Um 3 a 0 sólido num jogo complicado

Estamos em fevereiro, e portanto é cedo demais para falar que o Grêmio está pronto para ganhar a Copa Libertadores. Muitas coisas mudarão até agosto, e por vezes times que encaixam cedo demais também podem desencaixar antes da hora. Porém, a evolução do time de Enderson Moreira é visível e ocorre em passos rápidos e seguros. Os 3 a 0 sobre o Atlético Nacional não deixam dúvidas. O resultado encobre dificuldades pelas quais a equipe gaúcha passou durante a partida, mas são essas próprias dificuldades que valorizam ainda mais os três pontos obtidos pelo Tricolor.

O Atlético Nacional é muito bom time: bicampeão colombiano, bateu o Newell's Old Boys com autoridade na estreia, tem jogadores talentosos. Tanto que chegou à Arena disposto a atacar, sem se intimidar com o Grêmio e o cenário adverso. Tomou a iniciativa no início do jogo, e teve ao final 62% da posse de bola. Juan Carlos Osorio, sabedor da força do Tricolor pelos lados, mudou o esquema do 3-4-3 para o 4-3-3, uma escolha com ganhos e perdas: embora tenha mantido a força ofensiva, o time colombiano não foi mais seguro defensivamente, como propunha seu técnico, especialmente por conta de erros individuais de seus laterais - Valencia, em especial, foi desastroso.

Atlético Nacional no 4-3-3, em vez do habitual 3-4-3
Com Cardona bem mais discreto que contra o Newell's, o Atlético Nacional tocava muito e criava pouco. O Grêmio não se constrangeu em começar especulando, mas logo passou a equilibrar e dominar a partida, sempre com Luan, que já é a referência técnica da equipe. E não são só jogadas individuais, mas em tabelamentos, lançamentos e marcando um golaço com inteligência, aproveitando o fato de que não estava impedido, sem Riveros, para encobrir Martínez com categoria.

O Grêmio terminou melhor a etapa inicial, mas o Atlético Nacional voltou pressionando no segundo tempo. Preocupou um tanto o modo como os colombianos se aproximavam da área de Marcelo Grohe, com relativa facilidade, mas é preciso salientar a boa qualidade da equipe visitante e a dificuldade do time de Juan Carlos Osorio em concluir dentro da área. Numa das poucas falhas da zaga, Uribe entrou livre e Grohe salvou, mas chutes de longe de Cardona e Cárdenas levavam perigo.

Porém, a exemplo do primeiro tempo, Luan passou a explorar os erros da defesa adversária e trazer o Grêmio em busca do segundo gol. Seu cruzamento para o voleio de Zé Roberto foi a jogada mais bonita da partida. Mas foi Wendell, aos 19, que fez a grande jogada que resultou no gol de Ramiro. Foi o lance mais importante da partida, pois ampliou a vantagem e esfriou de vez a tentativa de reação colombiana. O golaço de Alán Ruiz, no finzinho, foi só o complemento perfeito de uma grande noite.

A vitória é consistente, o resultado é chamativo. Em dois jogos, o Grêmio obteve duas ótimas vitórias, e no grupo da morte, o mais complicado da Libertadores. É cedo para falar em favoritismo, vale à pena repetir, mas não se pode dizer que este time não tem parâmetro para se guiar, pois já enfrentou duas equipes bem complicadas, e passou com louvor por ambas. A classificação está começando a se encaminhar, mas ainda não está assegurada. Há o forte Newell's pela frente na Arena, e compromissos difíceis fora de casa na Argentina e na Colômbia na sequência. A chave, de fato, não permite qualquer respiro. Sorte que esta gurizada tem mostrado fôlego de sobra.

O time é esse
O 4-3-1-2 é o esquema para o momento do Grêmio, e a escalação é exatamente a que começou o jogo de ontem. Edinho é importante na proteção à zaga, Ramiro e Riveros são peças fundamentais no vaivém e na intensidade do meio. Zé Roberto, Luan e Barcos se entendem cada vez melhor, embora o argentino tenha ido abaixo do esperado ontem. Dudu, Alán Ruiz e Jean Deretti são boas opções, mas para segundo tempo ou modificar uma situação específica da partida. A equipe titular dos dois primeiros jogos da Libertadores é sólida defensivamente, intensa no meio e incisiva no ataque. Não há o que nem porque mudar.

Em tempo:
- É interessante a ideia de Enderson Moreira de escalar sempre o que há de melhor também no Gauchão, mas as dificuldades que o grupo da morte apresentam também mostram que é conveniente o Grêmio dosar forças de vez em quando, para não pagar a conta do desgaste lá na frente. Ninguém no país tem passado por tantos jogos complicados nestes dois meses iniciais de 2014 como o Tricolor.

- O Gauchão é insosso como sempre, mas a noite de hoje reserva dois jogos interessantes para quebrar esta monotonia: o Ca-Ju dos novos técnicos Beto Campos e Roger e Inter x Brasil.

Comentários

Chico disse…
Vitória extraordinária contra os fregueses de 95.

O Tricolor marcou muito bem e soube liquidar a equipe advesária no contra-ataque.

Luan e Ramiro jogaram muito.

O time parece cada vez mais sólido e com boas alternativas. Tudo isso num curto espaço de tempo.
Que time bem chato esse de se jogar. É liso em todos os sentidos: pra se desvencilhar do marcador, pra trocar passes, pra partir em velocidade pro ataque... Tivessem um pouquinho mais de ímpeto ontem, não duvido que teriam balançado as redes do Marcelo Grohe. Pelo menos tive essa impressão: até o gol do Luan, parecia que eles estavam com a chave do chuveiro do time ligada no VERÃO, e ficariam felizes com um empate. Depois disso, mostraram a cara.

Como tu disse, o Cardona não apareceu muito pro jogo. Em compensação, aquele Cárdenas me agradou bastante: corre uma barbaridade e não tem medo de ser feliz partindo pra cima dos zagueiros.

Ao que tudo indica, suaremos em Medellín. A boa notícia é que, dependendo da nossa atuação contra o Newell´s, podemos ir pra lá de sangue doce.
Igor Natusch disse…
Para mim o Nacional-COL classifica junto com o Grêmio nesse grupo. É bom time e enfrentou bem ontem, em especial no segundo tempo.

Posso estar meio vesgo ou maluco, mas ontem o Grêmio me pareceu quase um 4-3-3, com Zé Roberto e Luan abrindo bem pelas pontas, bem avançados. De volante mesmo, fixo, foi só o Edinho: Riveros e Ramiro tiveram muita liberdade. Os dois, aliás, são fundamentais para o bom momento do time.

E não adianta o Máxi ficar mordido. No momento, ele não tem espaço nesse time. Nem Dudu inclusive, nem Alan Ruiz (apesar do golaço). Tá encaixando bem demais com as peças que estão em campo.
Vicente Fonseca disse…
Concordo parcialmente contigo quanto ao Zé, Igor. O Zé Roberto abriu bastante pela direita, de fato, mas também atuou muito pelo meio e até pela esquerda. O "heat map" dele do Footstats é impressionante: aparece por todos os lados do campo. Isso com quase 40 anos.