Renovação? É o primeiro passo

Muricy Ramalho não resistiu à mais uma eliminação em Libertadores. Foi a quarta consecutiva em sua trajetória pelo São Paulo, todas para clubes brasileiros, as três últimas delas razoavelmente prematuras. Foi informado pela diretoria são-paulina de sua demissão há cerca de duas horas, após a derrota de ontem para o Cruzeiro.

Juvenal Juvêncio e os demais dirigentes que estiveram presentes na reunião com o agora ex-técnico chegaram à conclusão de que era preciso renovar, mudando o comando técnico. O caráter criterioso com que os dirigentes são-paulinos pensam o futebol do clube aumenta a gravidade do episódio. Nos três anos anteriores, o treinador passou por contestações no primeiro semestre, mas o alto escalão o bancou em nome do planejamento, uma confiança inequívoca em sua indubitável capacidade. Mas a quarta eliminação naquela que é a maior ambição do São Paulo acabou sendo mais forte desta vez.

Sou sempre resistente a mudanças de técnico assim, em princípio. Muricy errou muito ontem ao escalar mal seu time e, pasmem, conseguir mexer mal nele (o mais fácil é mexer bem depois de escalar mal). Também é verdade que o tricolor não é nem sombra do que costuma ser desde o início de ano. A eliminação com duas derrotas para o Corinthians no Paulistão, a campanha sempre pouco convincente na Libertadores, o mau início de Brasileirão. Nada tem dado certo em 2009. Algo está mesmo errado, e muito errado. Será o técnico?

O tempo dirá. A questão que se coloca é quem será o substituto de Muricy. Demitir um técnico tricampeão brasileiro exige alguém do mais alto nível para seu lugar, um nome de peso, capaz de reerguer este gigante adormecido. Sobram interessados, mas faltam opções em nível tão alto para os exigentes padrões do clube.

Entendo que a renovação do São Paulo pode passar por trocar o técnico, ainda que, daqui de longe, me parecia mais acertado manter Muricy. Sou antipático a trocas de comando por me darem sempre a impressão de uma atitude impulsiva, simplista e mágica. Mas não é exatamente o caso desta vez: ele teve três anos e meio à frente do clube, bastante tempo para mostrar seu trabalho. Foi muito bem, ganhou títulos importantíssimos, marcou uma era vitoriosa, mas falhou sempre na competição mais desejada. Entendo e respeito a decisão de Juvêncio e companhia, pois deram tempo e colheram os frutos. Agora, alega-se o desgaste, fadiga dos metais, teoria da qual também não gosto, mas ao menos é mais consistente que o pensamento mágico do qual falei antes.

Porém, uma renovação de verdade, se as coisas andam desgastadas como dizem no Morumbi, passa por trazer um articulador realmente confiável, algo que o time não tem desde o desmanche da dupla Danilo e Souza; passa por um novo segundo atacante de muito mais eficiência e menos badalação que a eterna promessa Dagoberto; por um lateral-direito de ofício; por uma mudança deste esquema tático manjado, cheio de improvisações que possam justificá-lo (eis aqui a parcela de culpa de Muricy nessa história); e por uma varredura em jogadores acomodados (Richarlyson) e/ou contratações a peso de ouro que não se justificaram dentro de campo (André Lima, Eduardo Costa), entre outros. Não significa por tudo abaixo, longe disso. Apenas corrigir os erros que emperram o time agora. Aliás, se há um técnico que seria capaz de por a casa em ordem no segundo semestre ele é justamente Muricy. Já fez isso em 2006, 2007 e, especialmente, 2008. Porém, talvez o São Paulo tenha chegado à conclusão de que não queira mais a casa "desarrumada" no primeiro semestre. Não dá para lhe tirar a razão quanto a isso.

É claro que a ausência de Rogério Ceni, muito mais pelo que significa para o clube que pelo que joga, é um fator importante desta crise. Mas um elenco caro, que tem jogadores de nível de seleção, com um centro de treinamento do mais alto gabarito, com salários em dia, não pode depender tanto de um homem que está a poucos anos de encerrar sua carreira como atleta profissional. Talvez a renovação são-paulina tenha de passar por ele também, para que seja uma verdadeira Renovação, assim mesmo, com "r" maiúsculo.

Foto: a última imagem de Muricy como técnico são-paulino (Agência Estado)

Comentários

Anônimo disse…
ok, agora me devolvam o hugo que estamos precisando de um meia esquerda canhoto.
Lourenço disse…
Pode soar meio arrogante e talvez nem seja verdade o que vou dizer, mas acho que às vezes, o técnico depois de um tempo pode começar a se perder nas suas próprias escolhas, pois está tanto tempo no meio do grupo que não pode, como nós, parar para olhar de longe e ver qual o melhor time, esquema. Acho que é o caso do Muricy. O cara vai naquela seqüência, é engolido e quando vê, talvez sem se dar conta, colocou Hernanes, JW e Hugo no banco para colocar Eduardo Costa e Marlos de titular, jogadores sem o mesmo entrosamento, sendo que o último não tinha experiência ou identificação para entrar na fogueira. Sem contar que, quando um jogo de Libertadores apertar e tu precisa de um gol, não tira o Washington.
Mas fora isso, também não concordo, em princípio. Muricy é bom técnico e já reagiu, todas as vezes, a esse período do ano.
Curioso para ver quem vem ai...
Vicente Fonseca disse…
Concordo com tudo o que tu disse, Lourenço. Muricy irá para o Cruzeiro assim que o time mineiro perder a vaga na final da Libertadores.

:)
André Kruse disse…
O Ilgo Wink aposta numa queda do Tite. (acho pouco provável)

teu quarto parágrafo está perfeito.

no mais, comentários do Carta na Manga seguem pautando a grande mídia:
http://www.clicrbs.com.br/jornais/diariogaucho/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=12563&template=&start=1&section=Jogo+Total&source=Busca%2Ca2551961.xml&channel=65&id=&titanterior=&content=&menu=173&themeid=&sectionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual
Vicente Fonseca disse…
Obrigado pelos elogios, André. Pautaremos eles sempre!

Abraço.
natusch disse…
Pessoalmente, acho que era exatamente esse o momento de dispensar o Muricy. A verdade é que o time se tornou refém de um modelo engessado de jogar (um 3-5-2 que geralmente vira um 5-3-2, com pouca criatividade no meio e movido a levantamentos na área) que foi muito eficiente muitas vezes, mas que não servia para conquistar a Libertadores e não tinha variações em momentos decisivos. Ganhava pela regularidade, mas não tinha capacidade de renovação. E tanto estava Muricy refém das próprias idéias que deixou Hernanes no banco para Marlos jogar, e tirou Washington do time para colocar Dagoberto, quando os dois ao mesmo tempo poderia ter sido muito mais eficiente. E Ricardo Gomes é um bom nome para substituí-lo - pouca cancha, mas sempre gostei do que pude ver do trabalho dele.