De (muito) mal para (bem) pior

BOTAFOGO 2 x 1 GRÊMIO

Poucas vezes me senti tão desafortunado por assistir uma partida do Grêmio em toda a minha vida. Após acompanhar um trepidante primeiro tempo de River Plate x Belgrano, era hora de assistir Botafogo x Grêmio - tarefa que, desde o início, desenhava-se como das mais indigestas. Teria sido menos frustrante, se o jogo não tivesse sido tão ruim. Aliás, dizer que foi ruim é ser generoso: foi uma partida tenebrosa, horrenda, daquelas que dá calafrios. Em vários momentos, peguei meu controle-remoto e coloquei de volta no drama do Monumental de Nuñez - e teria feito a troca em definitivo, não carregasse eu os compromissos somados do torcedor e do cronista. Mas foi duro, meus amigos/as. Podem acreditar.

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Renato Portaluppi, mais do que um sujeito boa-praça, deve ser um tremendo piadista com um senso de humor dos mais sádicos. Chamar o 3-6-1 que entrou em campo hoje de esquema é ser demasiado benevolente: tratou-se, como em vários outros momentos de 2011, de um remelexo tático, uma maionese desandada que só serviu para provocar crises de disenteria no torcedor gremista. Gabriel jogava praticamente no meio-campo, onde esteve anteriormente em duas partidas, contra Oriente Petrolero e São Paulo - não por acaso, duas das piores atuações gremistas na temporada. Do outro lado do campo, Lúcio mantinha-se na média atual de suas atuações - que, como sabemos, tende perigosamente ao zero. Willian Magrão e Fernando não se definiam na marcação, enquanto Marquinhos e Douglas batiam cabeça de forma incessante na meia-cancha ofensiva. Toda essa confusão com um alvissareiro objetivo final: abastecer Lins, solitária e gloriosa referência ofensiva deste arremedo de time de futebol. Já prevíamos o fracasso, até porque prevê-lo nada tinha de sobrenatural. E nem preciso dizer que não deu certo: Renato Portaluppi mesmo fez isso em meu lugar, substituindo Marquinhos por Roberson logo aos 22mins em nome do retorno ao 4-4-2. Mexeu rápido porque escalou muitíssimo mal, simples assim.

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Vendo a penúria técnica do Grêmio que encarou o Botafogo, éramos levados a contemplar as opções no banco gremista - apenas para descobrir que lá estavam Escudero, Leandro e Viçosa. Todos muito superiores aos que se arrastavam de forma deplorável na grama rala do Engenhão. Dos três, apenas Leandro entrou em campo, quando o jogo já estava 2 a 0 para o Botafogo. Renato, aparentemente satisfeito com as opções em campo, deu-se ao luxo de declinar de fazer uma substituição. Situação potencializada pela expulsão lamentável de Fernando, que subiu aos profissionais e ainda não demonstrou quase nada do futebol que o fez presença cativa nas seleções de base. De qualquer modo, a crítica é incontornável: apesar das peças não serem as ideias, claro está que dava para ter posto em campo um time mais qualificado. Flertando ora com o bruxismo, ora com a Síndrome de Professor Pardal, Renato anda sacrificando jogadores e escalando times que desafiam explicação - e isso não vem de agora.

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Reforços virão, sabemos disso - a partir da semana que vem, nomes como Miralles e Gilberto Silva já podem, em teoria, fardar com o uniforme tricolor. Mas isso não pode, de forma alguma, ser desculpa para incompetência. E o treinador gremista anda abusando da sorte em uma escala que desafia o bom senso. O Grêmio já está se equilibrando de forma precária na ponta de baixo da Sul-Americana - algo que não justifica manifestações mais alarmistas, mas exige uma rápida retomada de rumo antes que a situação ganhe contornos mais graves. Desculpas, ouviremos muitas - o problema é que elas simplesmente não colam mais. Perder para essa equipe do Botafogo é alarmante - afinal, trata-se de time de tão fraco e carente de recursos quanto o próprio Grêmio, se não ainda mais. E não houve qualquer tipo de superação por parte do alvinegro, pelo contrário: em alguns momentos, a pressão botafoguense era quase caricata, como se a facilidade fosse tão grande que o time se sentia constrangido a tentar alguma coisa no ataque.

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Na coletiva pós-jogo, Renato Portaluppi soltou uma frase tristemente emblemática, qualificando a atual campanha como "muito boa". É obrigação nossa discordar. Boa campanha o diabo, Renato. A campanha é ruim, e a derrota para o Botafogo foi, além de deplorável, daquelas que não oferece consolos de nenhuma ordem, pelo contrário. Os prazos podem não estar escritos, mas claramente estão se esgotando - e a ideia de mudanças radicais no comando já pareceu muito, mas muito mais absurda do que agora.

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Foto: Ivo Gonzalez / O Globo