Jejum encerrado


Até ontem, nenhum grande clube brasileiro estava há mais tempo sem levantar uma taça do que o São Paulo. Um dado incrível para uma equipe que se acostumou a ter ao menos uma grande conquista por temporada nos últimos anos. Desde o Brasileiro de 2008 a equipe do Morumbi não ganhava absolutamente nada. O jejum acabou ontem, no acidentado meio-jogo contra o Tigre, na decisão da Copa Sul-Americana.

Foi uma decisão tensa, a mais tensa das últimas décadas no futebol da América do Sul. Nos 90 minutos da partida de Buenos Aires já havia sido assim. É muito fácil (embora com uma boa dose de verdade) dizer que o Tigre pensou apenas em bater e catimbar. Os argentinos falam o mesmo do São Paulo, que também desceu a lenha no jogo de ida. O que houve ontem foi uma daquelas partidas tipicamente sul-americanas de décadas atrás, um episódio que já estava quase esquecido nos gramados do nosso continente. A guerra de versões é interminável. Quem tem razão? Provavelmente ninguém. 

Certo é que antes do jogo o time argentino viu seu ônibus apedrejado e foi impedido de aquecer no gramado pelos seguranças são-paulinos. O que ocorreu no vestiário, no intervalo do jogo, ninguém sabe. É absolutamente irresponsável deixarmos de lado a acusação do Tigre de que seus jogadores foram ameaçados com revólveres pela polícia. E é bem plausível que os policiais tenham tentado acabar com a briga dos argentinos com os seguranças do Tricolor de forma truculenta. Era um jogo histórico para o pequeno de clube de Victoria, e somente um motivo realmente grande o faria desistir de retornar. Ao mesmo tempo, não dá para comprar esta versão totalmente e descartar a possibilidade de o time não ter voltado por medo de levar uma goleada - ou, simplesmente, tentar melar a festa são-paulina e levar a decisão para o tapetão.

Dentro de campo, o clima de violência só foi aumentado em virtude da péssima arbitragem do chileno Enrique Osses, que não deveria permitir que lances mais ríspidos ocorressem. Sou normalmente a favor de arbitragens que deixem o jogo seguir e não parem a partida com qualquer contato físico, mas ontem era uma situação excepcional. Uma atuação mais rigorosa era necessária para que Osses mantivesse minimamente o controle das ações. O fatídico lance em que Lucas é agredido foi o maior dos absurdos. Nem a falta foi marcada.

Em campo, o pouco futebol que vimos foi praticado apenas pelo São Paulo, que comprovou sua superioridade técnica de forma inegável. Lucas, em sua despedida, foi o personagem não apenas pela cotovelada que levou e pelo sangue que mostrou ao seu agressor, mas por ter feito o primeiro gol e construído a jogada do segundo, de Osvaldo. O São Paulo é, sim, o merecido campeão da Copa Sul-Americana. Mesmo não tendo enfrentado nenhum adversário de seu nível, cumpriu o papel e confirmou o favoritismo, algo que outras equipes brasileiras não conseguiram. Nenhum time brasileiro ganhou Libertadores, Sul-Americana, Supercopa, Recopa e Conmebol. Um gigante que despertou novamente ontem à noite.

Em tempo:
- Que Recopa teremos em 2013, hein?

- Se comprovada a fraude do Tigre alegada pelo São Paulo, o time argentino deveria ser suspenso de competições continentais por um bom tempo, assim como o Chile no Caso Rojas, em 1989. Veremos a decisão da Conmebol. 

Copa Sul-Americana 2012 - Final - Jogo de volta
12/dezembro/2012
SÃO PAULO 2 x TIGRE 0
Local: Morumbi, São Paulo (BRA)
Árbitro: Enrique Osses (CHI)
Público: 67.042
Renda: R$ 3.942.800,00
Gols: Lucas 22 e Osvaldo 27 do 1º
Cartão amarelo: Denílson, Rogério Ceni, Galmarini e Godoy
Expulsão: Paulo Miranda e Díaz
SÃO PAULO: Rogério Ceni (5,5), Paulo Miranda (5,5), Rafael Tolói (5,5), Rhodolfo (6) e Cortez (6); Wellington (6), Denílson (6) e Jadson (6,5); Lucas (8,5), Willian José (6) e Osvaldo (7,5). Técnico: Ney Franco (7,5)
TIGRE: Albil (5), Paparatto (4,5), Echeverría (4,5), Godoy (5) e Orban (4,5); Galmarini (4), Díaz (3,5), Ferreira (4,5) e Leone (4); Botta (5) e Maggiolo (4,5). Técnico: Néstor Gorosito

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