Mais uma para a coleção

O Internacional é mais time que o Independiente, é inegável, mas ganhou a Recopa não por causa disso. Foi, principalmente, pelo excepcional centroavante que tem. Não se deixem levar pela impressão de seu apagado segundo tempo: Leandro Damião foi, como tem sido na temporada inteira do Inter, o grande nome desta conquista. Os dois gols que marcou, somados ao que fizera em Avellaneda, foram apenas 3 dos 34 exemplos que ele já deixou nas redes adversárias este ano - e ainda temos mais três meses de futebol...

É preciso, porém, avaliar o todo. E assim chegaremos à fácil de conclusão de que, mesmo superior ao Independiente, o Internacional não mostrou o grande futebol que muitos vão dar a entender que praticou, empolgados pela mais nova conquista rubra. Mesmo que tenha controlado o time argentino durante toda a primeira etapa, as chances de gol não foram tantas assim. E os gols, longe de serem obra coletiva, foram totalmente individuais. Em ambas as jogadas, Leandro Damião recebeu uma bola fria e criou tudo sozinho. Não houve uma supremacia de um time sobre o outro: houve Damião, uma diferença imensa, que somente o melhor centroavante brasileiro (não apenas dos que jogam no Brasil) poderia oferecer.

O time passou a funcionar bem depois dos 2 a 0. D'Alessandro e Oscar entraram mais no jogo, com movimentação e alguns tabelamentos, ainda que menos do que podem e já fizeram. A marcação sim, foi um mérito. Todos, até mesmo Kleber, a faziam. Guiñazu e Elton foram discretos e eficientes. O Independiente, que já não tem um toque de bola dos mais técnicos, era obrigado a apelar para a ligação direta o tempo todo. Se Fredes não tinha espaço para sua qualificada saída de bola, Tuzzio e Maxi Velázquez eram bloqueados pelos lados.

Até que a transmissão televisiva cretinamente (não citaremos nomes, pois, como diria Falcão, não vamos perder tempo com isso) deu a entender que o jogo estava quase morto, que o Inter podia começar a administrar a vantagem. Nunca viram um time argentino na vida, pelo jeito. O Independiente voltou outro para o segundo tempo. Teve 15 minutos de absoluto domínio do jogo. Marcou um gol, ocasionou milagre de Muriel, ganhava os rebotes e as divididas. Mas pecou, e de morte: deixou de matar ali a Recopa. Não é toda hora que se pode dominar o Inter no Beira-Rio. É preciso aproveitar o momento, como fez o Peñarol na Libertadores. Até porque, sabia-se, quanto mais longe fosse o jogo, mais vantagem o Colorado teria na preparação física.

Não deu outra. O declínio físico dos argentinos foi visível a partir da metade do segundo tempo. E o Inter se impôs, como nem no primeiro tempo tinha feito. Andrezinho entrou bem no jogo e, a exemplo de Damião, criou na base da individualidade a jogada que resultou no pênalti em Jô e na cobrança certeira de Kleber. Gol, 3 a 1, pelada a coruja. O chuveirinho argentino não resultaria em nada, por mais que a zaga gaúcha colabore com os ataques adversários.

Leandro Damião, é claro, é o herói do título. Seu futebol lembrou hoje o de Ronaldo. Arrancadas como as do Fenômeno em seu auge; devastou no físico e no drible curto a zaga argentina durante todo o primeiro tempo; fez gol de bico, conclusão inusitada e surpreendente, como naquele Brasil x Turquia de 2002. É um centroavante completo. Com 34 gols, pode superar os 46 de Jardel em 1995, maior marca no futebol gaúcho nos últimos 30 anos. Em 20 jogos, pode conseguir. Como mais 9 gols, supera o fantástico 2010 de Jonas.

O título da Recopa traz perspectiva de melhoras, se o Inter fizer o diagnóstico correto: o time não está pronto e ainda não joga futebol consistente para almejar uma vaga na Libertadores, o que não quer dizer que em 20 jogos não possa conseguir. Mas é fascinante ver a importância que os colorados dão a esta conquista, lotando o Beira-Rio e fazendo muita festa. Um título vale a importância que a torcida dá para ele. Desta vez, a Recopa não soa como um "engana bobo", como em 2007, quando o time ia mal das pernas, venceu o fraco Pachuca e deu uma satisfação ao seu torcedor enquanto o Grêmio chegava embalado às fases finais da Libertadores. Até porque o Independiente, principalmente pelo que representa, dá outro peso à disputa.

Em tempo:
- Será migué ou D'Alessandro realmente não jogará o Gre-Nal? Sua lesão já é o primeiro mistério de Dorival Júnior para o clássico.

Recopa Sul-Americana 2011 - Jogo de volta
24/agosto/2011
INTERNACIONAL 3 x INDEPENDIENTE 1
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Jorge Larrionda (URU)
Público: 39.069
Renda: R$ 1.254.240,00
Gols: Leandro Damião 19 e 25 do 1º; Maxi Velázquez 3 e Kleber (pênalti) 37 do 2º
Cartão amarelo: Maxi Velázquez, Tuzzio, Ferreyra e Fredes
INTERNACIONAL: Muriel (6,5), Nei (5,5), Bolívar (6), Índio (6) e Kleber (6); Elton (6), Guiñazu (5,5), Oscar (6) e D'Alessandro (6) (Andrezinho, 23 do 2º - 6,5); Dellatorre (5,5) (Jô, 26 do 2º - 5,5) e Leandro Damião (8,5). Técnico: Doival Júnior (6)
INDEPENDIENTE: Navarro (3,5), Tuzzio (5), Julián Velázquez (6), Gabriel Milito (4) e Maxi Velázquez (6); Fredes (6) (Nuñez, 40 do 2º - sem nota), Pellerano (5,5), Iván Pérez (4) (Vélez, intervalo - 5,5) e Ferreyra (4,5) (Defederico, 40 do 2º - sem nota); Marco Pérez (5,5) e Parra (5). Técnico: Antonio Mohamed (4,5)


Comentários

vine disse…
Fiquei abismado com o futebol do Milito. Ideal pra consagrar atacante de qualquer quilate. Como Damião é craque, nem precisou de muita força. Sorte do Grêmio não ter trazido o cidadão acima citado.
Vicente Fonseca disse…
Bah. Ele ia fazer esse fiasco domingo agora...
Francinei Bentes disse…
E pensar que o cara chegou DE GRAÇA, e jogava peladas na periferia de São Paulo até praticamente ontem...

Esse caso do Damião só vem mostrar como deve ter muito craque sem oportunidades perdidos nas várzeas brasileiras...