E se...

...o Campeonato Brasileiro fosse como o Argentino, com rebaixamento por média de pontos dos anos anteriores?

Alguns diazinhos vivendo e respirando o ar praiano ajudam a oxigenar o cérebro e pensar em curiosidades, em responder a perguntas inusitadas como a acima. Explico, então, os critérios utilizados para chegar às conclusões que tirei.

1) Minha pesquisa englobará tão somente o período em que o Brasileirão é disputado por pontos corridos, ou seja: desde 2003. No ano de 2003, a média levará em conta apenas aquele ano; em 2004, serão considerados 2003 e 2004 para fazer o cálculo.

2) De 2004 para 2005 e de 2005 para 2006, o número de clubes dimuinuiu, respectivamente, de 24 para 22 e de 22 para 20 clubes. Para tanto, foi feita uma ponderação, para que o número de pontos fosse relativizado e tornado-se equivalente. Exemplo: o Inter fez 67 pontos em 2004, em 46 jogos. Para o cálculo de 2005, campeonato de 42 jogos, a pontuação colorada de 2004 ficou em 61,17. Para 2006, campeonato de 38 jogos, ficou em 55,35 pontos. Manteve-se o aproveitamento, que foi multiplicado pelo número de pontos disputados no ano em questão para chegarmos a este número.

3) Claro, os resultados finais são diferentes daqueles que ocorreram na realidade, pois nem sempre os quatro últimos de um campeonato cairiam, em função de suas médias dos últimos três anos. Por isso, alguns clubes não disputariam o campeonato seguinte, mas lá estavam no cálculo, por terem jogado de fato. Este exercício tem pro objetivo apenas trazer uma curiosidade, e não tem como levar em conta estas diferenças.

Vejam então quem cairia em cada ano, e um quadro comparativo com quem realmente caiu. Abaixo, algumas conclusões possíveis. Quero as de vocês também.

2003
Rebaixados por pontos: Fortaleza e Bahia
Rebaixados pelo promedio: Fortaleza e Bahia
Comentário: primeiro ano de adoção dos pontos corridos, onde apenas dois caíam à Série B. Como seria o primeiro ano da adoção da média de pontos, o resultado só poderia ser igual.

2004
Rebaixados por pontos: Criciúma, Guarani, Vitória e Grêmio
Rebaixados pelo promedio: Paysandu, Vitória, Botafogo e Grêmio
Comentário: já aqui as primeiras diferenças aparecem. O Criciúma e o Guarani se salvariam pelas campanhas razoáveis de 2003. O Vitória, que já foi piorzinho, sucumbiria diante do péssimo 2004. O Paysandu cairia pelo mau 2003, já que em 2004 foi mediano. O Botafogo, ausente em 2003, cairia pelo 20º lugar de 2004. O Grêmio, muito mal em 2003 e lanterna em 2004, teve disparado a pior média, com menos de 1 ponto por jogo.

2005
Rebaixados por pontos: Coritiba, Atlético-MG, Paysandu e Brasiliense
Rebaixados pelo promedio: Vasco, Fortaleza, Paysandu e Brasiliense
Comentário: vejam que o Vasco não correu grandes riscos em nenhum dos três anos (17º, 16º e 12º), mas cairia por sempre fazer campeonatos pobres. Foi uma tendência confirmada só em 2008. O Fortaleza ainda sofreu pela média de 2003, já que em 2004 disputou a Série B e em 2005 não foi bem o suficiente para suplantar os males de dois anos antes. Coritiba e Atlético-MG se safariam pelos bons desempenhos de 2003.

2006
Rebaixados por pontos: Ponte Preta, Fortaleza, São Caetano e Santa Cruz
Rebaixados pelo promedio: Ponte Preta, Fortaleza, São Caetano e Santa Cruz
Comentário: finalmente, resultados iguais. Ponte Preta e São Caetano já vinham fazendo campeonatos ruins e só confirmaram a queda. O Fortaleza, mesmo livre da média de 2003, fez um campeonto ainda pior em 2006. O Santa foi o fiasco do ano, até então pior lanterna da história dos pontos corridos. O Grêmio, que tinha a média de 2004 ainda valendo, entraria no campeonato precisando de cerca de 50% para se safar, pressionadíssimo. Fez 58% e fechou com a 14ª média entre os 20 participantes. Em 2007, livre do fiasco de 2004, entraria mais tranquilo.

2007
Rebaixados por pontos: Corinthians, Juventude, Paraná e América-RN
Rebaixados pelo promedio: Náutico, Atlético-MG, Juventude e América-RN
Comentário: o fiasco não faria nem cócegas ao Corinthians. Campeão de 2005 e 9º em 2006, fecharia o ano com a 5ª melhor média de pontos. O Paraná também se safaria pelo 7º e 5º lugar nas últimas duas temporadas. O Náutico, estreante no sistema, cairia por pouco, ficando menos de meio décimo atrás do rival Sport. O América-RN, pior time da história dos pontos corridos, fez menos de meio ponto por partida. O Galo, por 2005, sofreria aqui, e não naquele ano, a sua queda.

2008
Rebaixados por pontos: Figueirense, Vasco, Portuguesa e Ipatinga
Rebaixados pelo promedio: Atlético-PR, Náutico, Portuguesa e Ipatinga
Comentário: o ano de 2006 salvaria Vasco e Figueirense. O Náutico, com dois anos de quase rebaixamento, também abotoaria o paletó de madeira. Lusa e Ipatinga, estreantes e lanternas, também sucumbiriam.

Perspectivas 2009: São Paulo já livre, o Grêmio precisaria de míseros 2 pontos para escapar. O Internacional, com apenas 24, deveria se garantir para 2010. Atlético-PR, Goiás, Náutico e Corinthians começam ameaçados, além dos estreantes Avaí, Barueri e Santo André.

Conclusões: os casos de Atlético-MG, Vasco, Paysandu e Fortaleza deixam claro, de um modo de outro, que as tendências de queda de rendimento dos clubes acabam sendo punidas, mais cedo ou mais tarde. Portanto, equipes como Atlético-PR e Náutico, que ainda não foram rebaixadas, precisam urgentemente rever alguns conceitos se quiserem permanecer entre os grandes. E cresce um pouco aquele chavão recente de que cair faz bem a quem cai no longo prazo. Imaginem se o Corinthians tivesse permanecido pela média de pontos no Brasileirão de 2008 e tapado o sol com a peneira, deixando de lado seus inúmeros problemas em vez de promover esta revolução em seu elenco e comissão técnica? Provavelmente não teria o bom time que tem hoje para começar a temporada de 2009.

Em tempo:
- Voltamos segunda-feira.

Comentários

Saulo disse…
Muito bom essa análise.
Que o Atlético-PR e o Náutico se cuidem.

EU CANTAREI POR TI, MESMO QUE A VOZ ME DOA!
saulobotafogo.blogspot.com
Anônimo disse…
Já que os pontos corridos prezam a regularidade, essa lógica seria bem lógica.

Só imagino que deve ser um saco calcular, nas últimas rodadas, quem pode ou não cair.
Anônimo disse…
Legal o exercício. Mas, fiquei com uma dúvida: quando um time cai e volta, não é só o ano da volta que é contado, apagando-se o ano em que caiu? Não sei, sempre achei que fosse assim. Como no caso do Fortaleza, que caiu em 2005 por causa de 2003, sendo que ele já tinha sido rebaixado uma vez por causa de 2003.
Vicente Fonseca disse…
Conta-se sim, Lourenço. São os pontos do time nos últimos três anos de disputa dividido pelo número de jogos, mesmo que haja uma interrupção no meio. Em 2006, para o Grêmio, contaria-se 2004.
Anônimo disse…
Quando um rasileiro desavisado vai explicar o mecanismo do Promedio argentino ele fatalmente diz que "é pra proteger os grandes".

Não sei se teu estudo chega a alguma conclusão neste sentido.
Vicente Fonseca disse…
A conclusão a que cheguei é que mesmo com promedio os clubes grandes caem. Tanto que Grêmio, Coritiba, Atlético-MG, Vasco, Bahia e Guarani, só para citar os campeões brasiileiros que caíram de 2003 para cá, cairiam também pelo promedio. E se o Corinthians não cairia em 2007, o Botafogo teria caído em 2004. Ao menos no Brasil, nestes últimos seis anos, o promedio não protegeria os grandes e tornaria este chavão falso.
Anônimo disse…
Um exemplo que eu uso é o Flamengo no início da década. Quase caiu em 2001 e 2002. Jogaria com a corda no pescoço em 2003.

Sem contar que o Promedio torna mais dificil um time nao ter mais nenhum interesse no campeonato. Na pior das hipoteses vai estar brigando para minimizar riscos na proxima temporada.
Vicente Fonseca disse…
Claro, tem esse lado do desinteresse também, ainda que com este monte de vagas pra Libertadores e Sul-Americana seja difícil alguém não ter pelo que brigar. Eu não condeno o sistema argentino, mas ainda prefiro o que é utilizado aqui e em toda a Europa. Talvez poderiam cair apenas três clubes. Por exemplo, o 19º e o 20º sejam rebaixados direto, enquanto o 18º joga um mata-mata contra o 3º da Série B. Algo assim.
Anônimo disse…
O sistema que tu sugeres é o que mais me parece interessante, Vicente. Acho que o que vou dizer vai soar estranho: o promedio não combina com pontos corridos. Para mim, só é interessante somar campeonatos e fazer uma média histórica para evitar que clubes caiam depois de jogarem apenas 20, 15 ou até 10 jogos. Agora, em um campeonato que tem todos contra todos, turno e returno, já se tem uma amostragem suficiente para rebaixar um clube.
Vicente Fonseca disse…
"Para mim, só é interessante somar campeonatos e fazer uma média histórica para evitar que clubes caiam depois de jogarem apenas 20, 15 ou até 10 jogos. Agora, em um campeonato que tem todos contra todos, turno e returno, já se tem uma amostragem suficiente para rebaixar um clube."

Nunca parei para pensar, mas talvez seja por isso que eu era favorável ao promedio em 1999 (quando ele foi criado e por causa daquela falcatrua toda envolvendo Gama e Sandro Hiroshi não deu certo), e agora eu seja contrário.
Anônimo disse…
No mais, gostaria de dizer que não concordo com esse sistema que eu te perguntei antes, de não apagar o ano anterior se o clube já foi rebaixado. Os clubes que sobem sempre deveriam zerar sua média. Olhando o caso do América-RN, por exemplo, seria melhor ele esperar mais um ano na Série B para apagar 2007 do que entrar em 2009 já praticamente rebaixado. Na verdade, é melhor tu sempre ter sido da Série B, do que ter ido mal na A e estar de volta, o que é incoerente.
luís felipe disse…
o post é maravilhoso, mas eu considero o promedio uma tremenda aberração. Os próprios argentinos dizem que "é para proteger os grandes", mas alguns mais sensatos afirmam que é para diminuir os danos, já que lá os campeonatos são de apenas seis meses.

considero aberração por que torna o campeonato muito confuso, exigindo cálculos que deveriam ser totalmente desnecessários. A única mudança que eu faria no rebaixamento, copiando Argentina e Itália, é a instituição da "promoción". 17º X 4º colocado da segunda divisão, 18º X 3º colocado da segunda divisão.
Vicente Fonseca disse…
Obrigado pelos elogios, Luís. Concordamos em tudo, então. Também me agrada a "promoción".