Só dignidade?

Ygor deixou o gramado dos Aflitos pedindo dignidade ao Internacional. Um modo de dizer que a Libertadores não é mais uma meta possível de ser alcançada. Talvez isso seja uma parte, uma pequena parte, de todos os problemas colorados na temporada. Junto com o fato de ser um time envelhecido, com vários jogadores que já deveriam ter encerrado seu ciclo no Beira-Rio há muito tempo. E com os problemas de preparação física, potencializados com um calendário apertado no começo de ano, que interrompeu a pré-temporada antes do razoável. E com decisões equivocadas da diretoria sobre o plantel e a comissão técnica. Enfim, vários fatores que já elencamos aqui diversas vezes e não cabe aqui ficar repetindo, para não cansar o leitor.

As desculpas para uma derrota ontem nos Aflitos estavam prontas, na ponta da língua de todos: os desfalques, o gramado ruim, o bom time do Náutico e, como sempre, o azar, o acaso e a injustiça. Em quase todos os maus resultados do Inter no Brasileirão veio como justificativa o "jogamos bem, mas perdemos gols e assim fomos injustiçados com a derrota". Foi assim contra a Portuguesa, o Grêmio, o Coritiba, o São Paulo, o Botafogo, o Cruzeiro, o Santos. O Inter parece ser o melhor e mais azarado time do Brasil. Ontem, pasmem, alguns tentaram ensaiar este discurso. A bola parada foi a vilã quando o Inter supostamente dominava o Náutico.

Não saber porque perdeu: este sim é o maior defeito do Inter no Brasileirão, e que impede o time de tentar crescer. Alguns colorados lembram: "estamos em crise, mas a nossa crise é ficar em 6º lugar, ainda na parte de cima da tabela". Verdade incontestável, apesar da mania de grandeza. Mas isso é reflexo de alguns fatores que não são méritos da atual equipe: dizem respeito ao trabalho bem feito em anos anteriores, que trouxe solidez ao clube, à irregularidade ainda maior de equipes como Botafogo, Vasco e Cruzeiro. O que interessa é compararmos a pontuação com times que estão disputando a ponta de cima. E o que vemos é um Inter praticamente alijado da Libertadores com quatro rodadas de antecipação. E a tendência, com o passar dos últimos dois anos, é só piorar, caso não haja mudanças na forma de pensar o futebol do clube.

Ontem, o jogo começou equilibrado. Após a perda de Elicarlos, jogador importante do meio-campo, o Náutico se fechou, esperando o Inter errar para tentar abrir o placar. Jogou sabendo de suas limitações e teve sucesso. Souza, um dos melhores volantes do campeonato, marcou dois golaços de falta. Após o segundo, o time gaúcho se perdeu completamente. Fernandão tentou mudar o jogo no intervalo colocando Otavinho e Fabrício nos lugares de Josimar e Lucas Lima. Mas já era tarde. Sem medo do bicho papão, o Náutico se jogou para cima, pressionou, criou várias oportunidades até marcar seu inevitável terceiro gol. Aplicou "olé", tal qual o lanterna e já rebaixado Atlético-GO havia feito. Mas Giovanni Luigi, depois da partida, não considerou nada disso um fiasco.

Antes da partida, ouvindo rádio, fiquei estupefato com a informação de que, da velha guarda, somente Bolívar deve deixar o clube em 2013. Um dos únicos que não participou dos fiascos recentes, diga-se. Não só Bolívar, mas vários jogadores já encerraram seu ciclo em Porto Alegre. Kleber já deveria ter ido, Índio é outro, Nei também. D'Alessandro deveria ter saído em janeiro, com a proposta chinesa, que nunca mais virá naqueles valores. Todos devem permanecer no ano que vem. Um ano mais desgastados. Um ano mais sem renovação no elenco, a qual já deveria ter ocorrido após o fiasco de Abu Dhabi, em dezembro de 2010.

CAMPEONATO BRASILEIRO 2012 - 34ª RODADA
NÁUTICO (3): Felipe; Patric (Alison), Jean Rolt, Alemão e Douglas Santos; Elicarlos (Dadá), Souza, Josa e Rhayner; Rogério (Araújo) e Kieza. Técnico: Alexandre Gallo
INTERNACIONAL (0): Muriel; Nei, Rodrigo Moledo, Índio e Kleber; Ygor, Guiñazu, Josimar (Otavinho) e Lucas Lima (Fabrício); Cassiano (Rafael Moura) e Leandro Damião. Técnico: Fernandão
Local: Estádio dos Aflitos, Recife (PE); Data: domingo, 04/11/2012, 19:30; Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO); Público: 15.439; Renda: R$ 247.375,00; Gols: Souza 22 e 32 do 1º; Kieza 16 do 2º; Cartão amarelo: Patric, Alemão, Jean Rolt, Dadá, Leandro Damião, Índio, Guiñazu e Rodrigo Moledo

Comentários

Chico disse…
Inacreditável: A lavada dos Aflitos.