10 a 0. E daí?



Eram 23 minutos do segundo tempo. Oito bolas já haviam entrado no gol de Roche. A sétima delas foi a mais dolorida: o arqueiro taitiano saiu afobadamente do gol e deixou a redonda passar por baixo de seus braços, permitindo que Villa entrasse sozinho e mandasse para as redes. A desolação do camisa 1 era tão grande que os próprios espanhóis já o consolavam. Mas naquele momento Roche tinha sua chance de redenção.

Era uma falta para a Espanha. Villa, aquele mesmo que fizera o gol no qual Roche falhara, se posicionava para bater. A cobrança superou a barreira e desceu certeira até o canto direito do goleiro, que estava posicionado em seu canto. Já estava 8 a 0, mas e daí? Era questão de honra para Roche impedir aquele gol, por mais insignificante para os rumos do jogo que ele fosse. O goleiro taitiano correu em disparada, se atirou nela como se não houvesse amanhã e, para delírio do Maracanã, espalmou para escanteio. Após levar oito gols, se sentiu no direito de comemorar e acenar para a galera. E tinha mesmo: foi ovacionado pelo estádio.

Eis o lance mais sensacional da tarde, senhores. Porque a Espanha fazer 10 a 0 no Taiti é lugar-comum, era o esperado, era o óbvio. Nada disso comove. O que fez o público do Maracanã vibrar foram as trocas de três passes certos que a seleção oceânica vez por outra acertava, as defesas de Roche, uma falta cometida por um espanhol que não conseguia tirar a bola de um taitiano sem cometer irregularidade. Ou, ainda mais, o pênalti desperdiçado por Fernando Torres (aposto que até alguns espanhóis torceram para que Roche defendesse a cobrança), que acertou o travessão. Coisas assim. Que bom que o público que foi ao estádio entendeu o jogo. É uma demonstração de caráter e espírito esportivo. Eis o verdadeiro fair play.

Em tempo:
- Se o Uruguai vencer a Nigéria, o Taiti entra na última rodada com chances de classificação.

- Demos notas a todos os jogadores em respeito ao Taiti, que merece uma avaliação justa como qualquer outra equipe, segundo critérios técnicos, sem benevolência - embora conte com nossa total simpatia. Aliás, apesar de colocar reservas, a Espanha teve postura perfeita neste sentido: jogou de forma séria, sem menosprezo, e ainda cumprimentou um a um cada jogador adversário.

- Técnico taitiano tinha como objetivo manter a posse de bola por 18% do jogo. Teve o dobro: 36%. Ainda assim, saiu reclamando da desorganização de seu time.

Copa das Confederações 2013 - Grupo B - 2ª rodada
20/junho/2013
ESPANHA 10 x TAITI 0
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (BRA)
Árbitro: Djamel Haimoudi (ALG)
Público: 71.806
Gols: Torres 4, Silva 30, Torres 32 e Villa 38 do 1º; Villa 3, Torres 11, Villa 18, Mata 20, Torres 32 e Silva 43 do 2º
Cartão amarelo: Cazorla
ESPANHA: Reina (6), Azpilicueta (6), Ramos (5,5) (Navas, intervalo - 7), Albiol (5,5) e Monreal (5,5); Martínez (6), Cazorla (6,5) (Iniesta, 30 do 2º - 5,5) e Silva (7); Mata (6,5) (Fabregas, 23 do 2º - 5,5), Torres (7) e Villa (7,5). Técnico: Vicente del Bosque (6)
TAITI: Roche (5,5), Aitamai (3,5), Ludivion (3), Vallar (5), Jonathan Tehau (4) e Lemaire (3); Bourebare (3), Caroine (4), Vahirua (5) e Chong-Hue (4,5); Alvin Tehau (4). Técnico: Eddy Etaeta (1)

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