6), Aránguiz (5), D'Alessandro (6) e Alex (6) (Jorge Henrique, 16 do 2º - 5); Rafael Moura (4,5). Técnico: Abel Braga
SÃO PAULO: Rogério Ceni (6,5), Paulo Miranda (7), Rafael Tolói (6,5), Edson Silva (7) e Álvaro Pereira (7); Denílson (6), Hudson (5,5), Ganso (7,5) (Michel Bastos, 31 do 2º - 6) e Kaká (6,5); Pato (6,5) (Ademílson, 41 do 2º - sem nota) e Alan Kardec (6). Técnico: Muricy Ramalho

Comentários

Vine disse…
Pelo que vi, foi um jogaço mesmo. Inter fez o que devia: pressionou do jeito que deu, mas a configuração do São Paulo na defesa foi tão bem montada e executada que não tinha como empatar...