G-4 ou Z-4?

Cruzeiro e Internacional se dizem candidatos a disputar a Libertadores do ano que vem. Os gaúchos até podem se considerar, os mineiros falam só pelo discurso. E hoje à noite ambos fizeram um jogo digno. Mas de Série B, não de Libertadores.

Tudo em Varginha tinha aspecto de segunda linha. A começar pelo gramado do simpático, mas inadequado Estádio Melão. Muito da pobreza técnica da partida pode se explicar pelas ausências dos dois organizadores de Inter e Cruzeiro. D'Alessandro não jogou, sentiu dores musculares; Montillo foi como se não tivesse jogado. Em uma atuação irreconhecível, errou praticamente tudo o que tentou. Assim, a articulação ficou a cargo exclusivo do bem marcado Fred, enquanto a cruzeirense ficou órfã. Era difícil sair algo de qualidade.

Até a arbitragem deixou muito a desejar. Paulo César Oliveira se embananou em vários lances importantes, mas um deles simboliza e sintetiza sua atuação: o pênalti marcado a favor do Cruzeiro. Ainda não enxerguei uma câmera que mostrasse que Borges foi mesmo puxado por Nei. Mas todas mostraram que, após mandar a cobrança voltar corretamente por conta de uma dupla invasão, o árbitro ignorou o fato de que a segunda cobrança, desperdiçada bisonhamente pelo centroavante, também deveria ser repetida, por nova invasão. Tudo errado.

Com dois centroavantes e sem articulação, o Cruzeiro limitava-se a ameaçar o Inter na base do chuveirinho. O problema é que Borges é baixo e Anselmo Ramon, ao disputar posição com seu colega de ataque, nunca se colocava no lugar certo. Como resultado, um festival de tentativas infrutíferas que consagraram a defesa colorada. A ruindade de Éverton e a histórica deficiência de Ceará em cruzamentos só colaboraram para que a estratégia de Roth não funcionasse.

Já o Internacional tinha, ao menos, Leandro Damião inspirado. Passava como um trator pelos laterais e zagueiros que estivessem à sua frente, sempre vertical e direto, buscando o gol com a objetividade de 2011 e longe das firulas pós-Londres 2012. Se Forlán tivesse feito uma partida minimamente razoável, as chances coloradas aumentariam bastante. Mas o uruguaio esteve mal, e o goleiro Fábio, ao contrário do que tem sido neste Brasileirão, foi muito seguro.

O Inter tem no discurso muita vontade de enfileirar uma sequência de vitórias. Fala o tempo todo nisso. Mas, na prática, a história é outra. Fernandão entrou com três volantes e até melhorou o time no segundo tempo, com a entrada de Lucas Lima no lugar de Élton. Mas é muito pouca agressividade para quem quer e precisa vencer fora de casa. Claro, hoje faltou qualidade, foram mais uma vez muitos desfalques. Mas em nenhum momento sua equipe esboçou uma pressão sobre o Cruzeiro. Cassiano, que era uma opção ofensiva, só entrou aos 45 do segundo tempo - e no lugar de outro atacante, Forlán.

Celso Roth também pouco fez para romper com a mediocridade. Só deu nova vida à criação da equipe aos 28, com Martinuccio. O argentino criou algumas jogadas, nada de mais, mas já o suficiente para fazer o Cruzeiro ensaiar uma pressão nos minutos finais. Foi o único período de relativa superioridade de uma equipe sobre a outra. Ainda assim, insuficiente para sair do zero. O Inter nada fez se não segurar de forma pusilânime uma igualdade que não lhe favorecia.

O 0 a 0 foi justíssimo, e é péssimo para o Internacional. Mas pior que o empate, só a atuação, que escancarou a falta de ambição do time e de seu técnico em buscar algo além da 7ª posição no Campeonato Brasileiro. Em nenhuma entrevista, o empate com um Cruzeiro em queda e sem nada por brigar neste certame poderia ser considerado algo bom, mesmo fora de casa. Incrivelmente, a tônica no discurso pós-jogo mais uma vez foi o famigerado "jogamos bem, criamos chances, só faltou o gol". Tem faltado o gol há tempos, não?

FICHA TÉCNICA
CRUZEIRO (0): Fábio; Ceará (Diego Renan), Léo, Thiago Carvalho e Éverton; Leandro Guerreiro, Arias (Souza), Marcelo Oliveira e Montillo; Anselmo Ramon (Martinuccio) e Borges. Técnico: Celso Roth
INTERNACIONAL (0): Muriel; Nei, Rodrigo Moledo, Índio (Jackson) e Fabrício; Ygor, Guiñazu, Élton (Lucas Lima) e Fred; Forlán (Cassiano) e Leandro Damião. Técnico: Fernandão
Local: Estádio Melão, Varginha (MG); Data: sábado, 29/09/2012, 18h30; Árbitro: Paulo César Oliveira (Fifa-SP); Público: 7.395; Renda: R$ 182.515,00; Cartão amarelo: Nei, Fred e Forlán

Comentários

Vine disse…
E onde está o Dátolo quando o D'alessandro se machuca? Tem futebol pra contribuir alguma coisa, mas tem sido preterido de forma estranha.
Vicente Fonseca disse…
Diz o Davi que o D'Alessandro sentiu a lesão poucas horas antes e não havia tempo hábil para levar o Dátolo de Porto Alegre a Varginha. Mas há o rumor de que se sabia dessas dores na sexta-feira. Se foi isso, é injustificável não levar o Dátolo junto na viagem.