Poucos campeões para tanta final

O que vai para a história é a goleada, Cristiano Ronaldo e sua pose final, mas nada disso explica o que foi a final e o título do Real Madrid. O placar de 4 a 1 foi exagerado, o melhor do mundo jogou pouca bola (na final) e o Atlético merecia uma sorte muito melhor do que a de ser goleado no clássico que decidiu o maior torneio europeu de clubes. Nada que invalide o título do timaço do Real, claro.

A vitória do Real Madrid foi principalmente física e anímica, mais do que técnica. Na bola, o Atlético pode não ter o brilhantismo individual de seu rival, mas jogou mais nos 90 minutos. Simeone perdeu Diego Costa logo aos 8 minutos, repôs com Adrián e o reserva acabou sendo um dos melhores em campo. Enlouqueceu Carvajal durante toda a noite, apareceu para tabelamentos e, como todos os seus companheiros, doou-se durante o tempo todo.

Em um jogo tão parelho, qualquer erro poderia ser fatal. Tiago errou uma atravessada de bola, Bale invadiu a área e bateu para fora. Minutos depois, Casillas saiu completamente errado (repetiria este erro na prorrogação) e Godín desviou de cabeça para fazer 1 a 0. Um gol que moldou o restante do jogo à maneira que gosta o Atlético, se resguardando e saindo em velocidade. Adrián, Villa e Koke foram fundamentais ao puxar essas jogadas rápidas e segurar a bola no campo de frente.

O Real Madrid não conseguia encontrar soluções para furar o bloqueio. Ancelotti ousou sem se atirar para cima: tirou um lateral defensivo, Fábio Coentrão, e apostou em Marcelo; tirou Khedira e pôs Isco. O time ficou mais envolvente, mas igualmente mais exposto. Simeone não mexeu taticamente em sua equipe. O Atlético conseguia segurar a pressão e manter o Real longe de sua área até os 25 minutos, quando a pressão começou a aumentar de vez. Porém, mesmo com o time mais agudo, a equipe merengue seguia com dificuldades. A dedicação do Atlético era total, uma entrega raramente vista por equipe alguma em campeonato. Uma marcação forte, dedicada, organizada.

A partir dos 35, o Real Madrid, quase que desistindo de tentar por baixo, passou a erguer bolas na área na tentativa do empate por cima. O Atlético levava vantagem quase sempre, mas aos 48 Sérgio Ramos chegou ao empate. O verdadeiro gol do título: na prorrogação, o favoritismo era todo do time de Ancelotti, que tinha a moral lá em cima e um preparo físico superior. O Atlético apostou tudo nos 90 minutos, naturalmente: dedicou-se totalmente a segurar esta vantagem, e não conseguiu por detalhe. O gol de Ramos foi a maior ducha fria da história do clube, que viu o time chegar cansado e abalado para os 30 minutos de tempo extra.

A vantagem física do Real Madrid foi vista principalmente no segundo tempo da prorrogação, quando o cansaço atleticano já era absolutamente notório. A jogadaça de Di María no gol de Bale já partiu um pouco disso. O gol de Marcelo deixou o fator físico ainda mais evidente, bem como o pênalti em Cristiano Ronaldo, na última jogada da partida. Em 10 minutos, três gols. A diferença toda, portanto, ocorreu nos 10 minutos finais, mas não podemos esquecer dos 110 que vieram antes.

O grande nome de La Decima é Cristiano Ronaldo, artilheiro recordista, com 17 gols. Porém, na final, Di María é quem desequilibrou. Já era o melhor jogador do Real Madrid mesmo na quase concretizada derrota nos 90 minutos, com dinamismo, jogadas individuais inteligentes e muita entrega, e se consolidou nesta condição ao fazer a jogada do gol de Bale, o lance mais importante de toda a prorrogação. O galês, antes de marcar, perdeu ao menos três chances imperdíveis e vinha mal, como Ronaldo. Recuperaram-se a tempo, mas não a ponto de terem participado melhor do que Di María, Isco, Ramos ou Marcelo, por exemplo.

Ao Atlético, uma tarde absolutamente cruel. Não se pode dizer que o Real Madrid não mereceu o título, mas o fato é que o time alvirrubro também o merecia, e não apenas pela entrega, mas por toda a bola que jogou. Contra um time sete vezes mais caro, a equipe de Simeone jogou melhor na maior parte dos 90 minutos, e sem se retrancar, mas jogando de igual para igual por pelo menos 75 minutos, até que administrar a vitória passou a ser uma opção mais lógica. Ancelotti mexeu bem e é um técnico extremamente competente, mas Diego Simeone foi, sem dúvida, o maior treinador desta temporada. Há vencedores de ambos os lados, portanto. Foi uma final espetacular, com dois timaços que mereceram o título, num estádio que pulsou de emoção e barulho a tarde toda, como raras finais do Velho Continente na história.

Ficha técnica
Liga dos Campeões da Europa 2013/14 - Final
24/maio/2014
REAL MADRID 4 x ATLÉTICO DE MADRID 1
Local: Estádio da Luz, Lisboa (POR)
Árbitro: Bjorn Kuipers (HOL)
Público: 60.976
Gols: Godín 35 do 1º; Ramos 47 do 2º; Bale 4, Marcelo 12 e Cristiano Ronaldo (pênalti) 14 do 2º da prorrogação
Cartão amarelo: Ramos, Varane, Khedira, Cristiano Ronaldo, Marcelo, Miranda, Juanfran, Godín, Gabi, Raúl García, Koke e Villa
REAL MADRID: Casillas (3,5), Carvajal (4,5), Ramos (7), Varane (6) e Coentrão (5,5) (Marcelo, 13 do 2º - 6,5); Khedira (5,5) (Isco, 13 do 2º - 7), Modric (5,5) e Di María (8,5); Bale (6), Benzema (4,5) (Morata, 33 do 2º - 5,5) e Cristiano Ronaldo (5,5). Técnico: Carlo Ancelotti
ATLÉTICO DE MADRID: Courtois (7), Juanfran (6,5), Godín (7), Miranda (7) e Filipe Luís (6,5) (Alderweireld, 37 do 2º - 5); Tiago (6), Gabi (7,5), Raúl García (6) (Sosa, 20 do 2º - 5,5) e Koke (6,5); Diego Costa (sem nota) (Adrián, 8 do 1º - 8) e Villa (6,5). Técnico: Diego Simeone

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