Goleada pouco convincente

Não sobra muito espaço para críticas quando uma equipe goleia o adversário por 4 a 0, em uma partida de Libertadores. Dando um show de eficiência, o Internacional ganhou do Jaguares com ampla margem e assegurou, no saldo de gol, a liderança de seu grupo na principal competição da América do Sul. Mesmo assim, vaias e xingamentos vieram da torcida colorada em vários momentos da partida, a maior parte delas dirigidas ao treinador Celso Roth. Chatice de torcedor corneteiro? Não exatamente, eu diria. O fato é que, mesmo com o elástico placar, o Inter apresentou alguns problemas e poucas soluções. Venceu, e muito bem, mas não chegou a convencer tanto assim.
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Guiñazu como terceiro homem de meio, caindo para a esquerda, foi uma iniciativa que apresentou pouco resultado prático. Confuso, o argentino jogou muito pouco, sem a força e a movimentação que tornaram-se quase sinônimos de seu estilo de jogo. Não é difícil fazer as contas de quantas triangulações foram feitas pelo lado esquerdo de ataque do Inter - foram, precisamente, zero. A ausência de D'Alessandro foi sentida por aquele lado, já que Guiñazu não foi nem sombra do que seu conterrâneo fez contra o Emelec, apenas para citar o exemplo mais próximo no tempo. O meio-campo colorado, aliás, não jogou realmente bem em momento algum da partida - nem defensivamente, já que deixava o Jaguares ciscar nas cercanias da área sem um combate mais enérgico, e nem ofensivamente, já que o Inter criou pouco durante o jogo. Seus gols vieram quase todos de bola parada, fora o último, de fora da área. OK, a eficiência foi próxima de 100%, e não dá para brigar com os fatos. Mas o murmúrio lamentoso que se pôde ouvir durante a maior parte do jogo mostra que o pouco brilhantismo do meio colorado não foi visto apenas por esse humilde escriba que vos digita.
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Como mérito do Inter, a estrela de Bolatti - que não chegou a encher os olhos em sua função de meio, mas fez dois gols com a eficiência dos maiores artilheiros - e o golaço de Oscar, bucha certeira que talvez ilumine os caminhos do guri que ainda tenta se firmar nos profissionais. O Jaguares, por sua vez, fez o muito pouco que se esperava dele, sem surpresas. Marcou mal, especialmente a bola aérea, sofreu com a falta de qualidade de seu ataque e resumiu suas iniciativas a algumas boas trocas de passe nas laterais do campo. Manso jogou muito pouco, e por aí passou parte da impotência do atual lanterna do campeonato mexicano. Porém, se nunca esteve sequer perto de dar o ritmo do jogo, o Jaguares teve a posse de bola durante boa parte dos 90 minutos - posse estéril, sem dúvida, mas que tampouco pareceu fruto de uma estratégia colorada para o tempo passar ou qualquer outra coisa do tipo.
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Celso Roth sai da partida muito mais seguro do que entrou. A vitória ampla é capaz de calar argumentos, tanto do comentarista que fica sem jeito para fazer as críticas quanto do dirigente que não quer se expor ao desgaste de questionar treinador logo após uma goleada. Soluciona-se portanto, ainda que temporariamente, a tensão que vinha cercando o Beira-Rio. E da melhor forma possível: ganhando de goleada, com eficiência a toda prova, liderando o grupo e vendo a classificação para as oitavas como um desafio bastante fácil de cumprir. Mas a impaciência da torcida colorada (que chegou a explodir em alguns gritos de "burro") não parece ter se dissipado por completo. E quando o Inter voltar a jogar, daqui a longas duas semanas, terá uma torcida ainda desconfiada, esperando uma grande atuação. Digamos que o Internacional ganhou uma folga do torcedor - o voto de confiança, aparentemente, fica para os próximos capítulos.
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Taça Libertadores da América 2011
Fase de grupos
INTERNACIONAL 4 X 0 JAGUARES
Local: Beira-Rio, Porto Alegre
Árbitro: Roberto Silveira (URU)
Auxiliares: William Casavieja e Marcelo Costa (URU)
Público: 26.337 torcedores
Renda: R$ 643.780,00
Gols: Bolatti, aos 19mins e 43mins do primeiro tempo; Leandro Damião, aos 20mins, e Oscar, aos 46mins do segundo tempo
Cartões Amarelos: Zé Roberto, Bolatti, Kleber e Sorondo (INT); Martínez e Cabrera (JAG)
Cartão Vermelho: Rodríguez (JAG)
INTERNACIONAL - Lauro (5,5); Nei (5,5), Índio (5,5), Sorondo (5,5) e Kleber (5,5); Wilson Matias (5), Bolatti (7,5), Guiñazu (5) e Zé Roberto (5) (Andrezinho, 5); Cavenaghi (6,5) (Alecsandro, 5) e Leandro Damião (6,5) (Oscar, 6). Técnico: Celso Roth (5)
JAGUARES - Villalpando (4,5); Martínez (4,5), Fuentes (4,5) (Flores, 5) e Sánchez (5,5); Cabrera (5), Hernández (5), Torres (4) (Salazar, 5), Rodríguez (4), Manso (3,5) (Zamora, 5,5) e Rojas (6); Frías (4,5). Técnico: José Guadalupe Cruz (4,5)

Comentários

Prestes disse…
BOLATTI
Sancho disse…
Vi o jogo assim:

Bollati=Wallyson (dois gols)

Damião=Farías (centro-avante "mongolão" que fez gol de chiripa)

Oscar=Thiago Ribeiro (golaço de fora da área no final do jogo)

Inter e Cruzeiro foram aburdamente muito parecidos.
Vicente Fonseca disse…
Não vi nada do jogo, mas quando soube que o Jaguares é lanterna no Campeonato Mexicano entreguei os pontos. Pegando pelo retrospecto da Libertadores, até parecia um time aceitável.

Incrível a estrela do Bolatti mesmo. Volante-artilheiro.