Dos ventos e das tolderias

Marcos Almeida Pfeifer*

Amigos deste prezado e importante espaço cultural e jornalístico do universo da internet.

Era impreterível que eu escrevesse para vocês, de alma leve e serena, por tantos motivos. A vida nos traz provas, exige certos sacrifícios, temos de nos privar muitas vezes do que queremos fazer, para lidar com os compromissos, as responsabilidades. Isto parece coisa de gaúcho de antigamente não?

Sim, mais atrás na historia, os índios charruas e guaranis que habitavam no país do Tape, este Continente de ventos e pajonais, calhandras e ñhanduz, de pumas e quero-queros, de sangas, salsos e coronilhas, de céu e campo formando um horizonte largo, era assim esse pago, antes da chegada dos europeus, na geografia compreendida pelo Bioma Pampa.

Este mês de julho, além do frio austral que tem trazido Sul absoluto ao nosso convívio, mandou ventos das Tolderias de outros tempos. Pra iniciar, nosso amigo Fred Martins entrega uma Monografia das mais bem escritas e estruturadas que já vi em meus anos de ambiente acadêmico. Parece um livro que tu gosta de ler desde o início, e como sanga que corre entre as pedras num fundo de campo, flui a leitura, como a alma se completa frente à natureza.

Trabalho que traz a análise da imprensa gaúcha sobre o episódio do Maracanazo, triunfo da Celeste Olímpica frente ao Brasil, no maior público já registrado na história do futebol. O jogo em que os uruguaios deixaram marcados ao mundo, a consciência, o compromisso e o respeito pelo seu povo, seu país, a hombridade e a garra sendo escritas na história do futebol mundial. Martins relembra esse épico do futebol numa precisão, qualidade e sentimento pelo assunto que trata e desenvolve, talvez incorporando a alma charrua do povo uruguaio.

Não bastasse, nos mesmos 16 de julho, agora no século XXI, neste 2011, o Uruguai triunfa na casa do adversário, derrotando a Argentina, num jogo de gigantes da garra, onde a superação celeste deixou estendido no gramado, Leonel Messi, considerado o maior jogador da atualidade do futebol mundial. Ele próprio não resistiu a parede erguida de pedras mouras com essência do pampa uruguaio para barrar a tentativa de transposição do arsenal de ataque portenho. Além do comando do ataque e cobertura dos flancos e da retaguarda, por parte de Forlán e Luisito Suarez, como verdadeiros combatentes da cavalaria charrua, que marcou a gênese do gaúcho.

Subindo a escadaria da Borges de Medeiros em direção à rua Duque de Caxias, por volta das 23 horas de um domingo de garoa fria e insistente, durante o percurso ao sentir o vento e a chuva, solito na noite, parece que me transportei e minha alma sabe disso, para o pampa nativo, senti que estava em outras dimensões de tempo e espaço, nas primeiras impressões desta minha vida terrena, no interior do campo entre Dom Pedrito e Bagé, e me reconheci, em alma, essência, corpo e espírito. Estes sentimentos são para registrar a importância em participar deste espaço e compartilhar a amizade de vocês, tua Vicente, Natusch, Fred, Zeh, Prestes, Chico, Ponsito e de tantos amigos que a vida me deu a graça de conhecer ao longo desses anos de jornalismo.

Precisava escrever, externar o que sinto, e para mim amigos, essas noites pamperas, de chuva e frio, de ventos que sopram segredos das antigas tolderias, são alvoradas iluminadas de Primaveras.

E que tenhamos a luz necessária para transmitir às novas gerações, este sentimento de compromisso e amor pela terra. Vida é significado, valores e raízes. Pois a planta só se sustenta se tiver raiz. Um abraço a todos!

* Bageense, apresentador do programa Motivos de Campo, da Rádio da Universidade, e autor do blog Enquanto Cevo um Mate e inestimável amigo de tantas jornadas. E fã de Celeste Olímpica, claro.

Comentários

Chico disse…
Belas palavras. Abraço ao camarada Pfeifer.
Igor Natusch disse…
Comovido aqui. Gênio, Pfeifer. És um gênio. Maior que IMESSI (foi o VdeP que disse!)