O suficiente para fazer história

O Defensor é melhor, jogou muito mais e mereceu vencer por mais do que apenas 1 a 0 ontem no Centenário. Tudo isso é verdade. Mas a decisão da vaga para a final da Libertadores considera também o jogo de ida, logicamente. E o jogo da semana passada não pode ser esquecido também na análise: no Defensores del Chaco, foi o Nacional o dono do jogo, o time que criou inúmeras oportunidades, e que mereceu fazer até mais do que 2 a 0. No somatório dos 180 minutos, uruguaios e paraguaios jogaram mais ou menos a mesma coisa. Passou quem foi mais eficiente, e com todos os méritos.

A campanha inteira do Nacional de Assunção foi desta forma, sempre fazendo o suficiente para passar adiante. Onde muitos veem mediocridade, é preciso ir além e enxergar também o heroísmo. Na fase de grupos, o Nacional comemorou como se fosse título a passagem para as oitavas. A comemoração após a histórica vitória por 3 a 2 sobre o Santa Fé me chamou tanto a atenção que decidi ir à Arena (onde transmitiria Grêmio x Nacional, mas do Uruguai, para a Rádio Estação Web) ouvindo uma emissora paraguaia que transmitiu a partida. O tom dos jornalistas guaranis, com seu inconfundível sotaque, era de que o dever já havia sido cumprido, e com o mais absoluto heroísmo. Nunca o Nacional havia passado de fase, e o fez tirando o Santa Fé, semifinalista do ano anterior. Mas eliminar o Vélez, embora possível, era inimaginável.

Mas o Nacional foi indo. Cada feito era uma quebra de recorde. Isso traz um peso enorme a cada vitória, ou a cada derrota útil. Nas oitavas, aproveitou uma postura excessivamente recuada do Vélez e ganhou por 1 a 0 em Assunção. Na volta, fechou-se atrás e segurou um 2 a 2 que lhe classificava para as quartas, um feito mais uma vez histórico. A seguir, repetiu a dose e bateu o Arsenal de Sarandí, outro que não jogou nada em Assunção, confiando em trazer um empate e ganhar o jogo na Argentina. Mais uma vez, o time de Gustavo Morínigo se fechou, segurou o 0 a 0 e chegou às semifinais, já igualando a melhor marca do Cerro Porteño, clube de proporções imensamente maiores, na competição. Nas semifinais, mais uma vez passou raspando, mas passou com méritos: jogou demais em casa, com Brian Montenegro turbinando um setor ofensivo então pobre, e fez 2 a 0 no Defensor. Poderia perder por 1 a 0 no Uruguai, e assim fez. Foi a única derrota desta equipe no mata-mata, fase em que só pegou argentinos e uruguaios. Na final, pegará certamente mais um, no caso o San Lorenzo, que hoje defende uma vantagem gigantesca diante do Bolívar.

Foram 8 pontos em 18 disputados, a pior campanha entre os 16 classificados da primeira fase, e só vitórias agregadas de um golzinho de diferença nos mata-matas. Mas o Nacional merece demais a final da Libertadores, especialmente por um motivo: pode ser um clube pequeno, mas que tem sido grande diante dos grandes. Lembremos: na fase de grupos, não perdeu nenhum dos dois jogos para o então campeão Atlético Mineiro, mesmo no caldeirão do Independência, onde todo mundo caiu em 2013. E se o San Lorenzo confirmar a vaga hoje em La Paz, teremos, pela primeira vez, uma final de Libertadores com as equipes donas das duas piores campanhas da etapa de grupos. Fazer o suficiente está na moda aqui na América do Sul.

20 anos depois
Internacional e Ceará voltam a se encontrar na Copa do Brasil, 20 anos depois do polêmico duelo pelas quartas de final de 1994. Na oportunidade, o Vozão ganhou o jogo de ida por 1 a 0, perdeu na volta por 2 a 1 e se classificou às semifinais (seria vice-campeão). E os colorados não esquecem a anulação incorreta do terceiro gol, que seria o da classificação, pelo árbitro Léo Feldman, conhecido por errar contra times gaúchos naquele período.

Hoje, o Inter é melhor que o de 1994. Mas o Ceará também: se naquele ano chegar à final foi algo que surpreendeu o Brasil, agora a equipe nordestina tem a credencial de liderar a Série B com folga, tendo 27 pontos contra 23 dos vice-líderes, e já cinco pontos à frente de quem está fora da zona de promoção. Já eliminou uma equipe da elite (Chapecoense) e deve fazer um jogo duro no Beira-Rio hoje à noite. Sem Aránguiz, mais uma vez a criatividade do Inter será posta a prova. Contra o Bahia, o time precisou de um gol ocasional para vencer. E o Ceará é melhor do que o Bahia.

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