Cada dia pior

O Grêmio de Julinho Camargo deu a impressão de que poderia evoluir a partir da vitória sobre o Coritiba, há duas semanas. O empate com o Figueirense, semana passada, freou um pouco as expectativas positivas. Ontem, no horrendo 1 a 1 com o fraquíssimo América/MG, em pleno Olímpico, o retrocesso foi ainda maior.

Desde os foguetórios que anunciaram o ano novo, o Grêmio só piora. A saída de Renato Portaluppi e a chegada de Julinho, por enquanto, não alteraram a tendência de queda cada vez maior de rendimento e de organização da equipe. Embora tenha levado apenas três gols em quatro jogos com seu novo técnico, o time segue se defendendo mal. Não tanto culpa da zaga - esta parece realmente estar crescendo aos pouquinhos, apesar dos lances grosseiros de Rafael Marques - mas principalmente porque o time é desorganizado. Está no meio-campo o grande problema gremista: Fábio Rochemback, Gilberto Silva, Douglas e Escudero são bons jogadores. Porém, jogam longe um do outro. Sem compactação, fica mais difícil marcar e criar. O ataque sucumbe por falta de bolas enfiadas, e a defesa sofre a cada ataque adversário.

Como tem sido praxe, o Olímpico não é mais ponto a favor do Grêmio. O América foi mais um time (assim como Vasco e Avaí) que saiu ganhando do tricolor em sua casa, perturbando um ambiente por si só já pesado. A equipe, que até não havia começado mal o jogo, tropeçava em suas próprias pernas. Além do fantasma da bola erguida na área ter voltado depois de alguns jogos de intervalo, problemas individuais ficavam evidentes. Rafael Marques foi muito mal, Saimon não deu certo como lateral-direito, Lúcio manteve a nulidade que foi seu 2011 até aqui, André Lima não participou, Escudero sumiu, a preguiça de Douglas aumentava a cada instante, irritando mais a Azenha toda.

Claro, nem tudo foi ruim. O Grêmio terminou bem o primeiro tempo, e voltou no mesmo ritmo no segundo. Criou várias chances reais de gol, que o fizeram merecer aplausos dos torcedores na ida para o intervalo, mesmo com a derrota parcial. Miralles, das poucas boas figuras da etapa inicial, fazia boa partida. Brigador e inteligente, buscava movimentação e incomodava a zaga, dando opções aos companheiros. A saída de Douglas e a entrada de Leandro deram mais gás ao time por alguns minutos. O empate, primeiro gol de Miralles pelo Grêmio, era mais que merecido.

A virada parecia questão de tempo, mas o próprio Miralles se encarregou de enterrar o Grêmio sendo expulso após carrinho totalmente desnecessário e populista. Eram 26 minutos, e começava a pior fase tricolor na partida: com um a menos, nervoso, o time não conseguia criar perigo para o frágil América. Leandro, que começou bem, errou simplesmente todos os lances que tentou. Marquinhos foi outro que quase nada contribuiu. A incapacidade de buscar a vitória em casa foi o mais preocupante.

Pior que a atuação confusa (acreditem, houve outras piores do Grêmio até mesmo neste Brasileiro), só o resultado. O tricolor conseguiu a "façanha" de perder pontos, dentro do Olímpico, para dois candidatíssimos ao rebaixamento: Avaí e América/MG. A entrevista de Julinho, afirmando que a porta da rua é serventia da casa para os que não estão mais a fim (recado claro para Douglas, que nem no banco sentou-se após ser substituído em sua desinteressada atuação), foi forte. Enfrentar o Flamengo, que deu uma demonstração de força extremamente consistente diante do Santos, e no Rio, só piora um cenário que por si só já é bastante desanimador.

Campeonato Brasileiro 2011 - 12ª rodada
27/julho/2011
GRÊMIO 1 x AMÉRICA/MG 1
Local: Olímpico Monumental, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Péricles Cortez (RJ)
Público: 15.033
Renda: R$ 210.249,50
Gols: Willian Rocha 15 do 1º; Miralles 15 do 2º
Cartão amarelo: André Lima, Carleto, Amaral, Dudu, Caleb, Fábio Júnior e China
Expulsão: Miralles 26 do 2º
GRÊMIO: Victor (5), Saimon (5), Mário Fernandes (6,5), Rafael Marques (4) e Lúcio (4,5); Gilberto Silva (5,5), Fábio Rochemback (5,5), Escudero (4,5) (Marquinhos, 18 do 2º - 5) e Douglas (4,5) (Leandro, 11 do 2º - 3,5); Miralles (5,5) e André Lima (4). Técnico: Julinho Camargo (4)
AMÉRICA/MG: Neneca (6,5), Willian Rocha (6), Micão (6) e Amaral (5,5); Marcos Rocha (5,5), Dudu (6) (Eliandro, 35 do 2º - sem nota), China (5,5), Caleb (5,5) (Rodriguinho, 20 do 2º - 5,5) e Carleto (5) (Gabriel, 13 do 2º - 5,5); Léo (4,5) e Fábio Júnior (4,5). Técnico: Antônio Lopes (5,5)


Comentários

Lique disse…
só lamento o gol perdido pelo escudero no primeiro tempo e o penalti claro nao marcado em cima do leandro. teriam feito justiça no placar. QUE FASE.
Vicente Fonseca disse…
Sim, Lique. Pior que o Grêmio mereceu mais a vitória mesmo. E ainda assim jogou muito pouco. Conclusão óbvia: o América inexiste, o que torna o resultado totalmente péssimo.
juca disse…
O Grêmio tem três jogadores diferenciados, pra não dizer craques: Victor, Mário Fernandes e Gilberto Silva. Tem outros que se acham craques, mas nunca o serão.

Até ontem eu acreditava que o Mário deveria jogar como zagueiro. Não dá, o guri é o único que consegue armar algum ataque, enquanto outros caminham em campo, ele não para de tentar boas jogadas.

A direção tem que dar bronca nos vagabundos, quiçá negociá-los o mais cedo possível. Afasta os vagabundos, sobe umas nabas da base pra repor, contrata uns destaques da B e tenta ficar entre o 8º e o 12º lugar, pois 2011 já acabou.

A direção também faz muita porcaria. Negociou o Viçosa e agora não tem reserva pro Cone Lima. Negociu o Mateus Magro, enquanto o Magrão segue no grupo. Não contratou o Marquinho, que seria titular absoluto, "pra não prejudicar" o Fluminense.

Reitero: 2011 já foi pro saco. Direção incompetente mais jogadores vagabundos não tem como dar certo.
Vicente Fonseca disse…
Cara, o DAVID VILLA seria "cone" num time sem laterais que cheguem à linha de fundo, sem meias que se aproximem e sem um segundo atacante que tabele. O André Lima é o menos culpado de tudo isso.

O Marquinho é um jogador absolutamente comum. Talvez acrescentasse alguma coisa diante dessa penúria toda, mas acho mais válido apostar em guris como Pessali do que nele.

Mas concordo, 2011 foi pro saco. Desde o fiasco na decisão do Gauchão.
Vicente Fonseca disse…
Ah, e concordo também que Mário Fernandes é mais lateral que zagueiro. Mas na atual situação, sem opções pra zaga, fica difícil aproveitá-lo pelo lado.
Paul disse…
Morri no "carrinho populista",jhdsajfhjsdajkf!
Vicente Fonseca disse…
Pois é, fez sucesso no Twitter também, Paul. Foi o meu irmão, Lourenço, que disse que o Miralles foi populista ao dar aquele carrinho, para ganhar a torcida. Na verdade, foi BURRO. O grito do cara do América foi tão forte que deu pra ouvir das sociais, a uns 40 metros de distância.
Rodrigo Cardia disse…
Essa do "carrinho populista"...

Ainda bem que não fui no jogo. Assisti num bar, e assim pude tomar uma cerveja para atenuar o desalento diante daquilo que via.
Rodrigo Cardia disse…
Ops, fui mexer no texto e cortei o que não devia ser cortado na primeira frase:

Essa do carrinho populista foi genial...
Francisco Neto disse…
Vicente, tem coisas no futebol quase inexplicáveis. A "desaprendizagem", p. ex. O lateral Gabriel, desaprendeu a jogar futebol? E o Lúcio? E o Douglas? O A. Lima "desaprendeu a fazer gols? Quando os melhores do time não estão jogando nada, ou não recebem em dia, ou o treinador é muito ruim, ou tem "panelinhas", inveja, falta de comando no vestiário. Abração.
Vicente Fonseca disse…
Ou tudo junto né, Chico?