O demitido, a aposta e alguns dias de paz

O colorado é um torcedor eternamente insatisfeito com seu treinador. Raros são os técnicos que deixaram o Beira-Rio como ídolos. Nos últimos anos, muitos foram derrubados pela pressão insuportável dos torcedores. A possibilidade de montar elencos fortes e os títulos conquistados de 2006 para cá só reforçaram esta implicância com os homens da casamata. Algumas justificáveis, outras nem tanto.

Neste caso, a torcida tem razão. Dorival Júnior foi prejudicado pelos desfalques, isso é inegável. Mas o Inter não evoluiu nada do ano passado para cá em suas mãos. A impressão é que o comando do time esteve ligado no piloto automático desde a sua chegada: manteve um esquema 4-5-1 que não faz mais sentido diante da conjuntura do elenco atual por medo de arriscar. Não se veem variações táticas, de jogadas, quaisquer inovações. Com quase um ano de trabalho, o time deveria estar jogando mais.

Na coletiva de apresentação de Fernandão como novo técnico, Luciano Davi fez questão de frisar que não se trata de uma aposta, mas sim uma convicção. Fernandão realmente conhece este elenco como poucos, mas é impossível não tratá-lo como uma aposta, para não dizer pensamento mágico. Nunca comandou um treinamento em sua vida. Pouco se sabe sobre suas ideias táticas, se é que elas existem. Para evoluir, o Inter precisa de bem mais que um motivador, que é a impressão que seu estilo de líder de vestiário passa. Até porque não era por falta de empenho dos jogadores ou uma suposta falta de comando de Dorival Júnior que o time vinha mal. Era por falta de avanços na concepção de time.

A primeira vantagem de Fernandão assumir o cargo é a de não deixar a casamata vazia por um longo período, como muitas vezes acontece. Outra inegável é o apoio que a torcida dará a ele. Trata-se de uma figura bem mais querida pelos colorados que o insosso Dorival Júnior. Talvez a maior das vantagens seja a colocação de um executivo de futebol mais experiente para atuar junto à direção. Felipe Ximenes, do Coritiba, um dos cogitados, é muito mais experiente e competente que Fernandão nesta função. O Inter ganhará qualidade ali se contratá-lo.

Fernandão é uma resposta dada a uma torcida insatisfeita. Nada melhor que trazer um ídolo para substituir um treinador contestado em termos de popularidade. Mas é uma aposta, sim, o que não quer dizer que não possa dar certo. Ele está tão preparado para ser técnico quanto estava para ser diretor executivo. Sua importância como figura no Inter é que o coloca na casamata. Só quem acha que não é arriscado são os conspiracionistas, que juram de pés juntos que Fernandão era o verdadeiro técnico do Inter em 2006. Estes não têm o direito de criticar a direção pela contratação. Não faço parte desta turma.

Em tempo:
- Clemer não será o auxiliar técnico de Fernandão.

- O novo técnico já comanda seu primeiro treinamento agora à tarde no Parque Gigante.

- Vamos ver se Fernandão abole o 4-5-1. Taison, razão de ser deste esquema, já foi embora há dois anos.

Comentários

Igor Natusch disse…
Se a ideia era dar um choque de vestiário, Fernandão não precisaria virar técnico para fazê-lo, não é? Dava para fazer isso como executivo, perfeitamente.

É uma decisão que cheira forte a puro raciocínio mágico.

Lembro de tempos idos, quando o Inter queria se livrar de algumas lideranças que, segundo avaliação da direção, tinham efeito excessivo e quase negativo no ambiente do clube. Dos quatro, apenas Iarley está afastado do Inter de fato hoje em dia. Bolívar segue na folha salarial, Clemer treina os juvenis e Fernandão vira treinador do grupo principal. Para mim, dá o que pensar.
Samir disse…
Além de concordar com tudo que dizem tu, Vicente, e o Igor, acho q temos que considerar mais um fato: colocar ex-jogadores no cargo de diretor de futebol, hj, é uma simples ponte para que este vire treinador! Isso nunca pode ser chamado de profissionalizar a gestão do futebol, pelo contrário, mais amador, impossível!

Em breve veremos o Zinho treinando o Flamengo... e to falando sério.

De resto, como gremista, adorei!
Luiz Paulo Teló disse…
Acho que o Fernandão tem, sim, suas convicções táticas. Sempre foi um jogador de liderança e de boa leitura de jogo. Acho natural que vire treinador.

Mas do Inter? Agora? Não sei... Falcão durou três meses, e nem foi tão mal assim.

Eu apostaria muito mais no Clemer, que já vem exercendo a função e, ao que tudo indica, com exito. Aliás, pela atual circunstância de mercado, e até de futebol no Internacional, eu seguiria com Dorival Junior.
Vicente Fonseca disse…
Luiz, acho que o Dorival não levaria o Inter a lugar algum. Mas concordo contigo: acho que o Clemer seria melhor opção que o Fernandão. Aliás, ele assume com a mesma idade que o Adílson pegou o Grêmio em 2003. Tô pagando pra ver.
Prestes disse…
Professor, na verdade o Dorival já tinha corrigindo a insanidade do 4-5-1, colocando o Dagoberto de atacante. Nos últimos jogos, o 4-5-1 voltou da pior maneira possível: sem centro-avante!!!

Ora, o 4-5-1 é pra tu ter dois meias/pontas e um jogador grande na frente, disputando com a zaga adversária. Sem centro-avante é uma demência sem tamanho.

Isto prova o seguinte: é quando há muitos desfalques que um treinador precisa tomar decisões difíceis. Dorival se saiu da pior maneira possível.
Vicente Fonseca disse…
Prestes: botou Dagoberto SOZINHO no ataque. Continua sendo 4-5-1. Só que com um baixinho de "centroavante". Muito errado mesmo.
Vine disse…
Só eu acho que ele ajudaria muito mais o time jogando do que treinando ou coordenando?