No duelo de vizinhos, Muricy pagará o churrasco

Mano Menezes surpreendeu domingo passado ao colocar três atacantes, e seu time manteve o equilíbrio. A diferença é que Muricy Ramalho tentou inovar de modo semelhante hoje, mas pecou pelo excesso. Seu 3-4-3 nunca esteve bem caracterizado em campo, sua equipe nunca demonstrou o equilíbrio do adversário. E foi assim, na vitória tática de Mano sobre Muricy, na maior organização corintiana e na estrela fantástica de Ronaldo que o tricolor deixou a disputa pelo título paulista em favor do Timão.

Passou muito pelo meio-campo o resultado do clássico de hoje à tarde. Talvez o objetivo de Muricy em fixar Dagoberto como ponta-direita era neutralizar os avanços de André Santos, e nisso sua estratégia foi razoavelmente bem sucedida. Mas houve poréns. Júnior César, como meia, nunca encontrou seu lugar em campo. Tinha posicionamento de meia e agia como lateral, sem qualquer convicção. O São Paulo teve a iniciativa no primeiro tempo inteiro, mas o número parelho de oportunidades de gol (poucas, é verdade) já dá a ideia de que não houve domínio tricolor. Para piorar, alguns jogadores estavam em jornada individual infeliz. Washington foi o pior deles: esteve transtornado desde os primeiros minutos, mais preocupado em reclamar de tudo que de jogar bola. O Corinthians, ao contrário, tinha meio. Jorge Henrique reviveu os tempos de Santa Cruz e se transformava em meia que marcava quando o time não tinha a bola.

No segundo tempo, com a pressão de ter de marcar seu gol para reverter a desvantagem do jogo de ida, o São Paulo começou a conceder mais espaços para os contra-golpes corintianos. O domínio alvinegro do meio ficou mais evidente. Em duas escapadas, aos 10 e 12 minutos, saíram os dois gols. Ambas com participação de Ronaldo, num dando passe a Douglas, noutro completando lançamento genial de Cristian. Nos 35 minutos restantes, o São Paulo deu um show de desânimo, o Corinthians de maturidade, e a torcida são-paulina, no finzinho, de amor ao clube: cantou o hino com orgulho, como raramente se vê.

Muricy, tendo o banco que tem, só colocou na fogueira o guri Wellington, volante, no posto de Dagoberto, tentando evitar fiasco maior. É muito pouco. Mano Menezes, mesmo sem tanto material humano, tratou de preservar seus melhores jogadores colocando peças que funcionaram bem e não deixaram a qualidade do time baixar. Exemplo: sai André Santos, entra Diego, jovem zagueiro improvisado na lateral, que ganhou todas. A semifinal do Morumbi foi decidida muito em função dos dois amigos de prédio dos tempos de Porto Alegre. No duelo de hoje entre estes grandes treinadores, Mano levou a melhor, de longe.

Campeonato Paulista 2009 - Semifinais - Jogo de volta
19/abril/2009
SÃO PAULO 0 x CORINTHIANS 2
Local: Morumbi, São Paulo (SP)
Árbitro: Wilson Luiz Seneme
Público: 45.710
Renda: não divulgada
Gols: Douglas 10 e Ronaldo 12 do 2º
Cartão amarelo: Washington, Dagoberto, André Santos, Cristian e Dentinho
Expulsão: Rodrigo 38 do 2º
SÃO PAULO: Bosco (5), Renato Silva (4,5), Rodrigo (4) e Miranda (5); Jean (5), Hernanes (4,5), Jorge Wagner (5) e Júnior César (4); Dagoberto (4,5) (Wellington, 24 do 2º - 5), Washington (3,5) e Borges (4,5). Técnico: Muricy Ramalho (4)
CORINTHIANS: Felipe (7), Alessandro (6,5), Chicão (7), William (5,5) e André Santos (6) (Diego, 17 do 2º - 6,5); Cristian (7), Elias (6) e Douglas (7,5); Jorge Henrique (6,5), Ronaldo (7) (Boquita, 27 do 2º - 5) e Dentinho (6) (Morais, 41 do 2º - sem nota). Técnico: Mano Menezes (8)

Foto: Marcelo Pereira/Terra

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