O 400 é do Abelão

Abel Braga não costuma dar muita sorte em Gre-Nais, mas o clássico 400 foi dele. Foi no intervalo que o Internacional arquitetou sua virada para cima de um Grêmio que jogava em casa, chegava como favorito pela bola que vem jogando e ainda por cima ganhava de 1 a 0, com uma atuação bem superior nos 45 minutos iniciais. Cenário parecido com o do Gre-Nal do Século e com o dos históricos 2 a 1 de 2003 no Olímpico, duas viradas que entram para a história do Inter, como esta parece prestes a entrar, se o título for confirmado daqui a 15 dias.

Os dois times entraram em campo com as escalações que vinham atuando, e a tendência indicava um Grêmio melhor. Foi o que aconteceu. Nos primeiros 10 minutos o time de Enderson Moreira exerceu uma pressão territorial mas era contragolpeado sempre com perigo pelo Inter, especialmente pelo lado direito. Aos 8 minutos, Marcelo Grohe tirou de dentro do gol uma cabeçada de Alex, em lance que entraria duas vezes na etapa final com Rafael Moura. Mas aos 14 veio o gol de Barcos, que estabelecia a vantagem gremista numa Arena que fervilhava.

O Inter se perdeu, mas o Grêmio neste momento cometeu seu primeiro pecado da tarde: deixou de ampliar no momento favorável. As melhores chances vieram com Riveros, uma num voleio, outra num chute cruzado que raspou o travessão. O time de Enderson Moreira era superior nos rebotes e ganhava com facilidade as jogadas pelos lados do campo. Se Luan estava bem marcado, Dudu passava pelos marcadores com velocidade e sempre muito perigo. Faltou, porém, fome para partir para cima e fazer mais gols. O Grêmio administrou uma vantagem magra cedo demais.

Em 2003, Muricy Ramalho tirou Cleiton Xavier do banco e com ele virou um Gre-Nal que parecia perdido. Abel fez algo semelhante com Alan Patrick ontem. Ele não foi tão decisivo quanto Cleiton Xavier 11 anos atrás, mas substituiu Jorge Henrique com imensa vantagem. É um jogador mais rápido, incisivo e dinâmico, que dividiu a criação com D'Alessandro. Mais deslocado pela direita, D'Ale fugiu da marcação ferrenha de Edinho e passou a jogar mais. Isso tudo, e mais o recuo de Alex para volante, propiciou chegadas mais frequentes de trás de Aránguiz. Foi numa delas que o chileno cruzou para Rafael Moura empatar.

Era cedo, 7 minutos apenas. O Grêmio tinha bastante tempo para se recompor e tentar mandar no jogo de novo, mas sentiu demais o golpe. E o Inter aproveitou o que o rival não fizera na etapa inicial: aproveitou o bom momento e partiu para definir o jogo. O segundo gol de Rafael Moura, novamente postado entre os zagueiros gremistas, surgiu de um contra-ataque num momento onde o Tricolor atacava sem qualquer organização. O pecado do Inter, aí, foi não ter feito o terceiro após a virada. Teve chances mais claras de ampliar que de sofrer o 2 a 2. O 2 a 1 é uma ótima vantagem, mas ainda não define o campeonato.

Se Abelão soube reposicionar bem o Inter para obter uma grande virada, Enderson Moreira foi mal nas mudanças. Primeiro, demorou demais para colocar em campo Alán Ruiz. Ele só entrou aos 25, com 1 a 1 no placar, e o rival melhor há pelo menos 20 minutos. E, quando entrou, foi no lugar de Dudu, que era quem mais vinha dando trabalho ao Colorado. Depois, quando tirou um volante, preferiu deixar em campo o apagado Ramiro e sacar Riveros, um dos melhores do time azul neste domingo. Uma tarde bem infeliz do treinador tricolor, que aliada a uma ótima jornada de Abelão colocam o Inter muito perto do tetracampeonato estadual.

Em tempo:
- Rafael Moura é o destaque óbvio, mas o segundo tempo do chileno Aránguiz também o credencia como o melhor em campo no Gre-Nal. Do outro lado, Werley, quase sempre atrasado por baixo e por cima, foi o pior do Grêmio.

- Há duas semanas até o próximo Gre-Nal, mas é interessante ver como reagirá o Grêmio na Libertadores após este duro golpe. Uma nova derrota na Colômbia colocará o time em 3º lugar. Não que a vaga fique sob grande risco (bastará ganhar do Nacional uruguaio na Arena na última rodada), mas uma instabilidade num período decisivo pode ser bastante perigosa. Até agora o Tricolor vinha só no embalo. Agora, pela primeira vez veremos como emerge de um mau momento.

- Alguém lembra a última vez que um mandante ganhou Gre-Nal em final de Gauchão? Faz 15 anos: Grêmio 1 x 0 Inter, decisão de 1999. De lá para cá, em sete clássicos, os mandantes perderam cinco e empataram dois.

- Só eu tive a impressão de que havia muito mais do que 40 mil pessoas na Arena? A televisão, ao menos, passou esta impressão.

Campeonato Gaúcho 2014 - Final - Jogo de ida
GRÊMIO (1): Marcelo Grohe; Pará, Werley, Rhodolfo e Wendell; Edinho, Ramiro e Riveros (Maxi Rodríguez); Luan (Jean Deretti), Barcos e Dudu (Alán Ruiz). Técnico: Enderson Moreira
INTERNACIONAL (2): Dida, Gilberto, Paulão, Juan (Ernando) e Fabrício; Willians, Aránguiz, Alex (Ygor), D'Alessandro e Jorge Henrique (Alan Patrick); Rafael Moura. Técnico: Abel Braga
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS); Data: domingo, 30/03/2014, 16h; Árbitro: Leandro Vuaden (RS); Público: 39.874; Renda: R$ 1.903.957,00; Gols: Barcos 14 do 1º; Rafael Moura 7 e 27 do 2º; Cartão amarelo: Edinho, Gilberto, Paulão e Willians; Melhor em campo: Rafael Moura; Nota do jogo: 8

NÚMEROS
Chances de gol: Grêmio 7 x 10 Internacional
Finalizações: Grêmio 10 x 11 Internacional
Escanteios: Grêmio 4 x 4 Internacional
Impedimentos: Grêmio 1 x 2 Internacional
Faltas cometidas: Grêmio 19 x 20 Internacional
Passes errados: Grêmio 27 x 37 Internacional
Desarmes: Grêmio 23 x 23 Internacional
Posse de bola: Grêmio 43% x 57% Internacional
Análise: os números provam que o Gre-Nal foi equilibrado. A vantagem colorada foi sua efetividade e contundência ao atacar: mesmo com número de finalizações semelhante ao do rival, o Inter teve mais chances claras de gol.

PAINEL TÁTICO

Comentários

Lique disse…
não seria nenhum exagero dar um vermelho pro willians naquela tentativa de assassinato ao riveros.
Vicente Fonseca disse…
É verdade, Lique. Ne verdade, acho que seria o mais correto, inclusive.
Marcus Staffen disse…
Mas esse é um problema freqüente do Vuaden (grande árbitro!). Ele acaba, várias vezes, aplicando o amarelo em lances claros de vermelho e, em jogadas menores, aplica o mesmo cartão (como na falta de jogo, matando contra ataque, que o Edinho fez no segundo tempo)...
Vicente, estava na Arena e a impressão foi a mesma, não teria como caber mais 15 mil pessoas lá dentro, tinha mais de 40 mil...
Anônimo disse…
É verdade que tirar o Dudu foi um erro, mas não dá para um time sofrer dois gols praticamente idênticos na pequena área. Tivéssemos um zagueiro razoavelmente melhor ontem e o jogo poderia ter tido um outro rumo.

Espero que o Enderson tire as lições para quarta, porque os colombianos virão com tudo.

Tiago
André Kruse disse…
De onde eu estava no estádio não parecia ter mais de 40 mil pessoas.
Lourenço disse…
Gostei da lembrança do grenal de 2003, achei muito parecido também pelos dois tempos distintos.
Lourenço disse…
E, apesar do lance do Williams ser discutível, foi um dos grenais em que menos se falou da arbitragem, acho que o Vuaden fez um grande trabalho.