Para quem tem estrela

Estrelas, Chelsea e Paris Saint-Germain têm de sobra. Não é deste tipo de estrela que falamos no título, pois neste caso os dois times são equilibrados. Até mesmo a ausência de estrelas entre ingleses e franceses foi semelhante, levando-se em conta o fato de que Ibrahimovic não jogou e Hazard, principal jogador do Chelsea na temporada, saiu logo no começo de um jogo em que seu time precisava criar chances. A estrela que falo, a que desequilibrou, é aquela que brilha nas horas decisivas, que nem sempre são os brilhantes que possuem. A estrela de Schürrle, de Ba e, principalmente, de José Mourinho.

Fazer 2 a 0 no PSG já era tarefa dura em circunstâncias normais, mas o Chelsea ainda se viu obrigado a abrir mão do lesionado Hazard, aos 17 minutos do primeiro tempo. Perdia seu jogador mais decisivo e criativo cedo demais, e o pior: o time francês era mais organizado. O Paris Saint-Germain pouco jogou no primeiro tempo, mas também pouco deixou o Chelsea jogar. Thiago Motta e Matuidi formavam uma fortaleza à frente da firme zaga brasileira formada por Alex e Thiago Silva, e os laterais Jallet e Maxwell eram marcadores implacáveis. Com tantos espaços fechados e sem sua principal peça criativa, não havia muito saída para os londrinos a não ser levantamentos para a área.

Foi num deles que saiu o gol. Embora firme, a defesa francesa foi pega de surpresa, já que o lance surgiu de uma cobrança de lateral, e não de falta ou escanteio. Foi Schürrle que marcou, o substituto de Hazard. O alemão, ao contrário do jogo de ida, quando atuou mais fincado, fez a do belga, caindo pela esquerda. Não tem a mesma impetuosidade do titular, mas exibiu muita qualidade técnica e vitalidade, sendo o principal nome do jogo. Seu gol trouxe o Chelsea para a pressão.

O segundo tempo foi absolutamente eletrizante. O Chelsea jogou-se em busca do golzinho salvador, mas sofria com os contra-ataques rápidos puxados por Lucas e Lavezzi. O PSG melhorou na volta do intervalo. Laurent Blanc inteligentemente fez seu time propor o jogo nos 15 minutos iniciais, que poderiam ter sido de pressão. Mourinho, então, foi empilhando atacantes. Seu time teve bom poder criativo quando Ba entrou, pois o senegalês dava opções a Oscar e Willian. O gol parecia próximo, até porque os franceses resolveram se entrincheirar a partir dos 30 minutos. Foi aí que, notando isso, o técnico português retirou Oscar e pôs Torres. Uma mexida equivocada, em princípio: deixava seu time com cinco atacantes e apenas Willian como meia de ofício. O lateral defensivo Ivanovic era obrigado a armar jogo muitas vezes. O PSG criou três chances seguidas nos cinco minutos posteriores à substituição, pois tinha muito espaço disponível. Tinha tudo para dar errado.

Mas deu certo. Na base da bola alçada na área, brilhou a estrela de Ba, que como Schürrle, autor do primeiro gol, saiu do banco para marcar o gol que classificou o Chelsea. O time da casa não exibiu grande futebol, viu seu técnico mexer teoricamente de forma equivocada, mas foi insistente, teve muita raça e conseguiu a vaga de forma merecida, pois o PSG, mesmo sem Ibrahimovic, poderia e deveria ter jogado muito mais do que jogou no Stamford Bridge. Não foram Hazard, Eto'o, Ibra ou Cavani que brilharam: brilharam mesmo as estrelas pouco cotadas de Schürrle e de Ba. E José Mourinho, claro.

Em tempo:
- David Luiz provou mais uma vez que joga muito melhor como volante que como zagueiro. Atuação exuberante à frente da zaga de um jogador que falha demais quando está no miolo da mesma.

- Em Dortmund, o que parecia uma classificação tranquila do Real Madrid virou drama graças a erros defensivos terríveis de Pepe e Ilarramendi. Os 2 a 0 foram um grande susto, mas classificam o time espanhol às semifinais da mesmíssima forma que a equipe foi eliminada pelo próprio Borussia em 2013. E Cristiano Ronaldo, no banco, sofrendo como poucas vezes na carreira, com uma sensação certamente angustiante de impotência diante de um desastre que parecia iminente.

FICHA
Liga dos Campeões 2013/14 - Quartas de final - Jogo de volta
CHELSEA (2): Cech; Ivanovic, Cahill, Terry e Azpilicueta; David Luiz, Lampard (Ba) e Oscar (Torres); Willian, Eto'o e Hazard (Schürrle). Técnico: José Mourinho
PARIS SAINT-GERMAIN (0): Sirigu; Jallet, Alex, Thiago Silva e Maxwell; Thiago Motta, Verratti (Cabaye) e Matuidi; Lucas (Marquinhos), Cavani e Lavezzi (Pastore). Técnico: Laurent Blanc
Local: Stamford Bridge, Londres (ING); Data: terça-feira, 08/04/2014, 15h45; Árbitro: Pedro Proença (POR); Público: 38.500; Gols: Schürrle 31 do 1º; Ba 41 do 2º; Cartão amarelo: Ivanovic, David Luiz, Lampard, Willian, Maxwell, Verratti, Lucas e Cavani; Melhor em campo: Schürrle; Nota do jogo: 9

NÚMEROS
Chances de gol: Chelsea 8 x 6 PSG
Finalizações: Chelsea 14 x 12 PSG
Escanteios: Chelsea 4 x 4 PSG
Impedimentos: Chelsea 0 x 5 PSG
Faltas cometidas: Chelsea 18 x 12 PSG
Desarmes: Chelsea 19 x 23 PSG
Passes errados: Chelsea 34 x 27 PSG
Posse de bola: Chelsea 55% x 45% PSG
Análise: os números evidenciam que a atuação do Chelsea foi muito mais coração do que qualidade. Mesmo precisando criar, a equipe teve poucas chances de gol o jogo todo e finalizou relativamente pouco para quem passou 86 minutos em busca de gols. O PSG, porém, com suas minguadas 6 oportunidades, deixa claro que foi a Londres se defender. Pagou caro pela falta de ambição.

FUTEBOL DE BOTÃO

Comentários