Brasileiro é Brasileiro

O Campeonato Brasileiro tem a capacidade de nos surpreender domingo após domingo, e neste 27 de abril não foi diferente. Antes desta 2ª rodada, era evidente que as chances de o Internacional obter um bom resultado eram melhores que as do Grêmio, por diversos motivos: a melhor fase do Colorado, o adversário fraco que ele teria pela frente e o fato de o Tricolor entrar com seu time reserva neste domingo. Pois não foi nada disso que aconteceu.

O empate do Inter no Maracanã com o Botafogo foram dois pontos perdidos, mais do que um ganho. Mesmo fora de casa, teve sabor de derrota, com retrogosto de que poderia ser pior. O Fogão vinha em profunda crise e levou 2 a 0 ao natural em um animador primeiro tempo do time gaúcho. Com um futebol seguro e confiante, o Colorado se impôs com facilidade e dava a impressão de que golearia. Aránguiz sobrava, Valdívia dava a velocidade ao time que Alex não consegue mais dar, Rafael Moura era oportunista, a defesa parecia segura. Parecia.

Na etapa final, tudo ruiu. O Inter não voltou para o segundo tempo. Em três minutos o Fogão já havia criado duas chances de marcar. Emerson Sheik, o estreante da tarde, assumiu o comando das ações, fez um gol após saída errada de Dida, deu a Zeballos outro e por pouco ainda não conseguiu a virada. Sua atuação foi espetacular, mas o apagão colorado não se justifica. O Inter foi o time dos Gre-Nais no primeiro tempo e o time de 2013 no segundo, se desarrumando por completo e quase perdendo um jogo que estava praticamente ganho.

Já o Grêmio, com reservas, pouco prometia diante do Atlético Mineiro. Era jogo para ver Luan, Rodriguinho e tentar evitar o pior, o que parecia difícil diante de tantos desfalques. Mas a gurizada se portou muito bem, e foi ajudada pelas circunstâncias. O Galo foi uma caricatura do time campeão da América. O golaço de Alán Ruiz no começo facilitou as coisas, claro. O time de Levir Culpi sentiu o golpe e ficou visivelmente ansioso. Prova está no recuo mal feito de Alex Silva, aproveitado magistralmente por Lucas Coelho para fazer o segundo.

O Atlético tentou exercer uma pressão, mas de forma absolutamente ineficaz. Ronaldinho e Diego Tardelli estiveram sumidos, Jô perdia todas para Saimon. Fernandinho era o único que tinha alguma vitória pessoal, mas Breno fez ótima partida na marcação (faria pior que Léo Gago em Buenos Aires?) e diminuiu-lhe os espaços sempre. O segundo tempo viu o Galo descontar no final, mas também viu o Tricolor perder quatro ou cinco chances claríssimas para ampliar. Luan, apesar de certo individualismo, foi um dos destaques, provando estar pronto para quarta. Rodriguinho teve atuação satisfatória, enquanto Lucas Coelho e Alán Ruiz, autores dos gols, realizaram suas melhores partidas com a camisa do Grêmio até agora.

Tudo na Arena girava em torno do jogo de quarta, porém. E aí vem, parece, a única dúvida de Enderson Moreira: Ramiro ou Zé Roberto? Ele não vai mexer em Edinho, guardião da defesa e forte no jogo aéreo, tampouco em Riveros, jogador experiente e importantíssimo. Luan se escalou ontem, Dudu é titularíssimo, Barcos também. A formação, aposto, será a mesma de sempre. Se jogar Zé, fará a mesma função de Ramiro: segundo volante com liberdade para chegar, pelo lado esquerdo - o que ele próprio exercia na seleção brasileira de 2006, por sinal. Mas mesmo que o jogo de ontem nada tivesse a ver com o de quarta, uma vitória como essa sempre ajuda a amenizar o ambiente de desconfiança.

Embolou tudo de novo
Pode-se questionar a beleza do futebol do Chelsea, mas jamais sua eficiência ou competência. Ontem, no Anfield Road, a equipe de Londres encerrou uma série de 11 vitórias seguidas do Liverpool com uma vitória por 2 a 0 construída basicamente a partir da exploração dos erros alheios, e de uma perfeição defensiva raras vezes vista. O resultado deixa o título, agora, nas mãos do Manchester City, que tem saldo superior ao Liverpool, três pontos a menos, mas um jogo a menos também. O Chelsea, dois pontinhos atrás, segue à espreita. Faltam duas rodadas.

Domingo dourado (e preto)
Histórica a goleada do Peñarol sobre o Nacional no clássico uruguaio. Os 5 a 0 deixam o time de Jorge Fossati na liderança do Campeonato Uruguaio, com 26 pontos. Faltando três rodadas, o Bolso vê suas chances de disputar a Libertadores de 2015 bastante reduzidas. Um fim de semestre melancólico e para ser esquecido do time de Gerardo Pelusso, que ontem contou com nomes experientes como Munúa, Cruzado, Coates e Recoba - este disputou seu último clássico da carreira. Uma despedida amaríssima.

Em tempo:
- O gol de Alán Ruiz foi o primeiro marcado de falta pelo Grêmio em oito meses. O último havia sido o de Pará, na vitória por 1 a 0 sobre o Flamengo, no Mané Garrincha, pelo Brasileirão 2013. Aquele jogo foi disputado no dia 24 de agosto do ano passado.

- Come a banana, Daniel Alves. Racista tem que ser ridicularizado mesmo.

Comentários

Lique disse…
o jogo do liverpool foi a coisa mais dolorosa e trágica que eu vi desde grêmio x santa fé ano passado. estava torcendo muito pelos vermelhos, dois bons amigos daqui são torcedores fanáticos. é um time que dominou as décadas de 70 e 80 na inglaterra, mas não ganha a liga há 24 anos. um dos meus amigos nasceu em 74 e viveu toda glória (como os gremistas da nossa geração), mas não consegue comemorar uma liga há 24 anos.

gerrard, tem 33 anos e chegou no liverpool aos 7 anos de idade, 3 anos antes do último título inglês. já ganhou champions, fa cup, copa da liga, copa da uefa, supercopa da uefa. só lhe falta o nacional. mas a vida, essa marota, quis que ele escorregasse e entregasse a vantagem toda ao city, que só precisa vencer seus três jogos restantes para garantir a taça. ainda por cima: terá de contar com a ajuda do rival everton (que pelo menos ainda briga por classificação às competições continentais) para voltar a ter chance.

que dureza!

-=-

claro que agora não seria a hora de inventar e jogar uma decisão sem centroavante, mas eu gostaria de ver luan e dudu, que estão voando, jogando juntos como atacantes, sem o barcos, que tem decepcionado bastante, só faz gol de pênalti. quando centroavante vive de gol de pênalti é hora de se aposentar.
Vicente Fonseca disse…
Essa escorregada do Gerrard foi uma das maiores injustiças dos últimos anos. Talvez seja o segundo melhor jogador do Liverpool no campeonato e, como tu disse, já ganhou tudo no clube, só falta esse título. Realmente triste.

Acho que o Barcos faz um bom ano, e caiu nas últimas rodadas junto com o time. Fez um gol importante em Medellín, com categoria, um cruzamento pro gol decisivo do Rhodolfo em Rosário, fora o fato de ser o capitão e referencial moral do time dentro de campo. Mas aí está um ponto importante que tu tocou: por que não jogar sem centroavante quando ele estiver lesionado?

Muito se fala que o Grêmio não tem reserva pro Barcos, e não tem mesmo. Mas em vez de inventar alguém sem qualidade ali, é bem possível fazer um ataque com Luan e Dudu, sem um camisa 9. Gosto de time com a figura centralizada, mas também não é cláusula pétrea. 2001 que o diga.
Anônimo disse…
quem nesse time pode brigar pela titularidade?
Sancho disse…
Uma vez me perguntaram por aqui "qual jogador que tu mais gostas?" Pensei um pouco e tasquei: Steve Gerrard.

Sou fã de carregadores de piano, e esse ainda toca o instrumento!
Vicente Fonseca disse…
Toca como poucos, Sancho.

Sobre a pergunta anônima, não acho que nenhum deva ser titular para quarta, por exemplo. Mas Breno, Rodriguinho e Alán Ruiz são todos jogadores de bom nível. O Matheus Biteco tem ao menos qualidade para pegar banco de vez em quando.