60 anos depois

Fazia 20 anos que o Uruguai não ganhava uma partida de Copa do Mundo. Já por isso esta noite de 16 de junho de 2010 em Pretória é histórica. Mas foi muito mais do que simplesmente a quebra de um tabu constrangedor para uma seleção bicampeã do mundo: foi uma goleada que deixou a Celeste em situação privilegiada dentro do grupo mais parelho da Copa. Um 3 a 0 construído à base de uma superioridade técnica que os charruas não apresentavam há décadas em um Mundial.

Tabarez foi inteligente na montagem do time. Após a anêmica atuação diante da França, recuou Forlán para ser o meia de ligação de que o time tanto precisou naquele jogo. O cabeludo atuou atrás de Cavani, promovido a titular, e Suarez. Desta vez, o centroavante do Ajax participou bastante da partida. Chamou várias faltas perigosas e foi o protagonista do lance que decidiu de vez o jogo, quando driblou o goleiro Khune e foi por ele derrubado, resultando em pênalti e expulsão do arqueiro sul-africano.

A compactação do time começa pelo recuo de Forlán, mas passa também pelo adiantamento do veloz Álvaro Pereira à meia-cancha, com Fucile guardando a lateral-esquerda e o liberando para jogar. Victorino, eficiente diante dos franceses, saiu do time, e Maxi Pereira foi recuado da ala para a lateral-direita. Por ali, a África do Sul não jogou. Bloqueando as duas laterais, colocando Pérez firme à frente da zaga e liberando os meias para avançar, o Uruguai impediu os donos da casa de jogar e controlou o ritmo das ações quase que o tempo todo. O 3-5-2 que deixou o time sem ligação na partida de abertura foi abolido em nome de um 4-4-2 em losango que funcionou muito bem.

Os gols também surgiram em momentos cruciais. Forlán abriu o placar em sua característica, o chute de longa distância. Naquele momento, a Celeste já era melhor e ameaçava mais que a África do Sul. O 2 a 0, ao contrário, veio num momento de equilíbrio da partida, após um começo de etapa final onde os uruguaios poderiam ter definido a vitória. A cena triste foram os milhares de torcedores deixando o Loftus Versfeld Stadium após o segundo gol. O Uruguai, 60 anos depois, volta a calar um estádio anfitrião em Copa do Mundo. Pretória virou o Rio de Janeiro de 2010.

Parreira faz excelente trabalho, mas não é capaz de milagres. Seus poucos nomes que podem mudar a história dentro de campo não conseguiram jogar. Bem marcado, Pienaar pouco era visto. Tshabalala, destaque atuando pela esquerda contra o México, foi neutralizado pelo sistema defensivo armado por Tabarez, com solidez pelos lados do campo. Pela primeira vez, um anfitrião está dando adeus a uma Copa na primeira fase. A África do Sul precisa torcer por um empate entre México e França, vencer os franceses e esperar que os mexicanos não vençam o Uruguai. E talvez ainda precisem de saldo. É muito para um time tão fraco. Não há vuvuzela que melhore as coisas. Para os sul-africanos, a Copa vai esfriar, o que é uma pena. Todos esperavam passar de fase, o otimismo era grande, mas era sabido que eliminar dois adversários entre México, França e Uruguai não seria nada fácil.

Para os uruguaios, celebrar a maravilhosa vitória é mais que obrigação. Se der México amanhã, um cretino empate entre mexicanos e celestes classifica ambos, atitude questionável do ponto de vista esportivo, mas mais do que corriqueira na história do futebol. Somente um desastre tira a Celeste da Copa antes das oitavas. Com as mexidas de Tabarez, uma defesa muito segura e Forlán comandando as ações de dois perigosos atacantes, a melhor Copa das últimas décadas é muito possível.

Foto: no lance que decidiu o jogo, Suarez sofre pênalti e o goleiro Khune é expulso (Reuters).

Comentários

Prestes disse…
Enfim, um Uruguai com meia-cancha!
Samir disse…
Não se passaram 40 anos da última vitória? Tinha impressão q tinha sido em 1970...

No mais é isso ae, ele soube usar o que tem de melhor: Diego Forlan! Jogou demais, participou mais do jogo, e hj, não sei se pela fraqueza sul-africana ou se por méritos, teve mais parceria.

Sobre a África do Sul.. fez um excelente primeiro jogo, mas parece q foi na base do abaf, motivação. Passado isso o time caiu mto, e não culpemos Parreira. Até acho q ele fez um bom trabalho, dentro do possível.
Vicente Fonseca disse…
A última vitória foi em 1990, contra a Coreia do Sul. Refiro-me ao Maracanazzo, a outra vez em que o Uruguai calou o estádio anfitrião.

Forlán teve mais parceria sim. Havia mais gente para jogar com ele. Contra a França era só o Suárez em meio aos zagueiros, nem o González chegava. Hoje ainda tinha o Cavani e mais Alvaro Pereira e Arévalo Ríos apoiando.
Chico disse…
Quando fizeres uma festa em casa, nunca convide o Uruguay.