O peso de decidir em casa existe?

Os times considerados principais favoritos jogarão a segunda partida das oitavas de final da Copa do Brasil em casa. Muitos já abrem a boca para falar em favorecimento, tamanha a coincidência. Mas será que isto é mesmo uma vantagem? O Carta na Manga resolveu ir atrás para descobrir. Afinal de contas: vale à pena ou não decidir um mata-mata em casa na Copa do Brasil?

Nossa base de dados são todos os confrontos em mata-mata que ocorreram pelo torneio das oitavas de final em diante, desde 1989. Desconsideramos confrontos em fases anteriores às oitavas, justamente porque os clubes grandes sempre foram colocados pela CBF como visitantes na primeira partida, por serem mais fortes. Desde 1996, eles podem eliminar o jogo de volta se vencerem por 2 gols de diferença.

Nossa ideia aqui não é mostrar se os visitantes se classificaram mais que os mandantes, pura e simplesmente; é ver se se existe mesmo a vantagem de jogar a segunda em casa, com times em paridade maior de forças - algo que, na Copa do Brasil, só se consegue a partir das oitavas, e mesmo assim há exceções.

Cresce a qualidade, diminui o fator local do jogo de volta
Quanto mais avançada for a fase, menor é o índice de sucesso de quem joga a segunda em casa. Esta é a principal conclusão que os números apurados nos permitem chegar. Nas oitavas de final, 105 dos 184 confrontos tiveram como classificado o time que decidiu em seus domínios o confronto. Isso representa 57,1% de aproveitamento. Trata-se da maior disparidade do levantamento em favor dos mandantes dos jogos de volta. Nas quartas de final, o equilíbrio é completo: 50% a 50%, em 92 duelos de mata-mata. Nas semifinais, a paridade é semelhante: quem decidiu em casa ganhou 24 vezes e perdeu 22, um aproveitamento de 52,2%.

A festa do título é dos visitantes
A maior qualidade do enfrentamento diminui o fator local. Se vimos isso no item anterior, onde nas oitavas há o maior índice de classificados entre os que decidem em casa, pegando o histórico das finais da Copa do Brasil o dado fica escancarado. Das 23 finais disputadas até hoje, em apenas 8 delas quem jogou a segunda partida em casa ficou com o título. Em 15 oportunidades foi o time visitante quem levantou a taça. O índice de aproveitamento dos mandantes do segundo jogo é de apenas 34,8%. De 2009 para cá, apenas visitantes fizeram a festa. O último estádio feliz na partida derradeira foi a Ilha do Retiro, em 2008.

Os anos dos visitantes
1994 e 1999 foram os anos onde quem decidiu fora se deu melhor: nada menos que 10 dos 15 confrontos das oitavas em diante de cada uma dessas temporadas foram vencidos por quem jogou a segunda longe de seu estádio. O Juventude, campeão de 1999, eliminou Corinthians, Bahia, Internacional e Botafogo jogando a primeira no Alfredo Jaconi e a segunda fora. Em 1994, assim como em 2003, todos os confrontos de quartas de final foram vencidos por quem jogou a segunda partida fora de casa. Nunca uma fase de quartas de final classificou todos os mandantes dos jogos de volta.

O Olímpico pesa
Nas 23 vezes em que decidiu no Olímpico das oitavas em diante, o Grêmio se deu bem em 19 delas. O aproveitamento é de impressionantes 82,6%. Quando disputou a segunda partida como visitante, o Grêmio se deu melhor em 12 dos 19 mata-matas que participou nestas condições. Aproveitamento alto, mas bem inferior: 63,2%.

Números gerais
De 1989 até 2011, a Copa do Brasil teve 345 enfrentamentos somando oitavas, quartas, semifinais e finais. Destes mata-matas, 189 foram vencidos por quem jogou a segunda partida em casa, contra 156 classificações de quem decidiu fora. Os triunfos dos mandantes dos jogos de volta representam 53,9%, contra 46,1% dos visitantes.

Em resumo: jogar a segunda partida em casa pesa pouco, e esta vantagem diminui a cada fase. Quanto maior o equilíbrio entre as forças, menos importância há em jogar a segunda partida em casa. Ano passado, aliás, fizemos levantamento semelhante aplicado à Libertadores. O resultado foi muito parecido: se na Copa do Brasil quem joga a segunda em casa leva a melhor em 54% dos mata-matas, na principal competição do continente, de 2000 a 2010, 55% dos mandantes do jogo de volta se classificaram.

Comentários

Vine disse…
Faltou mencionar a mística na Libertadores que o líder geral nunca leva a taça...