Um Gre-Nal carioca



O Gre-Nal de hoje quase ocorreu em Cascavel e Brasília. Na verdade, aconteceu em Caxias do Sul, mas teve toda a pinta de que foi no Rio de Janeiro: calor de 28ºC, árbitro carioca, times com escalações abertas, muitas provocações bem humoradas de parte a parte, jogo emocionante e, claro, um empate de 2 a 2.

O Inter começou mais ligado. O gol de Willians, logo aos 3 minutos, em falha de Souza (perdeu a bola e abriu o buraco para o chute no lugar onde ele deveria estar), mudou já no início a história do clássico. O Grêmio teve mais posse de bola nos primeiros movimentos, ocupando o campo colorado, como costuma fazer longe da Arena. Porém, a desvantagem cedo obrigava o time de Renato a ser mais propositivo, algo para o qual ele não estava (quase nunca está) preparado. Por isso, a proposta de jogo do Inter foi mais bem sucedida no primeiro tempo.
1º TEMPO: Inter com três meias dificulta saída dos alas do Grêmio
Em nomes e em conjunto, Clemer visivelmente não tem melhor material humano que Renato, mas seu time dominou os primeiros momentos do jogo pela superação. Willians exibiu grande fôlego, subindo bem para o ataque e voltando para roubar bolas no campo defensivo. Otávio dava trabalho à zaga gremista pela esquerda e D'Alessandro, aberto pela direita, foi o maestro de sempre. Damião quase fez o segundo aos 23, num raro cruzamento de Kleber. E a partir daí a partida mudou.

O Grêmio, na segunda metade da etapa inicial, repetiu um procedimento que sempre realiza fora de casa: adianta sua marcação e força o erro na saída de bola adversária. O time de Renato realmente está longe de ser brilhante, mas sua consciência tática é tamanha que mesmo ao sair atrás não deixou de atuar mais resguardado no começo para ir se soltando aos poucos, como sempre faz, mesmo que estivesse perdendo. Ainda assim, faltava maior poder de conclusão. O Inter marcava forte, e bem. O gol contra de Jackson foi um castigo demasiado. Embora o time de Renato já estivesse levemente melhor naquela altura do jogo, foi um gol mais achado que construído.

No começo do segundo tempo, o jogo virou do avesso, e o Grêmio deixou de matar o jogo. O segundo gol, de Vargas, foi uma pintura coletiva, uma síntese das melhores qualidade deste time gremista: defesa firme, saída rápida para o contragolpe, tabela inteligente entre Ramiro e Kleber (pela esquerda, quando estão acostumados a fazer o mesmo pela direita) e a entrada de Vargas por trás da zaga, entrando com bola e tudo. Nesta jogada ficou evidenciado aquilo que Clemer disse em sua coletiva: o Grêmio se defende bem e sabe o que fazer quando tem a bola nos pés. Souza, de cabeça, aos 10, quase fez o terceiro, que mataria o jogo.
2º TEMPO: após sofrer o gol, Clemer abre o time e Inter passa a jogar no 4-3-3
Aí, quando tudo levava a crer que o Grêmio venceria, surgiu D'Alessandro, o salvador colorado de 2013, que sofreu pênalti de Bressan e cobrou no cantinho de Dida. D'Ale quase marcaria aos 32, mas Riveros salvou. Nos minutos finais, embora a velocidade de Caio causasse transtornos, foi o Grêmio que terminou melhor, até por ser um time mais ajustado taticamente, o que facilita para que se sobressaia fisicamente. Como Clemer abriu seu time com Caio e Forlán, o Tricolor passou a controlar a meia-cancha, ficando mais perto da vitória. A chance perdida aos 46 foi a maior da partida, primeiro por Alex Telles, depois Kleber, e enfim Souza.

Foi um Gre-Nal equilibrado e emocionante. O Grêmio provou estar num estágio superior enquanto equipe, o que era normal de se prever, mas o Inter equilibrou na base da raça e de mais uma bela jornada de D'Alessandro. Ele e Willians foram os melhores do lado rubro. Pelo Tricolor, Kleber e Ramiro fizeram uma partidaça, coroada com a jogada maravilhosa que resultou no gol de Vargas. A zaga, porém, sentiu a ausência de Rhodolfo. Alex Telles esteve abaixo da média, e Gabriel talvez tenha sido o pior jogador do clássico, exalando displicência.

Quanto ao campeonato, o resultado não é bom nem ruim para ninguém. O Grêmio praticamente já não tem mais chances de buscar o Cruzeiro, e o mesmo vale para o Inter em relação ao G-4. Valeu por ser um Gre-Nal, e alguns aspectos positivos merecem ser destacados dos dois lados. Pelo lado colorado, a entrega da equipe, que não atua taticamente tão melhor assim com Clemer (em apenas duas semanas é impossível), mas visivelmente corre mais do que nos últimos tempos de Dunga. Do lado gremista, embora a defesa tenha falhado mais do que costume, foi mais um jogo em que a equipe provou ser taticamente muito bem acertada e consistente.

Em tempo:
- Arbitragem muito boa de Marcelo de Lima Henrique.

- Provocações de lado a lado não caíram na infantilidade, mas sim no bom humor. Um tempero na medida certa para um Gre-Nal morno em termos de objetivos de campeonato e fator decisivo. E muito mais legal do que a chatíssima briga por ingressos.

Campeonato Brasileiro 2013 - 30ª rodada
20/outubro/2013
INTERNACIONAL 2 x GRÊMIO 2
Local: Centenário, Caxias do Sul (RS)
Árbitro: Marcelo de Lima Henrique (RJ)
Público: 17.107
Renda: R$ 453.830,00
Gols: Willians 3 e Jackson (contra) 40 do 1º; Vargas 6 e D'Alessandro (pênalti) 15 do 2º
Cartão amarelo: Kleber, João Afonso, Willians, Pará, Alex Telles e Bressan
INTERNACIONAL: Muriel (5,5), Gabriel (4), Jackson (3,5), Juan (6) e Kleber (5,5); João Afonso (5), Willians (6,5), Jorge Henrique (5) (Forlán, 12 do 2º - 6), D'Alessandro (7,5) e Otávio (6,5) (Caio, 28 do 2º - 6); Leandro Damião (4,5) (Rafael Moura, 39 do 2º - sem nota). Técnico: Clemer (6)
GRÊMIO: Dida (5), Pará (5,5), Werley (5,5) (Saimon, intervalo - 5,5), Bressan (5) e Alex Telles (4,5); Souza (4,5), Ramiro (7) e Riveros (6,5); Kleber (7,5), Barcos (5) (Yuri Mamute, 40 do 2º - sem nota) e Vargas (6,5) (Wendell, 45 do 2º - sem nota). Técnico: Renato Portaluppi (6)

Comentários

Sancho disse…
O Cruzeiro está dando toda oportunidade para que cheguemos nele, 3 pontos em 12, nós é que falhamos!
Vicente Fonseca disse…
É verdade, Sancho. Dos últimos 15 pontos disputados, o Grêmio fez 8, e o Cruzeiro 6. Foram dois pontos tirados em 5 jogos, 0,4 por partida. Para quem precisa tirar 1 por jogo, a média é insuficiente.
Franke disse…
Agora que já garantimos presença na Copa do Brasil 2014, eu acredito em título.