A estrela do chiquilín

O Corinthians passou o jogo todo se defendendo. Chegou uma vez com Paulinho, em um belo chute defendido por Orión, no começo do jogo - de resto, se defendeu. Mal passou do meio-campo. E mesmo assim, obteve um empate em uma das raríssimas estocadas que teve no ataque, com gol de um garoto que, há quatro dias, era um ilustre desconhecido. Romarinho saiu do time reserva corintiano para decidir um clássico com o Palmeiras, no último domingo. Hoje, em seu primeiro toque na bola em uma Libertadores, faz um gol. Na final. Na Bombonera.

Mas o Corinthians ainda não é campeão, longe disso. Mostrou estrela de quem vai ganhar a América, mas poderia ter jogado mais futebol, embora a estratégia tenha funcionado. O Boca Juniors dominou a maior parte do jogo. Mostrou que tem tanta qualidade quanto o Timão, e que a Bombonera é apenas mais um ingrediente que o torna um time forte. Aliando isso a nomes experientes como Schiavi, Clemente Rodríguez, Riquelme e Santiago Silva, é fácil perceber que temos um time que não tremerá no Pacaembu e pode, muito bem, estragar o sonho corintiano semana que vem.

O primeiro tempo foi parelho. O Boca tentou impor seu ritmo de jogo, mas o Corinthians se defendia muito bem. Compacto, o Timão segurava os argentinos com uma forte marcação e muita eficiência no jogo aéreo. Erviti, Riquelme e Ledesma tentavam tabelar, mas o bloqueio era feroz. Faltava, porém, saída para contra-golpear. Isso manteve os xeneizes no campo de ataque quase o tempo todo, mas as chances foram raras.

No segundo tempo, a história foi outra. Decidido a vencer o jogo, o Boca adiantou sua marcação e isolou os atacantes do Corinthians, que ficou partido em dois: Alex, Danilo, Emerson e Liedson na frente, o resto do time atrás. A defesa corintiana é tão boa que o time sofreu apenas um gol no segundo tempo, onde atuou, na prática, num 4-2-4 desguarnecido. A pressão vinha por todos os lados, mas principalmente nos movimentos de Riquelme.

O Boca é um dos times que mais sabe ler o jogo, e isso é um padrão que se mantém por anos. Em 2007, por exemplo, logo após a expulsão de Sandro Goiano, o time partiu com tudo para matar o Grêmio, pois sabia que aquele era o momento. Hoje foi parecido: vendo o Corinthians acuado, a pressão aumentava, a ponto de se tornar insustentável aos 27, quando Roncaglia abriu o placar, enlouquecendo a Bombonera.

Tite ficou entre a cruz e a espada: ficava atrás buscando segurar a desvantagem mínima ou tentava o empate? Seja qual fosse a alternativa, o risco seria grande: ficando atrás, a pressão do Boca aumentaria, e mais gols poderiam sair; atirando seu time para cima, poderia torná-lo mais vulnerável. A avaliação durou 10 tensos minutos, quando ele resolveu apostar na imprevisibilidade, chamando Romarinho no lugar de um engessado Danilo. Três minutos depois, Paulinho, sempre o elemento surpresa, arrancou, deu a Emerson, que achou Romarinho num passe genial. A conclusão teve a frieza típica do xará mais famoso do guri. Tite acertou em cheio.

O empate é excepcional resultado, especialmente pelas circunstâncias, mas a Libertadores está ainda muito longe de uma definição. O pior, que era jogar na Bombonera, já passou. Mas se o Corinthians acreditar nisso estará dando o primeiro passo para a decepção em São Paulo. O Boca é um adversário duríssimo de ser batido, e só vencendo o Timão conquista o título. O Corinthians precisará jogar mais que hoje para ganhar a América. Do contrário, o time azul e ouro da beira do Prata eliminará mais um rival fora de casa, como Unión Española, Fluminense e Universidad de Chile já provaram. Mesmo sem a Bombonera a seu lado.

Em tempo:
- Destaques no Corinthians para a dupla de zaga, Paulinho (criou as duas chances da equipe e jogou demais) e Emerson, perigoso, catimbeiro e genial no gol de Romarinho.

Taça Libertadores da América 2012 - Final - 1º jogo
27/junho/2012
BOCA JUNIORS 1 x CORINTHIANS 1
Local: Bombonera, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Enrique Osses (CHI)
Público: não divulgado
Gols: Roncaglia 27 e Romarinho 40 do 2º
Cartão amarelo: Roncaglia, Riquelme e Chicão
BOCA JUNIORS: Orión (6), Roncaglia (7), Schiavi (6,5), Caruzzo (6) e Clemente Rodríguez (6,5); Somoza (6), Ledesma (5) (Rivero, 37 do 2º - sem nota), Erviti (6) e Riquelme (6,5); Mouche (5,5) (Cvitanich, 42 do 2º - sem nota) e Silva (6,5) (Viatri, 39 do 2º - 6). Técnico: Julio Cesar Falcioni
CORINTHIANS: Cássio (6), Alessandro (5,5), Chicão (7), Leandro Castan (7) e Fábio Santos (5,5); Ralf (6), Paulinho (7), Danilo (5) (Romarinho, 40 do 2º - 8) e Alex (5,5) (Wallace, 46 do 2º - sem nota); Jorge Henrique (5) (Liedson, 39 do 1º - 5) e Emerson (7). Técnico: Tite


Comentários

Lique disse…
a jogada do emerson no gol foi típica dos maiores craques do futebol mundial: aquele que sabe o que vai fazer antes mesmo da bola chegar nele. gol emocionante.
Samir disse…
Concordo contigo qdo diz que o maior risco do Corinthians é achar que, passado o Bombonera, a taça está encaminhada! O time do Boca sabe, como poucos, jogar fora de casa. Às vezes, tenho até a impressão de que jogam mais bola fora do que em casa... aliado a isso, a necessidade do time de Tite se expor mais...

Acho q o Corinthians merece o título, mas acho tb que a parada está longe de estar encaminhada...
Vine disse…
Além da ótima leitura do jogo, o controle do nervosismo também é chave pra esse time. Nunca vi um time tão frio, que mesmo levando aquele gol, se manteve firme, sem se atirar para buscar mais um gol.
P.S. Aquela cabeçada na trave nos acréscimos deveria ter entrado...