Mudar para seguir existindo



A ideia de realizar dois superclássicos por ano é ótima. Dá a chance para que as torcidas de Brasil e Argentina vejam dois confrontos entre os países em seus próprios territórios, com os jogadores que ambas nações acompanham de perto, em seus próprios gramados, a cada final de semana. Além disso, possibilita aos técnicos a chance de avaliar como se saem jogadores que dificilmente recebem chance na seleção principal, e de cara em um clássico deste porte. Mas é preciso que tanto canarinhos quanto albicelestes passem a realizar confrontos melhores, mais atraentes e organizados, para que a ideia vingue. Se não, talvez nem em 2013 teremos mais.

Dizer que as duas seleções são incapazes de realizar uma partida decente é de um simplismo triste, típico de quem vive de clichês e não pensa a respeito da situação. Seria praticamente o mesmo que afirmar que a Copa Libertadores não pode oferecer nenhum jogo tecnicamente bom e interessante a quem assiste. Em tese, os melhores jogadores que atuam no futebol brasileiro e argentino de clubes estão ali. Em tese, claro, pois sempre vamos discordar de alguma convocação.

Mas dá para ser bem melhor. A começar pelos estádios. Ontem, a Bombonera sediou o jogo. Por que, então, marcar inicialmente para Resistencia o jogo? Politicagens à parte, o esporte deve prevalecer para que a ideia do superclássico pegue. Isso passa por marcar a partida em uma Data FIFA, para dar um ar mais oficial que comercial a ela. Outra ideia que certamente valorizaria o torneio é incluir o Uruguai na disputa. Seria uma espécie de Copa dos Campeões Mundiais da América do Sul. Três jogos, um em cada país. Ocuparia duas datas no calendário de cada seleção, sem necessidade de jogar a volta, num triangular. No ano seguinte, inverte-se o mando de campo. Poderíamos, quem sabe, até incluir os jogadores "europeus" nessa. Mas aí já vira outro torneio - bem melhor que esse, na minha opinião.

Ontem, o jogo de fato ocorreu nos 15 minutos finais, após a entrada de Scocco. Mesmo precisando da vitória, a Argentina foi dominada no primeiro tempo - sem que o Brasil tivesse uma grande atuação, diga-se. Neymar e Thiago Neves levavam perigo à meta de Orión, mas faltava Fred entrar no jogo. O esquema com três volantes não deixou o time mais defensivo: apenas mais robusto, controlando o meio de campo. E os volantes brasileiros, em especial Paulinho e Arouca, auxiliam o ataque com qualidade. É claro que Mano Menezes não precisava ter pensado tanto no resultado, em levar o simbólico título para casa, e poderia ter feito o time jogar mais, em uma formação mais próxima da habitual. Mas, na situação dele, é compreensível pensar no resultado. Quem está instável no cargo precisa de resultados.

A Argentina só ameaçou na bola aérea no primeiro tempo. Se a etapa inicial foi morna, a segunda era horrenda. O sono venceu muitos milhões, por certo, ontem à noite. Até que entrou Scocco no lugar do inoperante Barcos. E o jogo mudou. O artilheiro do Torneo Inicial, do Newell's Old Boys, deu à Argentina uma movimentação que ela antes não tinha. Martínez e Montillo tinham com quem tabelar e, enfim, entraram no jogo. Se há alguém que ganhou espaço em sua seleção com este superclássico certamente foi Scocco, autor do primeiro gol, em cobrança de pênalti mal marcado, pois não houve falta de Jean sobre Martínez. Fred, em fase iluminada, empatou sem querer a seguir. Era o mais justo. Até que, num belíssimo contra-ataque, Scocco finalizou com perfeição de novo, levando aos pênaltis. Foi quando Diego Cavalieri se tornou o outro jogador, ao lado do artilheiro do Newell's, que soube aproveitar o superclássico para ganhar espaço na seleção. Até porque é mesmo o melhor goleiro brasileiro da atualidade.

Valeu pelos 15 minutos finais. Para 2013, pensem no Uruguai.

Copa Roca 2012 - Jogo de volta
21/novembro/2012
ARGENTINA 2 x BRASIL 1
Decisão por pênaltis: Argentina 3 x Brasil 4
Local: Bombonera, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Enrique Osses (CHI)
Público e renda: não divulgados
Gols: Scocco (pênalti) 36, Fred 38 e Scocco 44 do 2º
Cartão amarelo: Guiñazu e Réver
ARGENTINA: Orión (6), López (5), Domínguez (6) e Desábato (5,5); Peruzzi (6), Cerro (5) (Ahumada, 42 do 2º - sem nota), Guiñazu (6), Montillo (5,5) e Vangioni (5); Martínez (6) e Barcos (4,5) (Scocco, 23 do 2º - 7). Técnico: Alejandro Sabella (5,5)
Cobranças: Martínez (defendido), Montillo (fora), Domínguez (gol), Scocco (gol) e Orión (gol)
BRASIL: Diego Cavalieri (6,5), Lucas (5) (Bernard, 27 do 2º - 5), Durval (4,5), Réver (5) e Fábio Santos (4) (Carlinhos, 17 do 2º - 6); Ralf (5,5), Paulinho (6), Arouca (6) (Jean, 23 do 2º - 5,5) e Thiago Neves (5,5); Neymar (6) e Fred (5,5). Técnico: Mano Menezes (5,5)
Cobranças: Thiago Neves (gol), Jean (gol), Carlinhos (defendido), Fred (gol) e Neymar (gol)

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