Punição justa, mas não milagrosa

A punição dada pela Conmebol ao Corinthians em relação à morte de um torcedor boliviano na partida contra o San José é provisória, mas inicialmente justa. O clube ainda pode recorrer, não há nada que garanta que jogará mesmo sem torcida nesta Libertadores. As penas de portões fechados, abolidas do futebol brasileiro há alguns anos, são justificáveis em casos extremos como esse. O que não pode é virar moda por conta de incidentes menores.

No entanto, é ingênuo esperar que simplesmente uma punição exemplar como esta vá servir para impedir que fatos terríveis como os da última quarta-feira se repitam. Muito tem se falado que a tragédia de Heysel, ocorrida em 1985, envolvendo a torcida do Liverpool, excluiu os times ingleses de competições europeias por cinco anos e revolucionou o futebol britânico para sempre por causa disso. Há uma dupla confusão: os times da Inglaterra foram realmente excluídos de torneios europeus até 1990, mas o que mudou o clima nos estádios foi o Relatório Taylor, surgido a partir de outra tragédia, a de Hillsborough, ocorrida em 1989. Ou seja: quatro anos após a punição exemplar e pretensamente definitiva em termos de correção de hábitos, e durante sua vigência. Paulo Vinícius Coelho explica bem a confusão que tem sido feita.

Punir o Corinthians com o impedimento de seus torcedores acompanharem a Libertadores é duro, é justo, mas não é milagroso. O argumento de que o Timão financia as organizadas e foram membros delas os responsáveis pela morte do menino Kevin Beltrán Espada, de 14 anos, é absolutamente válido, e por isso a ideia de banir o time paulista da Libertadores também procede - o lateral Fábio Santos, por exemplo, disse que não se importaria que o time fosse alijado do torneio se fosse para acabar com as mortes. Só que tirar o Corinthians da competição não acabará com as mortes. Punir a torcida também não, mas é um pouco mais justo porque atinge diretamente os que têm culpa pela situação - embora, claro, o clube seja indiretamente culpado também.

É claro que 99,9% dos corintianos, que nada têm a ver com o que ocorreu em Oruro, serão punidos junto. A dificuldade de punir exclusivamente os culpados é imensa no Brasil e na América do Sul, e aí entram sempre as restrições, que são bem mais fáceis de aplicar, mas que nada mais são do que tapar o sol com a peneira. Foi aí que o Relatório Taylor acertou em cheio - bem mais que simplesmente colocando cadeiras nos lugares das antigas arquibancadas e eliminando alambrados. Tirar o Corinthians ou sua torcida da Libertadores é justo, é necessário, mas é preciso ir além. Só punindo os culpados e eliminando-os do futebol é que esse tipo de coisa acabará - não sou da área do Direito, mas me parece claramente fora da alçada da Conmebol realizar esta caça.

O desanimador é que os últimos incidentes envolvendo torcedores do Grêmio em um jogo do Gauchão em Porto Alegre mostram que, aqui no Brasil, ainda estamos longe de enfrentar este problema de uma vez por todas. É preciso excluir os verdadeiros culpados sem punir quem nada tem a ver com eles. E limar dos estádios objetos capazes de fazer uma pessoa perder a massa encefálica, claro.

Surpresas
A Libertadores começou com várias surpresas, e na noite desta quinta não foi diferente. Em Assunção, o Cerro Porteño foi batido pelo modesto Real Garcilaso, do Peru, por 1 a 0. Pela mesma chave, o duelo colombiano entre Santa Fé e Tolima acabou em 1 a 1. Já o Newell's, depois de estrear vencendo o Olímpia com autoridade, levou 2 a 1 do Deportivo Lara fora de casa. Todos os times desta chave, a exemplo do grupo gremista, têm 3 pontos. Pelo grupo do Palmeiras, o Libertad estreou batendo o Tigre, fora de casa, por 2 a 0.

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