Quem segura?

Uma das pouquíssimas críticas que se fazia a Joachim Löw nesta estupenda campanha da Alemanha na Eurocopa era a de que o time mudava pouco na primeira fase. A base dos jogos contra Portugal, Holanda e Dinamarca era a mesma, e nomes como Reus, Götze e Schürrle não haviam sido testados. Como se sairão num mata-mata sem terem sido antes testados, perguntavam muitos. A resposta veio hoje.

Löw sabe tão bem o potencial de seu elenco e o tem tão na mão que ousou de forma até exagerada, a uma primeira vista. Afinal, mudar três posições do setor ofensivo justo na hora do mata-mata, contra uma equipe que se defende tão bem quanto a Grécia, parece no mínimo temerário. Mas o fato é que Podolski e Müller vinham realmente abaixo dos companheiros na primeira fase, e era hora de dar uma chance a Reus e Schürrle. Sacar Gomez, sim, era arriscado - um dos artilheiros da Euro, ótima primeira fase. Mas quem tem Klose no banco tem a segurança de que gols sairão. Tudo justificável, portanto.

O resultado não foi a melhor atuação da Alemanha na Eurocopa. Melhor ainda: foi a manutenção do nível de exibição da equipe nos três primeiros jogos, mesmo com tantas mudanças em um mesmo setor. Um sinal claro de que os alemães não dependem de individualidades para se sobreporem aos adversários e têm consistência coletiva e uma diversidade de opções que nenhum outro time no mundo tem hoje. Schürrle, Götze, Özil, Reus, Müller, Hummels, titulares ou reservas, todos têm 23 anos ou menos. É time e grupo para mais duas Copas do Mundo, pelo menos.

A Grécia fez o que pôde. Atuou sem seu maior jogador, Karagounis, e ainda assim conseguiu sustentar um equilíbrio no placar diante da melhor seleção do mundo hoje por bastante tempo. Samaras era quem mais se aproximava de Salpingidis, mas era muito pouco. Só na etapa inicial, foram 33 ataques alemães contra 3 gregos. O gol de Lahm surgiu no 11º chute a gol e sétima chance clara a favor dos germânicos. Um chute de fora da área, arma que a Alemanha não tem vergonha de usar contra defesas fechadas. Mais um recurso que possui este time, além das trocas rápidas de passes, da marcação pressão no ataque, do toque paciente de bola ou da bola área. Uma diversidade de alternativas nos pés de ótimos jogadores.

O segundo tempo começou com a ideia de que o segundo gol viria logo, mas a Grécia contra-atacava. No primeiro, Gekas não acertou toque de calcanhar para Samaras. No segundo, Salpingidis escapou às costas de Lahm e cruzou para Samaras empatar de carrinho. A Grécia é traiçoeira. Limitada, mas merece respeito. Criou uma tradição copeira em 2004 e quase complicou o jogo. Já era segundo tempo, e apesar de toda a superioridade alemã estávamos diante de um empate.

Mas o gol acordou a Alemanha. O sem-pulo espetacular de Khedira foi o gol mais lindo e importante da noite de Gdansk. Funcionou um banho de água fria na Grécia, que não esperava ficar em desvantagem novamente tão cedo. Abriu-se a porteira: Klose fez o terceiro, Reus o quarto. No fim, um pênalti bastante discutível deu o gol de consolação aos gregos. Um time sem ataque, mas que fez dois gols na Alemanha.

São 15 vitórias seguidas em jogos oficiais, a maior sequência da história do futebol mundial, em todos os tempos. Seja quem for o outro semifinalista, a Alemanha entra como favorita, embora aí já seja briga de cachorro grande, e não uma de gato e rato, como hoje. Inglaterra e Itália são parecidas: tradicionais, equilibradas e firmes defensivamente. O jogo que define quem joga com os alemães é domingo, e tem tudo para ser extremamente equilibrado. Diante de tanta equivalência de forças, talvez a tradição pese. Aí, convém aos alemães torcer pelos ingleses, fregueses históricos, que pelos italianos, carrascos notórios.

Em tempo:
- Reus não sai mais do time. Bela partida, bem superior aos desempenhos apagados de Podolski na primeira fase.

- Mario Gomez, mais de 40 gols no ano, uma das estrelas da temporada europeia, ficou no banco. Alguém viu beicinho? Tem muito jogador brasileiro que nem sequer chegou perto de vestir a camisa da seleção que teria reação bem menos profissional.

- Sifakis teve uma das piores atuações de goleiro na Euro: braço curto no gol de Lahm, saída totalmente errada no gol de Klose. E não segurou um chute sequer. Peito de madeira, braço de Horácio e mão de alface.

- Özil apareceu em todas as partes do campo. Partidaça, mais uma.

Eurocopa 2012 - Quartas de Final
22/junho/2012
ALEMANHA 4 x GRÉCIA 2
Local: Arena Gdansk, Gdansk (POL)
Árbitro: Damir Skomina (EVN)
Público: 38.751
Gols: Lahm 39 do 1º; Samaras 10, Khedira 16, Klose 22, Reus 28 e Salpingidis (pênalti) 44 do 2º
Cartão amarelo: Papastathopoulos e Samaras
ALEMANHA: Neuer (5,5), Boateng (6), Hummels (6,5), Badstuber (5,5) e Lahm (6,5); Schweinsteiger (6,5), Khedira (7,5), Özil (8), Reus (7) (Götze, 34 do 2º - sem nota) e Schürrle (6) (Müller, 22 do 2º - 5,5); Klose (6,5) (Gomez, 34 do 2º - sem nota). Técnico: Joachim Löw
GRÉCIA: Sifakis (3), Torossidis (5), Papastathopoulos (4,5), Papadopoulos (5) e Tzavellas (4) (Fotakis, intervalo - 5); Makos (5,5) (Liberopoulos, 26 do 2º - 5), Maniatis (5), Ninis (4) (Gekas, intervalo - 5), Katsouranis (4,5) e Samaras (6); Salpingidis (6). Técnico: Fernando Santos


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